30/04/2003

“Eu não concordo com os atentados suicidas”. “Eu não concordo com os bombardeios sobre as cidades de vocês”. Trocas de palavras entre uma jovem palestina e um soldado israelita, num posto de bloqueio nos Territórios Palestinos. É uma história “ao avesso”, contada no grande palco do auditório do Centro Mariápolis de Castelgandolfo, onde se realizou o Congresso Mariano Internacional, promovido por ocasião do Ano do Rosário proclamado pelo Papa. O seu objetivo era relançar esta oração mariana, por ele definida “um compêndio do Evangelho”, e levar os homens de hoje à busca da paz e de uma nova dimensão do Espírito, e a “contemplar Cristo com o olhar de Maria”, para ser como Ele “construtores de paz” e de “um mundo mais próximo do desígnio de Deus”.

É uma demonstração, oferecida pelas muitas experiências, da potência do Evangelho, capaz de extinguir o ódio com o amor ao inimigo. É um caminho obrigatório, “após o dia 11 de setembro, que nos colocou diante de uma encruzilhada, e devemos escolher a estrada certa”, como disse o mons. Piero Coda. Assim, testemunhou, também, Dieudonné do Burundi: 12 foram os seus familiares massacrados barbaramente, mas isto não mudou o seu estilo de vida. Decidiu colocar em ação a arte evangélica do amor, até mesmo com militares que são, freqüentemente, “sem piedade”: é possível encontrá-los num momento em que precisam de ajuda, como aconteceu com um soldado embriagado, na beira de uma ponte, que ele socorreu.

Esta foi uma pequena amostra dos testemunhos inseridos no primeiro dos cinco quadros do programa do congresso: os cinco mistérios da luz que, juntamente com as reflexões teológicas, ajudam a penetrar nas várias etapas da vida de Jesus e de Maria. O primeiro quadro, o Batismo de Jesus: “É o convite a reconhecer Jesus como filho de Deus – comentou Pe. Fabio Ciardi – de modo que possa afogar nas águas do batismo o nosso “homem velho” e nos fazer renascer para uma vida nova, para nos reencontramos todos como irmãos e irmãs, no coração do único Pai”.

Mons. Domenico Sorrentino, prelado do Santuário de Pompéia, traçando a história do Rosário, evidenciou como João Paulo II convida a um passo adiante em relação ao passado: “Ele não se limita a confiar a paz à intercessão de Maria, mas a apresenta como fruto desta oração que é ‘oração de paz’, porque fazendo contemplar Cristo”, “exercita uma ação pacificadora”.

É uma experiência de contemplação, a que estamos vivendo em Castelgandolfo, não apenas as mais de 1.500 pessoas de 70 países presentes na sala, mas que atinge os mais diversos pontos do mundo, graças à coligação com 11 satélites, colocados à disposição com generosidade pela ESA, Telepace, pela EWTN americana e a CRC do Canadá, que permitiram a muitas TVs nacionais e locais, e pela Internet, de transmitir todo o Congresso. 7.000 pontos coligados pela Internet no primeiro dia. Calcula-se 20.000 pessoas. Apenas alguns flashes dos numerosos e-mails recebidos do mundo inteiro: “Impressionante – escrevem de Amersfoort, na Holanda – como a alta espiritualidade e a concretização caminham juntas”. De Edimburgo: “Estamos assistindo à transmissão. É plena de luz e nos faz sentir parte dela”.
 
A profunda dimensão espiritual deste evento mariano se anunciava assim desde as primeiras palavras: “Deteremo-nos sobre o Rosário que é um canto repetitivo de amor a Maria – falou o prof. Giuseppe Zanghì, diretor da revista ‘Nuova Umanità’ – e é também, e sobretudo, um abrir os olhos da alma sobre os mistérios da vida do Filho de Maria. E, enquanto abrirmos as nossas mentes e os nossos corações a Jesus, será Jesus mesmo a falar de Maria aos nossos corações e às nossas mentes, com aquele falar que não termina em pobres palavras, mas em criaturas novas”.

Um dos muitos aspectos da novidade deste evento: a contribuição da dimensão carismática à compreensão vital de Maria e do Rosário, oferecida por este Congresso, em resposta à mensagem particular entregue a Chiara pelo Papa, na Praça de S. Pedro, no mesmo dia, 16 de outubro de 2002, no qual relançava a oração do Rosário.

Momento culminante foi o discurso de Chiara Lubich que comunicou os dons de luz à origem daquela Obra, o Movimento dos Focolares, que a Igreja reconheceria como “Obra de Maria”. Chiara reviveu um dos momentos mais dramáticos dos primeiros tempos: “Sob um terrível bombardeio, de bruços no chão, coberta de poeira, que encheu completamente o abrigo, (…) viva quase por milagre, em meio à gritaria geral, mas calma e cheia de paz, notei que havia experimentado na alma uma dor agudíssima, enquanto corria perigo (de vida): a de nunca mais poder recitar a ave-maria”. Mas tarde, compreendeu: “Esta ave-maria devia ser realizada por meio de palavras vivas, representada por pessoas que, como outras pequenas Maria, dessem ao mundo o Amor”. Aquele Amor que é Jesus mesmo, que “hoje – acrescentou – podemos gerar espiritualmente, como promete o Evangelho: «Onde dois ou mais estiverem reunidos no meu nome (“no meu amor”, explicam os Padres da Igreja), ali estou Eu no meio deles» (Mt 18,20). Missão, esta, definida como “primária na sociedade de hoje, secularizada” pelo cardeal Miloslav Vlk, arcebispo de Praga, durante a homília.

A fundadora dos Focolares falou da descoberta do novo vulto de Maria, “de uma beleza incomparável”: toda Palavra de Deus, toda revestida da Palavra de Deus, e do chamado de cada cristão a repetir como Maria, Cristo, Verdade, Palavra, com a personalidade que Deus deu a cada um. Uma visão “rica de conseqüências, por exemplo, no campo ecumênico”. Membros das Igrejas Luterana, Anglicana, Reformada, Romena-ortodoxa e Copta-ortodoxa darão testemunho disto na quarta-feira.

Um outra novidade que continuamente percorrerá todo o evento é o espaço privilegiado dos momentos artísticos: dos cantos às musicas, das danças de várias culturas à trechos literários – de Dante a Sartre – porque de Maria “Não se fala, se canta. O amor floresce em poesia” como canta o Gen Verde, baseado numa meditação de Chiara.

 

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