A abertura oficial do processo diocesano de beatificação de Igino Giordani, com o início dos trabalhos do tribunal eclesiástico, será domingo, dia 6 de junho, às 20 horas, na Catedral de São Pedro, em Frascati.

Às 19 horas, o bispo Dom Giuseppe Matarrese presidirá a Santa Missa, e logo após, Chiara Lubich fará um breve discurso.

A causa de beatificação foi promovida em dezembro de 2000, por iniciativa de Dom Pietro Garlato, na época, bispo de Tivoli, cidade natal de Igino Giordani, e por Dom Giuseppe Matarrese, bispo de Frascati, diocese onde Giordani concluiu a sua vida terrena.

Quem era IGINO GIORDANI

Igino Giordani. Escritor, jornalista, político, ecumenista e patrólogo, foi uma das figuras mais representativas do século passado, uma personalidade poliedrica, que deixou profundas marcas e abriu perspectivas proféticas a nível cultural, político, eclesial, e social.

Nasceu em 1894, em Tivoli, foi o primeiro dos seis filhos de Orsolina e Mariano, que era um pedreiro. Começou os estudos com a ajuda de um benfeitor. Em 1915, foi chamado pelo exército na 1a. guerra mundial. Como oficial nas trincheiras, confessou, mais tarde, de nunca ter querido disparar contra o inimigo, e mereceu assim mesmo a medalha de prata pelo heroísmo e generosidade, juntamente com feridas que o afligiriam durante toda a vida. Formou-me em Letras e se dedicou ao ensino em Roma; casou-se com Mya Salvati, tecendo uma história de amor sempre mais delicada e forte, da qual nasceram quatro filhos: Mario, Sergio, Brando e Bonizza.

Na década de 20 começa o seu engajamento político

Conheceu Dom Sturzo, que o escolheu como responsável do jornal do recém-criado Partido Popular. Piero Gobetti publicou o seu livro Revolta Católica, definindo-o “síntese de um novo pensamento católico”. Fundou o periódico Parte Guelfa. E já nos anos 1924 e 1925, elaborou e difundiu idéias sobre a “União das Igrejas” e sobre “Países Unidos da Europa”.

Por motivos políticos, abandonou a escola pública e em 1927 encontrou trabalho na biblioteca do Vaticano, onde conseguiu que fosse empregado também Alcides De Gasperi, que tinha acabado de sair da prisões fascistas. Tornou-se o diretor de Fides, a revista da “Pontifícia Obra para a preservação da Fé”. Colaborou também com o periódico Il Frontespizio de Piero Bargellini, estreitando relacionamentos com o vivaz movimento literário fiorentino.

Em 1944, dirigiu Il Quotidiano, o novo jornal da Ação Católica do pós-guerra; em seguida aconteceu o mesmo com Gonella, na direção do Il Popolo.

Em 2 de junho de 1946, foi eleito deputado e começou a fazer parte daqueles“pais constituintes” que puseram os fundamentos ideais da República italiana. Foi reeleito ainda em 1948, e em 1950, se tornou membro do Conselho dos povos da Europa, em Estrasburgo.

Em síntese, Giordani foi um político militante não por ambição, mas por amor e serviço à comunidade nos momentos difíceis. Na década de 20, lutou com coragem pela liberdade, enfrentando a ditadura. Devido às fortes conotações éticas do seu engajamento político, foi marginalizado pelo regime: foi um período de inteligente, contínua resistência cultural, no qual exalta em seus livros os valores da liberdade e de uma nova ordem.

O período de 1948 a 1953 foi o mais criativo e vivaz, com iniciativas audazes e proféticas pela paz entre as classes e entre os povos, e com um timbre muito original: a famosa ‘ingenuidade’ – como ele a chamava – que o levou a posições não muito confortáveis, como a objeção de consciência, a sua rejeição aos gastos militares, a sua oposição a enquadrar os comunistas … Uma ‘ingenuidade’ que logo o coloca fora do jogo (não foi reeleito em 1953), mas que hoje faz com que o descobramos como (são palavras do historiador De Rosa) “um político da anti-política, não feito para todas as estações, não disponível às razões do poder pelo poder”.

Como escritor, publicou mais de 100 obras (uma média de quase duas por ano), traduzidas nas principais línguas, sem contar com os ensaios, os opúsculos, os artigos (mais de 4 mil), as cartas, os discursos.

Exemplar experiência cristã

Entre os sofrimentos do hospital militar, com 22 anos, adverte um primeiro chamado à santidade, reforçado pelos escritos de Catarina de Sena. Tornou-se um terciário domenicano por amor a ela, “a primeira – dizia – que me incendiou do amor de Deus”. Como cristão, viveu com espírito evangélico toda atividade terrena, vendo-as sempre como uma vocação. Os seus escritos mais importantes – de contínua atualidade – nasceram de um profundo conhecimento da história do cristianismo e dos Padres da Igreja, de onde partiu a sua sólida formação teológica e espiritual que o distinguia. Colocou-a a serviço, através de uma fecunda atividade de revitalização cristã da cultura e de formação espiritual dos leigos e também dos sacerdotes e religiosos.

Precursor do diálogo ecumênico, Na década de 30, antecipou as linhas do Concílio Vaticano II. Estudou, traduziu, explicou os Padres da Igreja do primeiro cristianismo, nos anos nos quais eram quase esquecidos. Deles extraiu aquela “Mensagem social do cristianismo” que é uma de suas obras mais conhecidas. Identificou-se tanto com eles que, Italo Alighiero Chiusano o definiu como “algum antigo Padre da Igreja, ao qual Deus deu o privilégio de ressurgir e de estar hoje no nosso meio”.

Em direção à santidade

Mas, o acontecimento que elevou ainda mais a sua vida pelos caminhos luminosos e exigentes da santidade, foi em setembro de 1948, o encontro com Chiara Lubich.

Pode-se afirmar que iniciou para ele uma nova experiência que o envolveu completamente, uma união espiritual singular devido a sua humildade, transparência, unidade. Mais tarde diria: “todos os meus estudos, os meus ideais, os acontecimentos de minha vida me pareciam direcionados a esta meta… Poderia dizer que, antes eu estava buscando, e que agora tinha encontrado”.

Fascinado pelo radicalismo evangélico da “espiritualidade de comunhão” anunciada e vivida por ela, vê nesta a possibilidade da realização do sonho dos Padres da Igreja: escancarar as portas dos mosteiros para que a santidade não seja privilégio de poucos, mas um fenômeno de massa do povo cristão. Aderiu, portanto, com toda a mente e o coração ao Movimento dos Focolares, no qual, é chamado de “Foco”, pelo amor que testemunha e difunde. Mais ainda, o seu sim tornou-se instrumento providencial para que a fundadora dos Focolares tivesse compreensões mais profundas do próprio carisma.

Giordani parece quase afastar-se gradualmente do cenário cultural e político, no qual havia se afirmado, para rever tudo num plano sobrenatural. No “fazer-se pequeno” diante do amor totalitário daqueles chamados à virgindade, abre-se a ele, justamente “no amor sem medida”, um caminho de comunhão com eles. Puro de coração e com a alma dilatada para a humanidade, abriu, assim, a estrada a uma multidão de pessoas casadas do mundo inteiro, chamados a esta nova consagração. E atrás deles, nasceram movimentos de massa para as famílias e para a revitalização evangélica das várias atividades humanas. Tornou-se assim um dos mais maiores colaboradores de Chiara Lubich, que o considera “co-fundador” do Movimento dos Focolares.

Nos caminhos da mística

No focolare, Giordani realizou com a alma uma viagem mais alta, nos caminhos da mística, onde as provações espirituais, as incompreensões e as humilhações das progressivas marginalizações, os sofrimentos físicos, se atenuam diante da experiência quotidiana da presença de Cristo “entre dois ou mais” unidos no seu nome, e do mistério do amor de um Deus crucificado e abandonado. Recebe do Céu as graças de experiências extraordinárias de união com Deus e com Maria, e também as provações da “noite escura” do espírito, que o Senhor reserva a quem Ele mais ama. A sua viagem se tornou assim um vôo em Deus, que se concluiu na noite de 18 de abril de 1980. O seu corpo repousa no cemitério de Rocca di Papa (Roma).

Definir Giordani com uma palavra?

Muitas pessoas, até mesmo intelectuais exigentes, o definiram “um profeta”.

Para Chiara Lubich, é “o homem das bem-aventuranças”, e revela a sua dimensão incomum quando o define “alma-humanidade”.

Para Tommaso Sorgi, um estudioso de Giordani, ele é um “enamorado de Deus e do homem”.

Nedo Pozzi

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