Os cristãos de Corinto faziam a comparação entre o apóstolo Paulo e outros pregadores contemporâneos que falavam com maior eloqüência e erudição. Eles apreciavam os belos discursos, as especulações filosóficas, enquanto que Paulo se apresentava com simplicidade, sem grandes palavras sugeridas pela sabedoria humana, fraco e provado no seu físico. No entanto, foi a ele que, no caminho de Damasco, Jesus se tinha revelado plenamente; e desde então Deus tinha feito brilhar continuamente a luz do seu Filho no coração de Paulo e o tinha convidado a levar a todos essa luz. No entanto, Paulo era o primeiro a dar-se conta da desproporção entre a incalculável preciosidade da missão que lhe fora confiada e o fato de não ser ele a pessoa adequada: um tesouro em um pobre vaso de argila.
Quantas vezes também nós nos damos conta da nossa pobreza, das limitações, do despreparo diante das tarefas que nos são confiadas, da incapacidade de responder plenamente às exigências da nossa vocação, da impotência diante de situações que são maiores do que nós. Além disso, percebemos inclinações e atrações que nos orientam mais facilmente para o mal do que para o bem, e custamos a resistir a elas devido à fraqueza da nossa vontade. Também nós, como Paulo, temos a impressão de ser vasos de barro.
Também descobrimos facilmente essas mesmas fraquezas e fragilidades nas pessoas que estão ao nosso lado, tanto em família como na comunidade ou no grupo ao qual pertencemos.
E como deixar de pensar nestas palavras de Paulo no mês em que se celebra a Semana de Oração para a Unidade dos Cristãos? Apesar do tesouro que Deus nos deu, nós, cristãos, não conseguimos, durante os séculos, viver em unidade.

«Trazemos esse tesouro em vasos de barro.»

Se olhássemos somente para o vaso de barro que nós somos, teríamos todos os motivos para desanimar. No entanto, a coisa que vale, e à qual devemos dirigir toda a nossa atenção, é o tesouro que trazemos dentro de nós! Paulo sabia que o seu vaso de barro era habitado pela luz de Cristo: era o próprio Cristo que vivia nele e isto lhe dava a ousadia de arriscar tudo pela difusão do Seu Reino.
Também nós podemos experimentar o tesouro infinito que trazemos dentro de nós, como cristãos: é a Santíssima Trindade. Olho para dentro de mim e descubro como que uma voragem de amor, um abismo, a imensidão, como um sol divino dentro de mim.
Olho ao meu redor e aprendo a vislumbrar também nos outros – para além do seu “vaso de barro”, que logo vejo com evidência – o tesouro que ele contém. Não me detenho na aparência exterior. A luz da Trindade que mora em nós, lembrou-nos João Paulo II, “há de ser percebida também no rosto dos irmãos que estão ao nosso redor”.

«Trazemos esse tesouro em vasos de barro.»

Como viveremos esta Palavra de Vida?.
Ela é dirigida a nós. Um nós que não exclui ninguém. “Os cristãos devem dar a conhecer juntos esse tesouro que resplandece glorioso no semblante do Ressuscitado.” No entanto, para nos tornarmos plenamente conscientes do tesouro que temos, precisamos entrar em comunhão com ele. Sim, podemos aprender a conviver com a Santíssima Trindade, a ponto de nos perdermos nela. Podemos ter uma relação pessoal com cada uma das três Pessoas divinas – com o Pai e com o Filho e com o Espírito Santo -, de modo que seja o próprio Deus a viver e a agir em nós.
Temos o Pai. No nosso vaso de argila está presente um Pai. Podemos lançar nele toda nossa inquietação, toda preocupação, como nos sugere o apóstolo Pedro. Porque é assim que fazemos com um pai: nos colocamos em suas mãos, em tudo e por tudo, com total confiança. E isso é um pai: o sustento, a certeza do filho que, como uma criança, se lança despreocupado em seus braços.
Existe também o Filho dentro de nós; o Verbo que, tendo-se encarnado, é Jesus. Jesus está dentro de nós. Aprendemos a amá-lo profundamente nos seus diversos modos de tornar-se presente: na Eucaristia, na Palavra, quando estamos unidos em seu nome, no pobre, na autoridade que o representa…, no profundo do nosso coração. Podemos até mesmo aprender a amá-lo nos limites, nas fraquezas, nos fracassos, porque Ele assumiu a nossa fraqueza e a nossa fragilidade, mesmo não sendo pecador. Por isso Jesus, Verbo encarnado, tendo compartilhado tudo o que somos, pode nos sustentar em cada dificuldade da vida, sugerindo-nos como superá-la, para nos doar novamente luz, paz e força.
E o Espírito Santo. Aquele Espírito ao qual nos confiamos com segurança, como se fosse a nós mesmos. Que sempre responde quando o invocamos e nos sugere palavras de sabedoria. Que nos conforta, que nos sustenta e ama como verdadeiro amigo, iluminando-nos.
O que mais podemos querer? Um só Amor se hospedou em nosso coração: ele é o nosso tesouro. O vaso de barro, tanto o nosso como o dos outros, não será mais um obstáculo, não será mais motivo de desânimo. Ele nos lembrará apenas que a luz e a vida que Deus quer irradiar em nós e ao nosso redor não é tanto fruto das nossas capacidades humanas, quanto efeito da sua presença ativa em nós, reconhecida e amada.
Então, tal como Paulo, também nós poderemos arriscar tudo pelo Reino de Deus e com mais força tender à meta da comunhão visível e plena entre os cristãos, para podermos repetir, como ele: “Ora, trazemos esse tesouro em vasos de barro, para que todos reconheçam que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós”.

Chiara Lubich

 

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