“No fundo da atual crise contemporânea age uma potente exigência de unificação”. Com estas palavras proféticas, de 1954, Igino Giordani aponta para o exercício quotidiano do amor recíproco como caminho principal para a reconstrução do tecido social.

«Há uma questão social a resolver, porque há uma questão de caridade a pôr em prática. E a caridade é o sentimento pelo qual no homem se vê o irmão; no homem se vê Deus, como imagem: quase um homem-Deus místico, elevado pela redenção.

Fala-se de que o povo abandona a Igreja, mas isso pode ser conseqüência da caridade que não se atuou, da fraternidade que ficou no missal, da imagem de Deus obscurecida por um ateísmo prático. Onde falta o amor é preciso perguntar-se se foi o povo que abandonou as igrejas ou se foram as igrejas que abandonaram o povo.

Digo igrejas e não a Igreja, a qual é essa mesma o povo – o povo de Deus – e não pode abandonar a si mesma. Se alguns pobres se afastaram, a Igreja não pode afastar-se de si mesma, povo de pobres, do qual também os ricos fazem parte, se se tornam pobres de espírito, usando a riqueza como um ministério de caridade.

Por vezes, quando os cristãos se esqueceram do próximo, recolhendo a fé no sarcófago do seu próprio eu, desligada das obras e assim asfixiada, os irmãos mais fracos, sem sentir a caridade, perderam o sentido de Deus, que é caridade, e que ama encarnar esta caridade, nas obras dos homens, feitos para o seu serviço social arautos e portadores de Deus. «Tens a caridade, tens a Trindade”, dizia o grande S. Agostinho.

Onde os irmãos não se amaram, o tecido social gastou-se, e aqueles desligaram-se».

I.Giordani, Il Fratello, 1954

O volume “Il Fratello”, donde escolhemos esta página, vai ser reimpresso na coleção “Opere Vive” da editora italiana Città Nuova

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