20160617-01«Enquanto estou voltando para casaconta Ofélia de um bairro da periferia de Valencia, terceira cidade da Venezuela – vejo um casal se dirigir a pé para sua casa. Diminuo a velocidade e lhes pergunto se querem uma carona. Cansados, sem ter nem mesmo forças para responder, entram logo no carro. Depois de terem se restabelecido, me contam que tinham se levantado cedo para conseguir farinha e outros alimentos de primeira necessidade para os seus filhos, mas a fila era tão longa que, quando chegou a vez deles, não havia mais nada. Desiludidos, disseram que a única coisa que levavam para casa era uma forte dor de cabeça por não ter tomado nem café da manhã, nem almoçado». São situações dolorosas e que, infelizmente, se repetem, às quais frequentemente não existe resposta. De fato, nem mesmo Ofélia tinha algo para lhes dar. Também a sua bolsa estava vazia e também ela não tinha trabalho.

A penúria de meios, disseminada, impele as comunidades do Focolare presentes na Venezuela a se ajudarem e a ajudar de todos os modos. Por exemplo, as senhoras fazem os penteados e o corte dos cabelos umas para as outras e reformam roupas usadas compartilhando-as segundo as necessidades, de modo a serem apresentáveis e harmoniosas, apesar da pobreza, testemunhando inclusive visivelmente o amor evangélico que procuram viver entre elas. «Um dia – conta um pai de família – saí para comprar comida, mas não encontrei nada: parecia que tudo tinha desaparecido. Circulando por aqui e por ali, vejo o “foruro” (mais tostado). Em geral, nós não o comemos, mas lembrando que uma família de nossos amigos o comiam, achei que era melhor do que nada. À tarde, passando na frente da casa deles, parei e lhes perguntei: Vocês almoçaram? Não, me responde a mulher, e nem tomamos café da manhã. Não temos dinheiro e o meu marido já está sem forças por causa da fome. Eu lhe disse que não podiam ir dormir sem ter comido e corri até em casa para pegar o “foruro” que eu tinha comprado. Para mim aquela noite foi de uma grande alegria porque eles puderam jantar, embora com o simples “foruro”».

Um dia, uma senhora aborda Laura na rua e lhe fala da sua preocupação por não conseguir mais encontrar os medicamentos para controlar a hipertensão. Laura, ao invés, tinha conseguido obter os remédios através de conhecidos no exterior. Em tempos como estes, a prudência aconselharia a mantê-los bem guardados, mesmo porque não se sabe se se poderá encontrá-los de novo. Mas no Evangelho Jesus diz «dai e vos será dado» e, sem pensar duas vezes, abre a sua bolsa e lhe dá uma cartela inteira de comprimidos.

MPPU_Venezuela_2Nesta difícil situação do país, a visita (de 21 a 25 de maio) de Cecília De Lascio, argentina, coordenadora regional do Movimento Político pela Unidade, não podia ser mais oportuna. Em Caracas, interessante o intercâmbio mantido com 75 pessoas interessadas no compromisso pelo bem comum, entre as quais não faltaram vários jovens; o anúncio do ideal da fraternidade a um pequeno grupo de pessoas interessadas na política numa sala da Assembleia Nacional; e, antes de deixar o país, o encontro com um pequeno grupo de professores universitários sobre como formar os jovens segundo o paradigma da fraternidade nos vários âmbitos do saber e da atividade humana. Dois eventos importantes também em Maracaibo: o encontro com o dr. Lombardi, reitor da Universidade Cecílio Acosta, e uma reunião com a comissão RUEF (Rede Universitária do Estudo da Fraternidade). Tudo isso contribuiu para adquirir uma maior compreensão do processo político em ação no país.

«É preciso almejar a equidade como objetivo central a partir do paradigma da fraternidade – afirma Cecília De Lascio nos seus vários discursos –. Nesta situação não fácil, creio firmemente na importância de se empenhar juntos pelo bem comum».

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