Quando lemos essa Palavra de Jesus, vêm em evidência dois estilos de vida: a vida terrena, que se constrói neste mundo, e a vida sobrenatural dada por Deus através de Jesus, vida que não se acaba com a morte e que ninguém nos poderá tirar.
Assim, diante da existência podemos adotar duas atitudes: apegar-nos à vida terrena, considerando-a como único bem – e, nesse caso, seremos levados a pensar em nós mesmos, em nossas coisas, em nossos apegos; vamos nos fechar em nosso casulo, afirmando somente o próprio eu, e como conclusão, no final encontraremos inevitavelmente apenas a morte. Ou podemos ter uma atitude diferente: acreditando que recebemos de Deus uma existência muito mais profunda e autêntica, teremos a coragem de viver de modo a merecermos esse dom a ponto de sabermos sacrificar nossa vida terrena pela outra vida.

“Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará".

Quando Jesus pronunciou essas palavras, referia-se ao martírio. Para seguirmos o Mestre e permanecermos fiéis ao Evangelho, nós, como todo cristão, devemos estar prontos a perder a nossa vida, morrendo – se for necessário – até mesmo de morte violenta. E assim, com a graça de Deus, nos será doada a vida verdadeira. Jesus foi o primeiro a “perder a sua vida” e recebeu-a glorificada. Ele já nos preveniu que não temêssemos “aqueles que matam o corpo, mas são incapazes de matar a alma”. (Mt 10,28)
Hoje ele nos diz:

“Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará".

Se você ler atentamente o Evangelho, verá que Jesus retoma esse conceito seis vezes. Isso demonstra a importância dele para Jesus e quanto ele o considera.
Mas, para Jesus, a exortação para perder a própria vida não é apenas um convite para enfrentarmos até mesmo o martírio. É uma lei fundamental da vida cristã.
É preciso estarmos prontos a renunciar a fazer de nós mesmos o ideal da nossa vida, a renunciarmos à própria independência egoísta. Se quisermos ser verdadeiros cristãos, devemos fazer de Cristo o centro de nossa existência. E o que Cristo quer de cada um de nós? O amor pelos outros. Se assumirmos o programa dele como nosso, certamente teremos perdido a nós mesmos e teremos encontrado a vida.
O fato de não viver para si mesmo não é, certamente, como se poderia imaginar, uma atitude de renúncia e de passividade. O empenho do cristão é sempre muito grande e o seu senso de responsabilidade é total.

“Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará".

Já nesta terra podemos fazer a experiência de que, no dom de nós mesmos, no amor vivido, cresce em nós a vida. Quando tivermos despendido o nosso dia a serviço dos outros, quando tivermos aprendido a transformar o trabalho cotidiano, talvez monótono e duro, em um gesto de amor, experimentaremos a alegria de nos sentirmos mais realizados.

“Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará'.

Seguindo os mandamentos de Jesus, que estão todos centralizados no amor, encontraremos, depois desta breve existência, também a Vida Eterna.
Lembremos qual será o julgamento de Jesus no último dia. Ele dirá àqueles que estão à sua direita: “Vinde, benditos… pois eu estava com fome e me destes de comer; eu era forasteiro e me recebestes em casa; estava nu e me vestistes…” (Mt 25, 34ss)
Para que participemos da existência que não passa, Jesus olhará unicamente se amamos o próximo e vai considerar feito a si tudo o que tivermos feito ao próximo.

Como viveremos, então, esta Palavra? Como poderemos desde hoje perder a nossa vida para encontrá-la?
Preparando-nos para o grande e decisivo exame para o qual nascemos.
Olhemos ao nosso redor e preenchamos o nosso dia com atos de amor. Cristo se apresenta a nós na pessoa dos nossos filhos, da esposa, do marido, dos colegas de trabalho, de partido, de lazer, etc. Façamos o bem a todos. E não nos esqueçamos daqueles que passamos a conhecer diariamente por meio dos jornais, dos amigos ou da televisão… Façamos algo para todos, de acordo com as nossas possibilidades. E se acharmos que as nossas possibilidades se esgotaram, poderemos ainda rezar por eles. O que vale é o amor.

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em junho de 1999. 
 

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