A atitude de Jesus era tão nova diante da mentalidade comum que, muitas vezes, por assim dizer, escandalizava as pessoas de bem. Como aconteceu quando ele convidou Mateus a segui-lo e depois foi almoçar com ele. Mateus era um cobrador de impostos. Por causa do seu ofício, o povo não só não gostava dele mas o considerava um pecador público, um inimigo a serviço do Império Romano.
Por que – questionam os fariseus – Jesus come com um pecador? Não é melhor manter distância de certas pessoas? Essa pergunta torna-se para Jesus uma ocasião de explicar que ele quer ir ao encontro justamente dos pecadores, assim como um médico vai ao encontro dos doentes; e ele conclui dizendo aos fariseus que procurem estudar o significado da palavra de Deus pronunciada no Antigo Testamento pelo profeta Oséias: “Desejo a misericórdia e não o sacrifício”.
Por que Deus quer de nós a misericórdia? Porque deseja que sejamos como ele. Devemos assemelhar-nos a ele assim como os filhos se assemelham ao pai e à mãe. Ao longo de todo o Evangelho, Jesus nos fala do amor do Pai para com os bons e os maus, para com os justos e os pecadores. Deus ama cada um, não faz distinções e não exclui ninguém. Se ele tem alguma preferência, é por aqueles que, aparentemente, menos merecem ser amados, como é o caso do filho pródigo da parábola.
“Sede misericordiosos – explica Jesus – como vosso Pai é misericordioso”: esta é a perfeição.

«Ide, pois, aprender o que significa: 'Desejo a misericórdia e não o sacrifício'.»

Também hoje Jesus dirige a cada um de nós o convite: “Ide, pois, aprender…” Mas, ir para onde? Quem poderá nos ensinar o que significa ser misericordioso? Uma única pessoa: só ele, Jesus, que foi à procura da ovelha perdida, que perdoou aos que o tinham traído e crucificado, que deu sua vida pela nossa salvação. Para aprendermos a ser misericordiosos como o Pai, perfeitos como ele, precisamos olhar para Jesus, que é a plena revelação do amor do Pai. Ele disse: “Quem me viu, viu o Pai”.

«Ide, pois, aprender o que significa: 'Desejo a misericórdia e não o sacrifício'.»

Por que a misericórdia e não o sacrifício? Porque o amor é o valor absoluto que dá sentido a todo o resto, também ao culto, também ao sacrifício. Com efeito, o sacrifício mais agradável a Deus é o amor concreto para com o próximo, que encontra a sua expressão mais alta na misericórdia.
Misericórdia que ajuda a ver sempre novas as pessoas com as quais vivemos a cada dia, na família, na escola, no trabalho, sem nos lembrarmos mais dos seus defeitos, dos seus erros; que não nos leva a julgar mas a perdoar as injustiças sofridas. Mais ainda: a esquecê-las.
O nosso sacrifício não consistirá tanto em fazer longas vigílias e jejuns, dormir no chão, mas em acolher sempre no nosso coração qualquer um que passe ao nosso lado, seja ele bom ou mau.
Foi isso que fez um senhor que trabalhava no setor de recepção e caixa de um hospital. O seu povoado tinha sido inteiramente incendiado pelos seus “inimigos”. Um belo dia viu chegar um homem com um parente doente. Pelo seu sotaque descobriu logo que se tratava de um dos “inimigos”. Ele estava assustado; não queria revelar a sua identidade para não ser mandado embora. O caixa não lhe pediu os documentos e lhe ajudou, apesar de ter que se esforçar para superar o ódio que há tempo remoía dentro dele. Nos dias seguintes teve a possibilidade de dar-lhe assistência em diversas ocasiões. No último dia de internação o “inimigo” foi pagar a conta e disse ao caixa: “Preciso lhe confessar uma coisa que você não sabe”. E ele: “Desde o primeiro dia sei quem é você”. “E por que você me ajudou, se eu sou um 'inimigo' seu?”
Assim como aconteceu com ele, também para nós a misericórdia nasce do amor que sabe sacrificar-se por quem quer que seja, conforme o exemplo de Jesus, que chegou ao ponto de dar a vida por todos.

Chiara Lubich

 

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