O lago de Tiberíades, chamado também “Mar da Galiléia”, tem as seguintes dimensões: 21 quilômetros de comprimento e 12 de largura. Mas quando o vento desce impetuosamente do vale de Bekaa, assusta até mesmo os pescadores, acostumados a navegar essas águas. E, naquela noite, os discípulos de Jesus tiveram realmente medo: ondas altas e vento contrário. Mal e mal conseguiam segurar o barco.
Então aconteceu um fato inesperado: Jesus, que tinha ficado na margem, sozinho, para rezar, apareceu de repente sobre as águas. Os Doze, já agitados devido à condição do mar, começaram a gritar, assustados, acreditando ver um fantasma. Aquele que estava diante deles não podia ser Jesus: no livro de Jó está escrito que somente Deus caminha sobre as águas. Eis então as palavras de Jesus: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” Ele sobe ao barco e o mar se acalma. Os discípulos não só recobram a paz mas também, pela primeira vez, reconhecem Jesus como “filho de Deus”: “Tu és realmente o Filho de Deus!”.

«Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!»

Aquele barco agitado pelo vento e jogado pelas ondas tornou-se o símbolo da Igreja de todos os tempos. Para cada um dos cristãos que realizam a travessia da vida, mais cedo ou mais tarde chega o momento do medo. Talvez também você já se encontrou alguma vez com o coração em tempestade; talvez sentiu-se arrastado pelo vento contrário na direção oposta àquela que você queria seguir; ou teve receio de que a sua vida ou a vida da sua família naufragasse.
Quem é que não passa pela provação? Ela às vezes assume a fisionomia do fracasso, da pobreza, da depressão, da dúvida, da tentação… Muitas vezes, o que mais nos faz sofrer é a dor de quem está ao nosso lado: um filho drogado ou incapaz de encontrar o seu caminho, o marido alcoólatra ou desempregado, a separação ou o divórcio de pessoas amigas, os pais idosos e doentes… Também nos assusta a sociedade materialista e individualista que nos rodeia, com as guerras, as violências, as injustiças… Diante dessas situações pode se insinuar até mesmo a dúvida: onde é que foi parar o amor de Deus? Foi tudo uma ilusão? É um fantasma?.
Não existe nada mais terrível do que sentir-se sozinho no momento da provação. Quando não temos ninguém com quem partilhar a dor, ninguém capaz de nos ajudar a resolver as situações difíceis, então qualquer sofrimento nos parece insuportável. Jesus sabe disso. Por isso ele aparece sobre o nosso mar tempestuoso, aproxima-se de nós e nos repete também hoje:

«Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!»

Ele parece dizer-nos: naquele seu medo sou eu que me apresento. Também eu, na cruz, quando gritei o meu abandono, fui invadido pelo medo de que o Pai me tivesse abandonado. Sou eu, naquele seu desânimo: lá na cruz também eu tive a impressão de que me faltasse o conforto do Pai. Você se sente desnorteado? Também eu me senti, a ponto de gritar “Por quê?” Eu – como você, e mais ainda – me senti só, incerto, ferido… Eu senti em mim a dor da perversidade humana…
Jesus realmente penetrou em toda dor, assumiu sobre si todas as nossas provações, identificou-se com cada um de nós. Ele se encontra por trás de tudo o que nos faz sofrer, que nos causa medo. Cada circunstância dolorosa, assustadora, é um semblante seu. Ele é o Amor, e é próprio do amor afastar todo temor.
Toda vez que o medo nos assalta, que nos sentimos sufocados por uma dor, podemos reconhecer a realidade verdadeira que se esconde por trás: é Jesus que se apresenta na nossa vida, é uma das muitas faces com que ele se manifesta. Podemos chamá-lo pelo nome: és tu, Jesus abandonado-dúvida; és tu, Jesus abandonado-traído; és tu, Jesus abandonado-doente. Então deixemos que ele suba ao nosso “barco”, que ele seja acolhido, que ele entre na nossa vida. E depois, continuemos a viver aquilo que Deus quer de nós, lançando-nos a amar o próximo. Descobriremos que Jesus é sempre Amor. Desta forma poderemos dizer-lhe, como os discípulos: “Tu és realmente o Filho de Deus!”.
Se o abraçarmos, ele se tornará a nossa paz, o nosso conforto, a coragem, o equilíbrio, a saúde, a vitória. Será a explicação de tudo e a solução para tudo.

Chiara Lubich

 

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