O apóstolo Paulo escreveu duas cartas aos cristãos da cidade de Corinto, na Grécia.  Nutria por eles uma estima particular. Ele tinha vivido no meio deles por quase dois anos, entre 50 e 52 dC. Tinha semeado ali a Palavra de Deus, lançando as bases da comunidade cristã, até o ponto de gerá-la como um pai (cf. 1Cor 3,6.10; 4,15).
Poucos anos mais tarde, quando ele voltou para visitá-los, algumas pessoas contestaram publicamente a sua autoridade de apóstolo (cf. 2Cor 2,5-11; 7,12). Foi essa a ocasião para reafirmar a grandeza do seu ministério. Ele anunciava o evangelho não por iniciativa própria, mas impelido por Deus. Para ele, a Palavra de Deus não se escondia mais por trás de nenhum véu, porque o Espírito Santo lhe concedeu que ele a entendesse à luz do que tinha acontecido na pessoa de Cristo Jesus. Por isso ele pôde vivê-la e anunciá-la com plena liberdade. A palavra permitia-lhe entrar em comunhão com o Senhor, ser transformado nele, até ser guiado pelo próprio Espírito de liberdade.

“Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade”

Jesus Ressuscitado, o Senhor, ainda hoje continua agindo na história, como nos tempos de Paulo, e o faz de modo especial na comunidade cristã, através de seu Espírito. Ele também nos permite compreender o evangelho em toda a sua novidade e o inscreve em nossos corações, de modo que seja a nossa lei de vida. Não somos guiados por leis impostas de fora; não somos escravos sujeitos a determinações que não nos convencem e que não aceitamos.
O cristão é movido por um princípio de vida interior, que o Espírito Santo lhe conferiu com o batismo. É movido pela sua voz, que repete as palavras de Jesus e faz com que as compreenda em toda a sua beleza, expressão de vida e de alegria. O Espírito as atualiza, ensina como vivê-las e ao mesmo tempo dá a força para colocá-las em prática.
É o próprio Senhor que, graças ao Espírito Santo, vem viver e agir em nós, transformando-nos em evangelho vivo.
Ser guiado pelo Senhor, pelo seu Espírito, pela sua Palavra: é essa a verdadeira liberdade que coincide com a mais profunda realização do nosso eu.

“Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade”

Mas, para que o Espírito Santo possa agir, sabemos que é necessária a plena disponibilidade para escutá-lo, com a disposição de mudar a nossa mentalidade, se preciso for, e depois aderir plenamente à sua voz.
É fácil deixar-se escravizar pelas pressões que os costumes e a opinião pública exercem sobre nós e que podem nos induzir a escolhas erradas.
Para viver a Palavra de Vida deste mês é necessário aprender a dar um não decidido a todo o negativo que brota do nosso coração cada vez que somos tentados a nos adequar a modos de agir que não estão de acordo com o evangelho; é preciso aprender a dar um sim convicto a Deus cada vez que sentimos o seu chamado a viver na verdade e no amor.
Assim descobriremos que a relação existente entre a cruz e o Espírito é de causa e efeito. Cada corte, cada poda, cada não ao nosso egoísmo é uma fonte de luz nova, de paz, de alegria, de amor, de liberdade interior, de realização de si. É uma porta aberta ao Espírito Santo.
Neste tempo de Pentecostes, ele poderá nos dar com mais abundância os seus dons, poderá guiar-nos. E seremos reconhecidos como verdadeiros filhos de Deus.
Ficaremos cada vez mais livres do mal, cada vez mais livres para amar.

“Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade”

É essa a liberdade que um funcionário das Nações Unidas encontrou durante a sua última tarefa em um dos países balcânicos. As missões que lhe eram confiadas representavam um trabalho gratificante, embora extremamente duro. Uma das suas grandes dificuldades era ficar distante da família por períodos tão longos. Mesmo quando voltava para casa era difícil deixar fora da porta a carga de trabalho que o envolvia, para dedicar-se com ânimo desimpedido às crianças e à esposa.
De repente aconteceu uma nova transferência para outra cidade, sempre na mesma região; e ele não podia nem pensar em levar consigo a família, porque, apesar dos acordos de paz recém-assinados, as hostilidades continuavam. O que fazer? O que vale mais, a carreira ou a família? Discutiu longamente a questão com a esposa, que há tempo compartilhava com ele uma intensa vida cristã. Os dois pediram que o Espírito Santo os iluminasse e procuraram entender qual seria a vontade de Deus para toda a família. Enfim, tomaram a decisão: deixar aquele trabalho tão cobiçado. Decisão realmente incomum nesse ambiente profissional. “A força para fazer essa escolha – conta ele – foi fruto do amor mútuo com a minha esposa: ela nunca me fez pesar as privações que eu lhe causava; e eu, de minha parte, procurei o bem da família, para além da segurança econômica e da carreira. E encontrei a liberdade interior”.

Chiara Lubich

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