Praticar a verdade? Dizem que a verdade se aprende. Mas para Jesus, a verdade se pratica. Ele sempre nos surpreende.
Surpreso ficou também Nicodemos, um rabino, membro do Sinédrio. Quando foi procurar Jesus para perguntar-lhe como se faz para entrar no Reino de Deus, ouviu como resposta que deveria nascer de novo, ou seja, acolher a vida nova que Ele veio trazer; que deveria deixar-se transformar interiormente até se tornar filho de Deus e entrar, assim, no mesmo mundo de Jesus. A salvação, mais do que uma conquista humana, é um dom do Alto.
Nicodemos, tendo procurado Jesus à noite, nas trevas, voltou iluminado.

«Quem pratica a verdade se aproxima da luz»

Esta Palavra de Vida é um convite a agir em sintonia com a verdade, em coerência com o Evangelho. Ela quer que sejamos pessoas que colocam em prática a Palavra de Deus e não apenas que a escutam1. Como afirma um Padre da Igreja, Hilário, bispo de Poitiers, “não existe nada das palavras de Deus que não se deva cumprir; e tudo aquilo que é dito traz em si a exigência de ser realizado. As palavras de Deus são decretos”2.
Fé e comportamento moral estão estreitamente ligados entre si.
Se em Jesus – como aparece claramente no denso ensinamento dirigido a Nicodemos –, luz, vida e amor operante coincidem, não poderá ser diferente para aqueles que O acolhem e Nele se tornam filhos de Deus. “Quem obedece ao Senhor e por meio Dele segue a Escritura – escreve Clemente Alexandrino, outro Padre da Igreja –, se transforma plenamente conforme a imagem do Mestre. Chega a viver como Deus em carne”3.
A mesma coerência é exigida daqueles que não professam nenhum credo religioso. As suas convicções mais profundas, que nascem na própria consciência, querem ser traduzidas em fatos.

«Quem pratica a verdade se aproxima da luz»

Viver a verdade tem como fruto chegar à luz, “acolher” Cristo. E foi Jesus quem prometeu: “A quem me ama (…) eu me manifestarei”4. Ele é a “luz verdadeira”5.
Mas outro fruto dessa prática da verdade é o testemunho que se irradia ao nosso redor, na sociedade em que vivemos. Foi também Jesus que disse isso, convidando-nos a fazer resplandecer a luz “diante das pessoas, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus”6.
A coerência de vida fala mais alto do que qualquer discurso. Os filhos esperam a coerência de seus pais: querem vê-los unidos, consolidando a harmonia familiar. Os cidadãos desejam coerência dos políticos a quem elegeram: que sejam fiéis ao programa apresentado, que se dediquem ao bem comum, que sejam honestos na administração dos recursos financeiros. Os estudantes pedem coerência aos professores, com relação ao próprio empenho didático e educativo. Honestidade, transparência, competência são exigidas dos comerciantes, dos operários, dos profissionais…
A sociedade se constrói também através do testemunho de coerência entre os próprios ideais e as opções concretas do dia-a-dia.

«Quem pratica a verdade se aproxima da luz»

É a experiência de homens como Nelson Mandela, que soube ser fiel ao seu empenho em prol da igualdade, pagando com longos e escuros anos de cárcere, mas tornando-se depois um líder do seu país; e como Martin Luther King, que pagou com a vida a sua coerência.
Isto sem falar dos muitos homens e mulheres desconhecidos, mas não menos autênticos nas suas escolhas. Foi o que aconteceu, por exemplo, com aquele empresário ao qual pediram uma propina em troca de novas encomendas. Ele não quis trair os seus princípios. Tomou uma decisão sofrida mas firme, consciente de que, mantendo a sua honestidade, estaria arriscando perder grande parte do seu faturamento. De fato, a grande rede de lojas que distribuía os seus produtos cancelou todos os pedidos novos, levando a sua empresa à beira da falência. Porém, depois de alguns meses, aquela mesma rede teve que voltar atrás, visto que os seus clientes protestaram por não encontrarem mais nas prateleiras os produtos da empresa. Assim, a coerência de vida foi reconhecida.

Chiara Lubich

1) Cf. Tg 1,22;
2) Tract. in Psalmum, 13,1: PL 9, 295;
3) Clemente Alexandrino, Stromatum, VII, 16, in PG 9, 539C;
4) Jo 14,21;
5) Cf. Jo 1,8-13;
6) Cf. Mt 5,14-16.

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