«A nação está vivendo momentos muito difíceis. Um batalhão de policiais, enviado para prender duas pessoas suspeitas de terrorismo, foi abordado por combatentes da Frente Nacional de Libertação Islâmica e 44 deles foram mortos. O Parlamento estava deliberando justamente o novo tratado de paz entre o governo e os muçulmanos de Mindanao, com amplas concessões em muitas questões. Agora tudo está parado. Ontem apareceu na rede o vídeo de um policial ferido e depois golpeado repetidamente até a morte por um militante da Frente. Pode-se imaginar a indignação do povo!». Assim escrevem Carlo e Ding, de Manila.
Oscar trabalha no Escritório de Comunicações do governo e, portanto, devia escrever sobre o fato. Uma tarefa não fácil para alguém como ele, que cada dia empenha-se em viver a espiritualidade da unidade, com tantos outros. «Para o meu trabalho – escreve – devo ver tudo o que acontece nas redes sociais. Esta manhã vi o vídeo dos nossos homens SAF (policiais) mortos por rebeldes muçulmanos. Fiquei impressionado ao ver um policial caído, ferido mas ainda vivo, atingido duas vezes na cabeça e outro com uma foice afundada no peito… foi pesado, quase surreal, não conseguia respirar. No vídeo vê-se também que os rebeldes pegam as armas e objetos pessoais dos policiais mortos e continuam a disparar. Era muito difícil pensar na paz enquanto via aquelas imagens. Queria reagir, fazer alguma coisa. Estava quase chorando. Depois, vi as sessões da Câmara sobre o acontecido. Alguém procurava lançar a culpa sobre um general, pelas imprecisões; alguém acusava um outro por falta de coordenação. E mais uma vez eu pensava: como se pode falar de paz?
O vídeo na internet já foi visto por pelo menos 4 milhões de pessoas. Parte do meu trabalho é entender os possíveis cenários e como sair deles. Então me perguntei qual seria o pior cenário. E tive medo. Imaginei que depois de ter visto aquelas imagens, muitos poderiam sentir raiva e procurar vingança. Qualquer muçulmano poderia ser visto como um possível agressor e ser atacado. “E se explode uma revolta civil?”, me perguntei.
No escritório, como se pode imaginar, a emoção dos colegas era altíssima. Procurei escutar o que Deus dizia no meu coração: “Agora, mais do que nunca, devemos falar de paz. Se nós que compreendemos melhor a situação experimentamos estes sentimentos de vingança, como reagirão os mais emotivos e menos informados?”.
De repente um colega disse: “Paz é uma palavra impronunciável nesse momento. Devemos mirar na unidade de todos os filipinos, além do credo religioso”. E outro: “O que aconteceu foi um ato de homens violentos, que não se identificam com toda a comunidade muçulmana”. Lentamente a raiva se amainou. Lembramos também o que havia dito um deputado de Mindanau: “É fácil enraivecer-se e ser influenciados pelas nossas emoções, porque vocês não viram o efeito da guerra com os seus olhos, na porta de casa. A guerra não é a resposta”. Fiquei felizmente surpreso e saí dali com uma certa paz no coração.
Nestes tempos, penso que, mais do que outra coisa, devemos trabalhar juntos para levar o ideal da unidade ao maior número de pessoas possível. A ameaça de guerra é real. O risco dos nossos cidadãos se enraivecerem contra os irmãos muçulmanos é real. Mas o Evangelho nos mostra o caminho do diálogo e da paz. Amanhã é um novo dia para mim. Outro dia de escuta de muitas conversas online. Terei a possibilidade de construir relacionamentos de confiança e de paz».
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