A mensagem evangélica pode se tornar “força transformadora e humanizante em regiões de risco”. Foi o testemunho dado pelos bispos, provenientes do mundo inteiro e reunidos de 24 a 29 de fevereiro, no Centro Mariápolis de Castelgandolfo.
Eram cerca de 90 os participantes, entre bispos e cardeais, de 42 países, neste 32º Congresso internacional, que este ano teve como tema: “A Palavra está viva: pessoas, ambientes, estruturas que se transformam”.

Na quarta-feira, 27, após terem participado da audiência geral com o Santo Padre, alguns bispos, representando diversas áreas geográficas, participaram de uma entrevista coletiva realizada na sede da Federação Italiana de Imprensa.
Ao tomar a palavra, o cardeal Ennio Antonelli, arcebispo de Florença, afirmou: “Por meio dos muitos testemunhos pudemos constatar como a Palavra renova a vida das famílias, dos jovens, das paróquias, uma renovação profunda, na comunhão“.

Cresceu em nós a convicção de que o testemunho da Palavra de Deus, escutada, vivida, encarnada na vida, a troca de experiências suscitadas pela Palavra, é um caminho muito importante para a evangelização hoje.

As pessoas não querem só ouvir falar de Jesus, querem vê-lo – como escreveu João Paulo II, na Novo Millennio Ineunte. E os Movimentos, de um certo modo, fazem “ver”, tocar, a presença do Senhor, a potência da sua palavra que cria vida nova”.

O Arcebispo de Palmas (TO), Dom Alberto Taveira Correa, por sua vez, evidenciou a importância do diálogo e fez referência às seitas, salientando que, neste contexto, “o empenho é duplicado: formar cada cristão à vida do Evangelho e construir relacionamentos inclusive com as pessoas que seguem esses grupos, buscando estabelecer um diálogo”.

Dom Paul Verzekov, arcebispo emérito de Bamenda (República dos Camarões), deu o próprio testemunho do empenho da Igreja na difícil obra de reconciliação, e narrou que “em quatro países (Togo, Benin, Congo e Republica Democrática do Congo) respondendo ao desejo do povo, e com a autorização da Santa Sé, as comissões nacionais para a mediação e reconciliação são presididas por bispos católicos, sem nenhuma intenção de substituir os governos”.

Continuando, Dom Verzekov acenou à ação pacificadora dos movimentos e comunidades, como a Comunidade de Santo Egídio, em Moçambique, e o trabalho desenvolvido pelo Movimento dos Focolares, difundido em todo o continente graças ao “compromisso do Evangelho na vida cotidiana”. Citou a vasta ação de evangelização desenvolvida pelos próprios chefes tribais, em Fontem (República dos Camarões), e em outras aldeias, com a participação de todo o povo, e os frutos de reconciliação e convivência pacífica que são realidade nestas regiões de seu país.

O bispo maronita de Baalbek, Dom Simon Atallah, falou sobre a grave situação política e religiosa do Líbano, dizendo que “enquanto os jovens haviam acreditado que as armas poderiam abrir caminhos de esperança para o país, agora são justamente os jovens, muçulmanos e cristãos, que estão descobrindo que a verdadeira força está na religião. Eles viram que não existe esperança nem nas armas nem na política”. “O importante – continuou – é levar as pessoas a lerem os acontecimentos à luz da Palavra, e saber encontrar na religião não o ódio, mas o amor que existe no outro”.

Em seguida falou da redescoberta do Evangelho e do Alcorão, de encontros entre jovens das duas religiões e citou o movimento “Esperanças da Juventude”, que reúne grupos cristãos e muçulmanos, com encontros de até mil jovens: “Eles lêem juntos as palavras do Evangelho e do Alcorão sobre a solidariedade,a fraternidade, o amor ao próximo”.

Falando sobre as crescentes perseguições aos cristãos na Índia, especialmente no estado de Orisha, o arcebispo de Nova Déli, Dom Vincent Michael Conceição, disse que “não podemos culpar os hindus, mas apenas certos grupos extremistas, que, além do mais, existem em todas as religiões. Infelizmente os partidos políticos estão usando as religiões e esses grupos para os próprios objetivos”. “Criam obstáculos para as conversões porque acreditam que aconteçam por coação ou com incentivos desonestos. Discutimos este problema nas conferências episcopais e estamos procurando entender como dar uma resposta.
Participar deste encontro de bispos, neste contexto, reforça a minha convicção que a resposta a todos os problemas é o amor, é a força mais potente, porque é participação à própria vida de Deus, que é Amor.
Estas atrocidades contra os cristãos –
acrescentou – são uma nova oportunidade para testemunhar o amor cristão, o amor aos inimigos”.

O cardeal Miloslav Vlk, arcebispo de Praga e moderador do Congresso, falou também de esperança: “Para mim estes encontros reforçam a esperança, e sobretudo abrem um horizonte mundial; podemos ver já atuado o que está escrito no Apocalipse: ‘Eis que faço novas todas as coisas. Os germens já estão surgindo, vocês não os vêem?’”.
Dando testemunho desta esperança, o cardeal falou ainda sobre o período, a partir de 1952, quando uma vez terminada a escola média, não havia nenhuma possibilidade para quem não fazia parte da juventude comunista, e como ele foi iluminado pela Palavra: “Submetei-vos à potente mão de Deus, a fim de que os exalte no tempo oportuno”.
Desde então muitas portas foram abertas. E concluiu: “A Palavra de Deus se realiza sempre. Esta é a minha grande esperança, mais do que isso, é uma certeza que me acompanhou por toda a vida”.

Da Agência Zenit, 28 de fevereiro de 2008

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