Pouco antes Jesus decidira começar a grande viagem rumo a Jerusalém, onde deveria completar a sua missão . Muitos querem segui-lo, mas Jesus avisa-os que acompanhá-lo é uma escolha séria. Será um caminho difícil, que requer a mesma coragem e a mesma determinação com que ele decidiu cumprir até ao fim a vontade do Pai.
Ele sabe que, após o entusiasmo inicial, pode surgir o desânimo. Tinha acabado de falar disso na parábola do semeador: «a semente caída em cima das pedras representa aquelas pessoas que ouvem a palavra e a recebem com muita alegria. Mas, como não ganham raízes, crêem por algum tempo e desistem, quando chegam as tentações» .
Jesus quer ser seguido com radicalismo e não só até certo ponto, umas vezes sim, outras não. Quando nos decidimos a viver por Deus e pelo seu Reino, não podemos voltar atrás para retomar o que deixámos e viver como antes ou pensar nos interesses egoístas de antigamente.

«Todo aquele que pega na charrua e olha para trás não serve para o Reino de Deus»

Quando nos chama para o seguir – e todos, de formas diferentes, somos chamados –, Jesus apresenta-nos um mundo novo, pelo qual vale a pena cortar com o passado. Porém às vezes invadem-nos saudades que levantam dúvidas em nós, ou a mentalidade comum, geralmente anti-evangélica, insinua-se no nosso espírito e pressiona-nos.
E daí as dificuldades. Por um lado queremos amar Jesus, por outro queremos condescender com os nossos apegos, fraquezas e mediocridades. Queremos segui-lo mas somos tentados a olhar muitas vezes para trás, recuando no caminho feito, ou dando um passo para a frente e dois para trás…
Esta Palavra de Vida fala-nos de coerência, de perseverança, de fidelidade. Se experimentámos a novidade e a beleza do Evangelho vivido, veremos que nada lhe é mais contrário do que a indecisão, a preguiça espiritual, a pouca generosidade, a condescendência com o mal, as meias medidas. Decidamos seguir Jesus e entrar no mundo maravilhoso que nos apresenta. Ele prometeu que «aquele que se mantiver firme até ao fim, será salvo» .

«Todo aquele que pega na charrua e olha para trás não serve para o Reino de Deus»

Ora, que fazer para não ceder à tentação de olhar para trás?
Em primeiro lugar, não dar ouvidos ao egoísmo, que pertence ao nosso passado, quando, por exemplo, não queremos trabalhar como se deve ou estudar com aplicação ou rezar bem ou aceitar com amor uma situação pesada ou dolorosa; ou mesmo quando nos dá vontade de falar mal de alguém, de não ter paciência com os outros, ou de nos vingar. A estas tentações devemos dizer “não” até dez ou vinte vezes por dia.
Mas não chega. Com os “não” avança-se pouco. São necessários sobretudo os “sim”: sim àquilo que Deus quer e que os irmãos e as irmãs esperam. E assistiremos a grandes surpresas.
Recordo a este propósito uma minha experiência.
No dia 13 de Maio de 1944 um bombardeamento destruiu a minha casa e à noite eu e a minha família, para nos resguardarmos, fugimos para o bosque mais próximo. Eu chorava ao pensar que não poderia sair de Trento com os meus pais e irmãos que eu tanto amava. É que já entrevia nas minhas companheiras o Movimento nascente e não podia abandoná-las.
O meu amor a Deus devia, então, vencer também isso? Eu deveria deixar partir os meus familiares, sozinhos, quando eu era a única nessa altura que os sustentava economicamente? E fi-lo, com a bênção do meu pai. Soube mais tarde que eles partiram contentes e que logo encontraram quem os abrigasse.
A seguir fui à procura das minhas companheiras por entre as casas e as ruas em ruínas. Graças a Deus estavam todas vivas. Ofereceram-nos alojamento num pequeno apartamento: o primeiro focolar? Nós não o sabíamos, mas foi mesmo assim.

«Todo aquele que pega na charrua e olha para trás não serve para o Reino de Deus»

Sigamos, então, sempre em frente, rumo à meta que nos aguarda, com o olhar fixo em Jesus . Quanto mais nos enamorarmos dele e experimentarmos a beleza do mundo novo, que ele fez nascer, tanto mais o que deixámos para trás perderá o seu poder de atracção.
Digamos todas as manhãs, ao começar um novo dia: hoje quero viver melhor do que ontem! E tentemos contar de alguma maneira os actos de amor que fizermos a Deus e aos próximos, se isso nos ajudar. À noite sentiremos o coração cheio de felicidade.

Chiara Lubich

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