Março de 2022

A Palavra de Vida deste mês encontra-se na oração que Jesus ensinou a seus discípulos, o  Pai-Nosso.  É uma oração  profundamente enraizada na tradição  judaica. Também os judeus chamavam e chamam Deus de “Pai nosso”.

Numa primeira leitura, as palavras desta frase nos cativam: podemos pedir a Deus que Ele perdoe nossas dívidas – como sugere o texto grego – da mesma forma como nós mesmos conseguimos perdoar  aqueles que apresentam alguma pendência contra nós? Nossa capacidade de perdão é sempre limitada, superficial, condicionada.

Se Deus nos tratasse de acordo com a nossa medida, isso significaria uma verdadeira condenação!

“Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.”

 Não é uma condenação. São palavras importantes que expressam, antes de tudo, a consciência de que precisamos do perdão de Deus. Foi o próprio Jesus que as transmitiu aos discípulos e, portanto, a todos os batizados, para que, por meio delas, eles possam se dirigir ao Pai com simplicidade de coração.

Tudo começa ao descobrirmos que somos filhos no Filho, irmãos e imitadores de Jesus, que foi o primeiro a fazer de sua vida um caminho de adesão cada vez mais total à vontade amorosa do Pai.

Só depois de termos acolhido o dom de Deus, seu amor sem limites, é que podemos pedir tudo ao Pai, inclusive que nos torne cada vez mais semelhantes a Ele, até mesmo na capacidade de perdoar os irmãos e irmãs com um coração generoso, dia após dia.

Cada ato de perdão é uma escolha livre e consciente, que deve sempre ser renovada com humildade. Nunca se torna um hábito; é uma conquista exigente. Jesus quer que rezemos por essa conquista todos os dias, assim como rezamos pelo pão.

“Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.”

 Quantas vezes as pessoas com quem vivemos – na família, no bairro, no trabalho ou na escola – podem ter-nos magoado e sentimos dificuldade em retomar um relacionamento positivo. O que fazer? É aqui que podemos pedir a graça de imitar o Pai:

Levantemo-nos de manhã com uma “anistia” completa no coração, com aquele amor que cobre tudo, que sabe acolher o outro assim como ele é, com suas limitações, suas dificuldades, tal como faz a mãe quando o filho erra: sempre desculpa, sempre perdoa, sempre espera nele... Vamos ao encontro de cada pessoa vendo-a com olhos novos, como se ela nunca tivesse caído naqueles erros. Recomecemos toda vez, sabendo que Deus não só perdoa, mas esquece: é essa a medida que Ele espera também de nós.[2]

É uma meta alta, à qual podemos nos encaminhar com a ajuda da oração confiante.

“Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.”

Além disso, a oração do Pai-Nosso tem, toda ela, a perspectiva do “nós”, da fraternidade: eu peço não só por mim, mas também pelos outros e com os outros. Minha capacidade de perdão é sustentada pelo amor dos outros e, por outro lado, meu amor pode de alguma forma sentir o erro de meu irmão como se fosse meu: talvez seja algo que também depende de mim, talvez eu não tenha feito toda a minha parte para que ele se sentisse acolhido, compreendido...

Em Palermo, uma cidade italiana, as comunidades cristãs vivem uma experiência intensa de diálogo, o que exige a superação de algumas dificuldades. Brás e Zina contam: Um dia, um pastor amigo nosso nos convidou a visitar algumas famílias de sua Igreja que não nos conheciam. Tínhamos levado alguma coisa para compartilhar no almoço, mas aquelas famílias nos deram a entender que não viam esse encontro com bons olhos. Com delicadeza, Zina os fez experimentar algumas das especialidades que ela havia preparado. Acabamos almoçando juntos. Após o almoço, eles começaram a apontar as falhas que viam em nossa Igreja. Não querendo entrar numa guerra verbal, dissemos: qual desses defeitos ou diferenças entre as nossas Igrejas pode nos impedir de nos querermos bem? Acostumados a constantes discussões, eles ficaram espantados e desarmados diante de uma resposta dessas e começamos a falar do Evangelho e daquilo que nos une, o que certamente é muito mais do que aquilo que nos divide. Quando chegou a hora de nos despedirmos, eles não queriam nos deixar ir embora. Nesse momento, sugerimos a oração do Pai-Nosso, durante a qual sentimos uma presença muito forte de Deus. Eles nos fizeram prometer que voltaríamos, porque queriam que conhecêssemos o resto da comunidade. É o que temos feito ao longo de todos esses anos.

Letizia Magri

[1] Esta citação corresponde à tradução oficial da CNBB na Bíblia Sagrada, 3ª Edição, 2019. Na versão oficial da oração do Pai-Nosso, temos: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

[2] LUBICH, Chiara. A força do perdão. Palavra de Vida, dezembro de 2004.

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“Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.” (Mt 6,12) [1]

1 Comment

  • Sono sempre preoccupato, sul piano puramente razionale, di non sentirmi (e far sentire) una sorta di “marionetta” in balia di un Creatore che facciamo quasi somigliare alle divinità greco-romane. Dio ci ha fatto il grande dono della vita, ci dona il suo immenso amore, ci offre il grande dono della salvezza per mezzo della croce. Che altro ancora ci deve regalare, visto che stiamo sempre a chiedere, chiedere? Certo, siamo bisognosi della Sua misericordia, del Suo conforto, della Sua illuminazione per mezzo dello Spirito, ma tutto il resto mi sembra un eccesso! Lodiamo il Signore con preghiere di ringraziamento e riconoscenza per i questi doni , ma a mio avviso, lasciamo il resto alla nostra responsabilità di uomini creati liberi . Fare la “volontà “ di Dio per me significa assecondare il Suo desiderio amorevole di vederci incamminati sulla strada che ci porta alla salvezza. Tutto il resto mi sembra un eccesso che rasenta il paganesimo. Ditemi voi dove sbaglio perché comunque i dubbi non mi mancano.

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