“Quando cheguei em Recife,
no dia 15 de novembro de 1959,
foi um choque, para mim,
ver a desigualdade social,
esta divisão entre ricos e pobres,
esta discriminação,
esta fome que se lia no rosto de todos, esta miséria, esta insensibilidade
por parte dos ricos em relação aos pobres.
E disse a mim mesma: Aqui não é possível ficar passivo.
Alguma coisa deve mudar.
O que deve mudar?
O homem.
Pensei: são necessários homens novos
para que nasçam estruturas novas,
e conseqüentemente, cidades novas,
um povo novo”.
Extraído de uma entrevista a RAI           
 
Naquele dia 10 de março, o último adeus a Ginetta é “uma festa”, “festa do céu na terra”, como testemunha Lia Brunet, que com ela viveu a aventura dos primeiros tempos do Movimento, junto com Chiara. “Desde a manhã desfila um mar de pessoas, um ‘povo’ de todas as vocações: desde bispos até crianças; todas as categorias sociais: dos agricultores aos deputados, dos empresários aos jornalistas”.
 
E tudo aconteceu numa ‘cidade nova’, a Mariápolis Araceli, coração do vasto Movimento que se desenvolveu em todo o Brasil: uma cidadezinha com casas, escolas, um pólo empresarial, onde se procura anular a distância entre ricos e pobres. “Nasceu num terreno – como conta a própria Ginetta – onde existia somente uma casa de pau-a-pique, sem água e sem luz elétrica, longe de tudo.
 
Mas, a certeza – como lhe havia sugerido Chiara – de que ali deveria surgir esta cidade, nos deu a coragem de seguir em frente, dia após dia, com a ajuda extraordinária da Providência de Deus, que chegava sempre no momento certo, fazendo-nos experimentar a sua paternidade”.

Quem visita a Mariápolis Araceli – como aquele jornalista da RAI que entrevistou Ginetta – tem a impressão de que aquela cidadezinha seja um sinal profético de uma futura cidade.
E Ginetta confirma isto sem hesitação:
Acredito nisso, não tenho dúvidas. Vejo como aqueles que vêm aqui – e são muitos os que vêm nos visitar – ficam impressionados e comentam: “Assim deveria ser o mundo. Se esta vida se espalhasse, desmoronariam todas as barreiras, as divisões, os conflitos.
“Aqui existe a felicidade. Pensávamos que a felicidade não existisse. No momento em que tínhamos perdido a esperança, a encontramos. Aqui existe esperança para todos”.

Desde o primeiro momento, logo que chegamos ao Brasil, sentimos claramente que somente Deus poderia resolver os problemas sociais.
Quando a sua Palavra tiver transformado o coração dos homens – dos ricos, dos governantes, de todos. Isto porque, tirar de onde sobra e colocar onde falta, somente Ele poderia fazer. Somente Deus!
Não um Deus abstrato, relegado aos céus, mas aquele que aprendemos a ‘gerar’ entre nós, vivendo as palavras de Jesus: “”Onde dois ou mais estão unidos em meu nome, Eu estou no meio deles” (Mt. 18,20).
Então, o nosso empenho é testemunhar Deus, presente numa comunidade de pessoas prontas a dar a vida umas pelas outras. Ele haveria de nos ensinar o caminho.

Entre o coro de mensagens e telegramas enviados por personalidades civis e religiosas de todo o país pelo falecimento de Ginetta, o vice-presidente da República, Marco Maciel, recorda como ela, em 1959, deu início a um Movimento que hoje incorpora cerca de 250 mil pessoas em todo o território nacional:
“Não poderia deixar de registrar neste momento, o meu testemunho em relação a esse trabalho admirável de fraternidade e amor ao próximo, cujos resultados, no campo social, trouxeram tantos benefícios à população mais carente de nosso país”.

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