Esta Palavra de Vida é tirada de um dos livros do Antigo Testamento, escrito entre os anos 190 e 180 antes de Cristo por Ben Sirac, um sábio, um escriba, que exercia sua função de mestre em Jerusalém. Ele ensina um tema muito estimado em toda a tradição sapiencial bíblica: Deus é misericordioso para com os pecadores e o seu modo de agir deve ser imitado por nós. O Senhor perdoa todas as nossas culpas porque “é compaixão e piedade, lento para a cólera e cheio de amor” Fecha os olhos para não ver mais os nossos pecados, esquece-os, lançando-os atrás de si. Com efeito, escreve ainda Ben Sirac, conhecendo a nossa pequenez e miséria, Ele “multiplica o perdão”. Deus perdoa porque, como qualquer pai, qualquer mãe, quer bem aos seus filhos e portanto os desculpa sempre, esconde seus erros, dá a eles confiança e os encoraja, sem jamais se cansar.
Sendo pai e mãe, Deus não se contenta em amar e perdoar seus filhos e suas filhas. O seu grande desejo é que eles se tratem como irmãos e irmãs, que sejam concordes, que se queiram bem, que se amem. A fraternidade universal: eis o grande projeto de Deus para a humanidade. Uma fraternidade mais forte que as inevitáveis divisões, tensões, rancores que se insinuam com tanta facilidade devido às incompreensões e aos erros.
Muitas vezes as famílias se desagregam porque não sabemos nos perdoar. Ódios antigos dão continuidade à divisão entre parentes, entre grupos sociais, entre povos. Às vezes até encontramos gente que ensina a não esquecer as injustiças sofridas, a cultivar sentimentos de vingança… E um rancor surdo envenena a alma e corrói o coração.
Há quem pense que o perdão é uma fraqueza. Não. Ele é a expressão de uma coragem extrema; é amor verdadeiro, o mais autêntico por ser o mais desinteressado. “Se amais aos que vos amam, que recompensa tereis?” – diz Jesus. Isto todos sabem fazer. “Mas vós, deveis amar os vossos inimigos”.
Também a nós Ele pede que, aprendendo dele, tenhamos um amor de pai, um amor de mãe, um amor de misericórdia para com todos os que encontramos no nosso dia, sobretudo para com aqueles que erram. E àqueles, então, que são chamados a viver uma espiritualidade de comunhão, ou seja, a espiritualidade cristã, o Novo Testamento pede ainda mais: “Perdoai-vos mutuamente”. O amor recíproco exige, de certo modo, um pacto entre nós: estarmos sempre prontos a nos perdoarmos uns aos outros. Só assim poderemos contribuir para criar a fraternidade universal.

«Perdoa a teu próximo a injustiça cometida; então, quando orares, teus pecados serão perdoados»

Estas palavras não só nos convidam a perdoar mas nos recordam que o perdão é a condição necessária para que também nós possamos ser perdoados. Deus nos ouve e nos perdoa na medida em que soubermos perdoar. O próprio Jesus nos exorta: “Com a medida com que medis sereis medidos”. “Felizes os misericordiosos porque alcançarão misericórdia”. De fato: se o coração estiver endurecido pelo ódio, nem sequer será capaz de reconhecer e de acolher o amor misericordioso de Deus.
Então, como podemos viver esta Palavra de Vida? Certamente perdoando de imediato, se existir alguém com quem ainda não nos tivermos reconciliado. Mas isto não basta. Será necessário sondar nos recantos mais escondidos do nosso coração e eliminar até mesmo a simples indiferença, a falta de benevolência, toda atitude de superioridade, de negligência com relação a quem quer que passe ao nosso lado.
Ainda mais. Torna-se necessária uma ação de prevenção: assim, a cada dia vejo com olhos novos todos os que encontro, na família, na escola, no trabalho, na loja, pronto a não fazer caso daquilo que não me agrada no seu modo de agir, disposto a não julgar, a dar-lhes confiança, a esperar sempre, a acreditar sempre. E me aproximo de cada pessoa com essa anistia completa no coração, com esse perdão universal. Não me lembro mais, absolutamente, de seus defeitos, para encobrir tudo com o amor. E se, ao longo do dia, eu cometi uma grosseria ou tive um ímpeto de impaciência, então procuro remediar com um pedido de desculpa ou um gesto de amizade. Compenso uma atitude de rejeição instintiva do outro, com uma atitude de plena acolhida, de misericórdia sem limite, de perdão completo, de partilha, de atenção para com as suas necessidades.
Então também eu, quando elevar minha oração ao Pai, sobretudo quando lhe pedir perdão pelos meus erros, verei o meu pedido ser atendido. Poderei dizer com plena confiança: “Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.

Chiara Lubich
 

 

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