Cidade do Vaticano, 24 de agosto de 2005

“Uma intuição profética” do “inesquecível” antecessor, destinada a marcar uma “grande primavera de esperança” para a Europa e o mundo: assim Bento XVI definiu a Jornada Mundial da Juventude.

Durante a audiência geral, quarta-feira, 24 de agosto, o Papa falou da sua experiência na Alemanha, percorrendo as etapas e os momentos mais significativos, diante de 7 mil pessoas, vindas dos quatro continentes, que lotavam a Sala Paulo VI, entre as quais se destacavam uma delegação inter-religiosa de Nagasaki e uma outra composta por religiosos budistas.

Do discurso de Bento XVI:

«A Providência divina quis que a minha primeira viagem pastoral fora da Itália tivesse como meta o meu próprio país de origem e acontecesse por ocasião do grande encontro dos jovens do mundo, a 20 anos da instituição da Jornada Mundial da Juventude, desejada como intuição profética do meu inesquecível antecessor. Não cesso de dar glória a Deus pelo dom desta peregrinação, da qual conservarei uma grata recordação.

O abraço ideal com os jovens participantes da Jornada Mundial da Juventude começou desde a minha chegada ao aeroporto de Colônia/Bonn e foi se tornando cada vez mais cheio de emoção ao percorrer o Reno, do cais de Rodenkirchenerbrucke a Colônia, escoltado por outras cinco embarcações que representavam os cinco continentes. Foi emocionante a parada diante do cais de Poller Rheinwiesen, onde milhares de jovens me esperavam para o primeiro encontro oficial, chamado oportunamente de “festa da acolhida”, que tinha por lema as palavras dos magos “Onde está o Rei dos judeus, que nasceu?” (Mt 2,2s). De fato, os Magos foram os “guias” para os jovens peregrinos até Cristo.

Como é significativo que tudo tenha acontecido enquanto nos encaminhamos para a conclusão do Ano Eucarístico, desejado por João Paulo II! O tema do encontro “Viemos para adorá-lo”, convidou todos a seguirem idealmente os Magos e a cumprir, junto com eles, uma viagem interior de conversão ao Emanuel, o Deus conosco, para conhecê-lo, encontrá-lo, adorá-lo e, depois de tê-lo encontrado e adorado, partir levando na alma a sua luz e a sua alegria.

Em Colônia, os jovens tiveram várias oportunidades para aprofundar essas temáticas espirituais e se sentiram estimulados pelo Espírito Santo a serem testemunhas de Cristo, que na Eucaristia prometeu permanecer realmente presente entre nós até o fim do mundo.

Lembro-me dos vários momentos em que tive a alegria de partilhar com eles, especialmente da vigília de sábado à noite e da celebração de encerramento no domingo. A essas emocionantes manifestações de fé, uniram-se milhões de outros jovens, de todos os pontos da terra, graças às providenciais transmissões de rádio e televisão.

Mas aqui, gostaria de evocar um encontro excepcional, o encontro com os seminaristas, jovens chamados a um dos mais radicais seguimentos de Cristo, Mestre e Pastor. Quis que houvesse um momento específico dedicado a eles, também para ressaltar a vocação típica das Jornadas Mundiais da Juventude. Não foram poucas as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada que floresceram, ao longo desses 20 anos, justamente durante as Jornadas Mundiais da Juventude, ocasiões privilegiadas, nas quais o Espírito Santo faz ouvir o seu chamado.

Neste contexto rico de esperança das Jornadas de Colônia, coloca-se muito bem o encontro ecumênico com representantes de outras Igrejas e Comunidades eclesiais. O papel da Alemanha no diálogo ecumênico é importante, seja pela triste história da divisão, seja pela parte significativa da guinada ao caminho da reconciliação. Desejo que o diálogo, como troca recíproca de dons, contribua, ademais, para ajudar a crescer a “sinfonia” ordenada e harmônica que é a unidade católica. Nesta perspectiva, as Jornadas Mundiais da Juventude constituem um válido laboratório ecumênico.

Como não reviver com emoção a visita à Sinagoga de Colônia, sede da mais antiga comunidade judaica da Alemanha? Com os irmãos judeus, fiz memória da Shoà e do 60º aniversário da liberação dos campos de concentração nazistas. Este ano celebramos o 40º aniversário da declaração conciliar Nostra aetate, que inaugurou uma nova etapa de diálogo e de solidariedade entre judeus e cristãos, além da estima pelas outras grandes tradições religiosas.

Entre essas tradições, o Islã ocupa um lugar especial, cujos seguidores adoram o único Deus e se dirigem com muita boa vontade ao Patriarca Abraão. Por esta razão, encontrei-me com os representantes de algumas comunidades muçulmanas, às quais manifestei as esperanças e as preocupações do difícil momento histórico que estamos vivendo, desejando que sejam erradicados o fanatismo e a violência e que juntos possamos colaborar na defesa da dignidade da pessoa humana e tutelar os seus direitos fundamentais.

Queridos irmãos e irmãs, do coração da “velha” Europa, que no século passado conheceu terríveis conflitos e regimes desumanos, os jovens lançaram novamente à humanidade da nossa época a mensagem de esperança que não desilude, porque alicerçada na Palavra de Deus que se tornou carne em Jesus Cristo, morto e ressuscitado para a nossa salvação. Em Colônia, os jovens encontraram e adoraram o Emanuel no mistério da Eucaristia e compreenderam melhor que a Igreja é a grande família por meio da qual Deus cria um espaço de comunhão e de unidade entre cada continente, cultura e raça, uma “grande comitiva de peregrinos” guiados por Cristo, estrela radiante que ilumina a história.

Jesus se torna nosso companheiro de viagem na Eucaristia, e na Eucaristia – disse na homilia da celebração de encerramento, tomando emprestado da física uma imagem bem conhecida – leva à “fissão nuclear” no coração mais recôndito do ser. Só esta íntima explosão do bem que vence o mal pode gerar as transformações necessárias para mudar o mundo.

Rezemos então, para que os Jovens de Colônia levem consigo a luz de Cristo, que é verdade e amor e a difundam em todos os lugares. Confio que com a Graça da ajuda do Espírito Santo e a oração à Virgem Maria, poderemos assistir a uma primavera de esperança na Alemanha, na Europa e no mundo inteiro.

 

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