Agosto de 2019

O “coração” é aquilo que temos de mais íntimo, oculto, vital. O “tesouro” é aquilo que tem mais valor, que nos dá segurança para o dia de hoje e para o futuro. O “coração” é também a sede dos nossos valores, a raiz das nossas escolhas concretas. É o lugar secreto no qual colocamos em jogo o sentido da vida: o que é que realmente deixamos que ocupe o primeiro lugar?

Qual é o nosso “tesouro”, pelo qual somos capazes de colocar em segundo plano todo o resto?
Na sociedade consumista de matriz ocidental, tudo nos instiga a acumular bens materiais, a nos concentrarmos nas nossas necessidades, a não nos interessarmos pelas necessidades dos outros, em nome do bem-estar e da eficiência individual. No entanto, já o evangelista Lucas, num contexto cultural bem diferente, relata essas palavras de Jesus como um ensinamento decisivo e universal, para homens e mulheres de todos os tempos e de qualquer lugar.

“Pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.”

O Evangelho de Lucas salienta com vigor a necessidade de uma opção radical, definitiva e típica do discípulo de Jesus: o verdadeiro Bem é Deus Pai. É Ele que deve ocupar inteiramente o coração do cristão, conforme o exemplo do próprio Jesus. Essa escolha exclusiva traz consigo o abandono confiante no Seu amor e a possibilidade de o discípulo se tornar realmente “rico”, porque filho de Deus e herdeiro do seu Reino.

É uma questão de liberdade: de não permitir que sejamos possuídos pelos bens materiais, mas ao contrário, que nos tornemos realmente os seus patrões.

Com efeito, a riqueza material pode ocupar o “coração” e gerar uma crescente ânsia de possuir ainda mais. Pode causar uma verdadeira dependência. Por outro lado, a esmola, que nos é recomendada neste trecho do Evangelho (1), é uma questão de justiça, ditada pela misericórdia, que alivia o “coração” e nos abre para a igualdade fraterna.

Cada cristão individualmente e toda a comunidade dos que têm fé podem experimentar a verdadeira liberdade por meio da partilha dos bens, tanto materiais como espirituais, com aqueles que deles necessitam: é esse o estilo de vida cristão que dá um testemunho da verdadeira confiança no Pai e lança bases sólidas para a civilização do amor.

“Pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.”

Para libertar-nos da escravidão do ter, é luminosa a sugestão de Chiara Lubich:
Por que Jesus insiste tanto no desapego dos bens, chegando a fazer disso uma condição indispensável para poder segui-lo? Porque a primeira riqueza da nossa existência, o verdadeiro tesouro é Ele! (...) Ele nos quer livres, com a alma desprendida de qualquer apego e de toda preocupação, portanto capazes de amá-lo realmente com todo o coração, a mente e as forças. (...) Quando Ele nos pede a renúncia aos bens, é também porque deseja a nossa abertura aos outros (...). O modo mais simples de “renunciar” é “doar”.

Doar a Deus, amando-o. (...) E para demonstrar-lhe esse amor, amemos os nossos irmãos e irmãs, dispostos a arriscar tudo por eles. Mesmo que não pareça, temos muitas riquezas a pôr em comum: temos afeto no coração a dar, cordialidade a externar, alegria a comunicar; temos tempo que pode ser colocado à disposição; orações, riquezas interiores que podemos colocar em comum; às vezes temos objetos, livros, roupas, um carro a emprestar, dinheiro (...). Doemos sem pensar demais: “Mas essa coisa me pode servir nessa ou naquela ocasião (...)”. Sim, tudo pode ser útil, mas enquanto isso, se nós cedermos a estas sugestões, irão se infiltrando no nosso coração muitos apegos e aparecendo cada vez mais novas exigências. Não! Procuremos ter somente o necessário. Fiquemos atentos para não perder Jesus por causa de uma quantia acumulada, por causa de alguma coisa da qual podemos abrir mão. (2)

Marisa e Agostinho, casados há 34 anos, nos contam:
Depois de oito anos de casamento, as coisas iam de vento em popa. Tínhamos a casa e o trabalho do jeito que sempre desejamos. Mas então nos fizeram uma proposta de nos mudarmos da Itália para um determinado país da América Latina, a fim de dar apoio a uma comunidade cristã que estava se formando. Entre as mil vozes de hesitação, de incerteza pelo futuro, de pessoas que nos diziam que éramos loucos, nós dois ouvíamos uma em especial, que nos dava uma grande paz; era a voz de Jesus, que nos convidava: “Vem e segue-me”. E foi isso que fizemos. Assim, fomos viver em um ambiente completamente diferente daquele com o qual estávamos acostumados. É verdade que nos faltavam muitas coisas, mas sentíamos que, em troca, encontrávamos muitas outras como, por exemplo, a riqueza do relacionamento com muitas pessoas. Foi fortíssima também a experiência da Providência: uma noite, tínhamos organizado uma pequena festa, e cada família levava alguma comida típica para o jantar. Na nossa recente viagem à Itália, ao voltar tínhamos trazido um bom pedaço de queijo parmesão. Queríamos dividir uma parte do queijo com as famílias, mas ficamos indecisos, porque assim ficaríamos logo sem nada. Mas nos lembramos da frase de Jesus: “Dai e vos será dado... (Lc 6,38). Olhamo-nos e dissemos: deixamos a pátria, o trabalho, os parentes... e agora vamos nos apegar a um pedaço de queijo?! Então cortamos uma boa parte dele e levamos para a festa. Dois dias depois, toca a campainha de casa: era um turista que nós não conhecíamos, amigo dos nossos conhecidos da Itália, que vinha trazendo um pacote mandado por eles. Abrimos: era um grande pedaço de queijo parmesão. Aquela promessa de Jesus: “... uma medida sacudida e transbordante será colocada no vosso regaço...” é realmente verdadeira.

Letizia Magri

1) Cf. Lc 12,33: “Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem, um tesouro no céu que não se acabe; ali o ladrão não chega nem a traça corrói.”
2) Chiara Lubich, O Bem e não os bens, revista Cidade Nova, setembro de 2004.

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“Pois onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.” (Lc 12,34)

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