20140928-01
Foto: Antonio Oddi

«Abrindo a Sagrada Escritura e lendo no Antigo Testamento a descrição que Deus faz de alguns animais, percebemos que poeta algum ou pintor conseguiu cantá-los ou pintá-los de modo tão vivo e esplêndido.

Era preciso o olho de Quem os criou para inspirar tais descrições majestosas. O nosso talvez não esteja educado para ver o belo, ou só vê o belo de um certo setor da vida humana, e da natureza, porque não educamos a alma.

Mas, aos olhos de Deus, o que será mais bonito? A criança que te fita com olhinhos inocentes, tão semelhantes à límpida natureza e tão vivos, ou a jovem que resplandece como o viço de uma flor recém-desabrochada, ou o ancião encarquilhado e encanecido, já alquebrado, quase inapto a tudo, talvez tão-somente à espera da morte?

O grão de trigo, tão promissor, quando, tênue mais do que um fio de erva, agarrado aos grãos irmãos, envolvendo e compondo a espiga, espera amadurecer e desvincular-se, só e independente, na mão do agricultor ou no seio da terra, é belo e cheio de esperança!

Mas é igualmente belo quando, já maduro, é escolhido entre os outros, por ser melhor, para, enterrado, dar vida a outras espigas, ele que, a esta altura, traz a vida. É belo, é o eleito para as futuras gerações das messes.

Mas, quando enterrado, emurchecendo, reduz o seu ser a pouca coisa, mais concentrada, e lentamente morre apodrecendo, para dar vida a uma plantinha, diferente dele, mas que dele contém a vida, talvez seja mais belo ainda.
Belezas diversas.
Contudo, uma ainda mais bela do que a outra.
E a última, a mais bela.

Deus verá assim as coisas?
Aquelas rugas que sulcam a fronte da velhinha; aquele caminhar recurvo e tremulante, aquelas poucas palavras, densas de experiência e sabedoria; aquele doce olhar de menina e mulher ao mesmo tempo, porém mais bondoso que de uma e de outra, é uma beleza que nós não conhecemos.

É o grão de trigo que, apagando-se, está prestes a se acender para uma nova vida, diversa da de antes, em novos céus.

Penso que assim Deus veja as coisas, e que o avizinhar-se do Céu seja de longe mais atraente do que as várias etapas do longo caminho da vida que, no fundo, só serve para abrir aquela porta».

Do livro – Chiara Lubich, Ideal e Luz Pensamento, espiritualidade, mundo unido. Editoras Cidade Nova e Brasiliense – São Paulo, 2003, Pág. 207-208

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