Jesus está para voltar ao Pai. Na sua morte e na sua ressurreição, já iminentes, atua-se a parábola do grão de trigo que, caindo na terra, morre e produz fruto na espiga. Jesus cumpre a sua obra: na cruz ele se doa completamente (o grão de trigo que morre) e com a ressurreição dá vida a uma nova humanidade (a espiga feita de muitos grãos). Mas Jesus quer que a sua obra continue nos discípulos: também eles deverão amar até o ponto de dar a vida e assim gerar a comunidade. Por isso, falando com eles na última Ceia, Jesus os compara a ramos de videira destinados a produzir fruto.
Mas, concretamente, o que fazer para estarmos enxertados na videira? Jesus explica que permanecer nele significa permanecer no seu amor; deixar que as suas palavras vivam em nós; observar os seus mandamentos, sobretudo o “seu” mandamento, o amor mútuo. Naquela última Ceia ele nos deu também o seu corpo e o seu sangue. Ele, em nós e entre nós, continuará a produzir fruto e a cumprir a sua obra. Porém, se recusamos este relacionamento de amor, somos cortados fora.

«Todo ramo que não dá fruto em mim, ele [meu Pai] corta…»

Esta ação drástica do Pai não pode deixar de despertar em nós o temor de Deus. Não podemos abusar do seu amor. Exatamente por ser Amor, Deus é também justo. Se ele corta, é porque constata que o ramo já está morto, que ele se condenou por si mesmo: rejeitou a seiva e não produz mais fruto. Também se pode cair no erro de acreditar que produzir fruto significa cair no ativismo, organizar obras, superestimar a eficiência… e se pode esquecer aquilo que realmente vale: estar unido a Jesus, viver na sua graça, ou ao menos na retidão da própria consciência. Senão, o Pai corta fora o ramo porque, para além das aparências, não há mais vida nele.
Então, não existe mais nenhuma esperança?
A vinha do Senhor é misteriosa e ele também sabe enxertar novamente o ramo cortado: é sempre possível se converter, é sempre possível recomeçar.

«… e todo ramo que dá fruto, ele [meu Pai] limpa, para que dê mais fruto ainda.»

Como posso reconhecer que estou dando fruto ?
A todo aquele que age bem, as provações não podem deixar de se apresentar: elas são as manifestações do amor de Deus, que purifica a nossa ação e faz com que cheguemos a produzir mais fruto, exatamente como acontece na natureza depois da poda. Daí os sofrimentos físicos e espirituais, as doenças, tentações, dúvidas, a sensação de abandono por parte de Deus, as mais diversas situações que falam mais de morte do que de vida. Por quê? Será que é porque Deus quer a morte? Não, muito pelo contrário: Deus ama a vida. Mas essa vida é tão plena, tão fecunda, que nós nem conseguimos imaginá-la – apesar de toda a nossa tendência ao bem, ao positivo, à paz. Justamente para podermos alcançar essa plenitude, ele poda.

“Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, ele corta; e todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda.”

Esta Palavra de Vida nos garante que as provas e as dificuldades nunca são um fim em si mesmas. Elas aparecem para que possamos dar “mais fruto ainda”. E o fruto não é somente a fecundidade apostólica, ou seja, a capacidade de suscitar a fé e de edificar a comunidade cristã. Jesus nos indica também outros frutos. Promete-nos que, se permanecermos no seu amor e suas palavras permanecerem em nós, poderemos pedir tudo o que quisermos e nos será dado; daremos glória ao Pai; teremos a plenitude da alegria.
Vale a pena entregar-se às sábias mãos do Pai e deixar-se trabalhar por ele.

Chiara Lubich

 

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