Cansados e carregados de fardos: essas palavras nos sugerem a imagem de pessoas – homens e mulheres, jovens, crianças e anciãos – que de algum modo carregam pesos ao longo do caminho da vida e esperam que chegue o dia em que possam livrar-se deles.

Neste trecho do Evangelho de Mateus, Jesus apresenta um convite: “Vinde a mim…”.

Ele estava rodeado pela multidão que tinha vindo para vê-lo e ouvi-lo; muitos deles eram pessoas simples, pobres, com pouca instrução, incapazes de conhecer e respeitar todas as complexas prescrições religiosas da época. Além disso pesavam sobre eles os impostos e a administração romana como um peso muitas vezes impossível de suportar. Eles viviam preocupados e à procura de uma oferta de vida melhor.

Com o seu ensinamento, Jesus mostrava uma atenção particular para com eles e para com todos aqueles  que estavam excluídos da sociedade por serem considerados pecadores. Ele desejava que todos pudessem compreender e acolher a lei mais importante, aquela que abre a porta da casa do Pai: a lei do amor. Com efeito, Deus revela as suas maravilhas a todos o que têm o coração aberto e simples.

Mas Jesus quer convidar também a nós, hoje, a nos aproximarmos Dele. Ele se manifestou como o rosto visível de Deus que é amor, um Deus que nos ama imensamente, do modo como somos, com as nossas capacidades e os nossos limites, as nossas aspirações e os nossos fracassos! E nos convida a nos confiarmos à sua “lei”, que não é um peso que esmaga, mas um fardo leve, capaz de preencher de alegria o coração de todos os que a vivem. Ela exige o empenho de não nos fecharmos em nós mesmos, mas, ao contrário, de fazermos da nossa vida um dom cada vez mais pleno aos outros, dia após dia.

“Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso.”

Jesus faz também uma promessa: “… vos darei descanso”.

De que modo Ele nos dá esse descanso? Antes de tudo com a Sua presença, que se torna mais nítida e profunda em nós quando o escolhemos como referencial da nossa existência; depois, com uma luz particular, que ilumina os nossos passos de cada dia e nos faz descobrir o sentido da vida, mesmo quando as circunstâncias externas são difíceis. Se, além disso, começarmos a amar como o próprio Jesus amou, encontraremos no amor a força para seguir adiante e a plenitude da liberdade, porque é a vida de Deus que abre espaço em nós.

Assim escreveu Chiara Lubich: “… um cristão, que não estiver sempre na disposição de amar, não merece ser chamado de cristão. Isso porque todos os mandamentos de Jesus se resumem em um único mandamento: o amor a Deus e ao próximo, em quem devemos reconhecer e amar Jesus. O amor não é mero sentimentalismo: ele se traduz em vida concreta, no serviço aos irmãos, principalmente os que estão ao nosso lado; começando pelas pequenas coisas, pelos serviços mais humildes. Diz Charles de Foucauld: ‘Quando amamos alguém, estamos bem concretamente nele, estamos nele com o amor, vivemos nele com o amor, não vivemos mais em nós mesmos, somos desapegados de nós mesmos’1. E é por causa deste amor que a sua luz abre caminho em nós, a luz de Jesus, segundo a sua promessa: “Quem me ama… me manifestarei a ele.”2 O amor é fonte de luz: amando compreende-se mais Deus, que é amor.”3

Vamos acolher o convite que Jesus nos faz de ir ao seu encontro, e vamos reconhecê-lo como fonte da nossa esperança e da nossa paz.

Vamos acolher o seu “mandamento” e esforçar-nos por amar, como Ele fez, nas mil e uma ocasiões com que deparamos cada dia na família, na paróquia, no trabalho: vamos responder à ofensa com o perdão, vamos construir pontes em lugar de muros, vamos colocar-nos a serviço de quem está debaixo do peso das dificuldades.

Descobriremos que essa lei não é um peso: pelo contrário, ela nos dá asas que nos farão voar mais alto.

Letizia Magri

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1 Charles de Foucauld, Scritti Spirituali, VII, Roma : Città Nuova, 1975, p. 110.

2 Jo 14,21

3 Cf. Chiara Lubich, Palavra de Vida Permanecer na Luz, revista Cidade Nova, maio de 1999.

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