Esta Palavra faz parte de um acontecimento simples e altíssimo ao mesmo tempo: o encontro entre duas gestantes, duas mães, nas quais a simbiose espiritual e física com seus filhos é total. Essas mães são a boca e os sentimentos dos filhos. Quando Maria fala, o menino de Isabel estremece de alegria no seu ventre. Quando Isabel fala, suas palavras parecem ter sido colocadas em seus lábios pelo Precursor. Mas, enquanto que as primeiras palavras de seu hino de louvor a Maria são dirigidas pessoalmente à mãe do Senhor, as últimas são pronunciadas na terceira pessoa: “Feliz aquela que acreditou”.
Dessa forma, a sua “afirmação adquire um caráter de verdade universal: a bem-aventurança vale para todos os fieis, aplica-se àqueles que acolhem a Palavra de Deus e a colocam em prática, encontrando em Maria o modelo ideal” (G. Rossé, Il Vangelo di Luca, Roma, 1992, p. 67).

“Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido”.

Essa é a primeira bem-aventurança do Evangelho que se refere a Maria e também a todos os que querem segui-la e imitá-la.
Em Maria existe uma estreita ligação entre fé e maternidade como fruto da escuta da Palavra. E Lucas, nesse trecho, sugere algo que se refere também a nós. Mais adiante, no Evangelho dele, Jesus diz: “Minha mãe e meus irmãos são estes daqui, que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8,21). Como que antecipando essas palavras, movida pelo Espírito Santo, Isabel anuncia que todo discípulo pode se tornar “mãe” do Senhor. A condição é que acredite na Palavra de Deus e a transforme em vida.

“Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido”.

Depois de Jesus, Maria é a pessoa que melhor e mais perfeitamente soube dizer “sim” a Deus. É sobretudo nisso que consiste a sua grandeza. Se Jesus é o Verbo, a Palavra encarnada, Maria, pela sua fé na Palavra, é a Palavra vivida, sendo, porém, criatura como nós, igual a nós.
O papel de Maria como Mãe de Deus é sublime e grandioso. Mas Deus não convida apenas a Virgem a gerar Cristo em si mesma. Todo cristão, embora de outro modo, tem uma tarefa semelhante, ou seja, encarnar Cristo até repetir como São Paulo: “Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Mas como atuar tudo isso?
Tendo, diante da Palavra de Deus, a mesma atitude de Maria, ou seja, de total disponibilidade. Portanto, como Maria, acreditar que todas as promessas contidas na Palavra de Jesus vão se realizar e, se for necessário, enfrentar, como fez ela, o risco do absurdo que a Palavra Dele às vezes comporta.
Coisas grandes e pequenas, porém sempre maravilhosas, acontecem com quem crê na Palavra. Muitos livros poderiam ser escritos com os fatos que provam isso.
Quem pode se esquecer de quando, em plena Segunda Guerra Mundial, acreditando nas palavras de Jesus, “pedi e recebereis” (Jo 16,24), pedíamos tudo aquilo de que muitos pobres da cidade de Trento tinham necessidade, e víamos chegar sacos de farinha de trigo, latas de leite em pó e de geleia, lenha para fogão, roupas?
Também hoje, isso continua se repetindo. “Dai e vos será dado (Lc 6,38) e as despensas para os pobres continuam sempre cheias, embora sejam regularmente esvaziadas.
Mas, o que mais impressiona é como as palavras de Jesus são verdadeiras, sempre e em toda parte. A ajuda de Deus chega pontualmente, mesmo em circunstâncias impossíveis e nos pontos mais isolados da Terra, como aconteceu pouco tempo atrás com uma mãe que vive em situação de miséria. Um dia, ela sentiu-se impulsionada a dar as últimas moedas que possuía a uma pessoa ainda mais pobre do que ela. Acreditava nas palavras do Evangelho: “Dai e vos será dado”. E seu coração estava em paz. Pouco depois, a sua filha caçula chegou perto dela e lhe mostrou um presente que tinha acabado de receber de um parente idoso que passara casualmente por ali. Na sua mãozinha havia uma soma de dinheiro maior do que a quantia doada.
Uma “pequena” experiência como essa nos incentiva a acreditar no Evangelho; e cada um de nós pode experimentar a alegria, a bem-aventurança que encontramos ao ver as promessas de Jesus se realizarem.
Quando, na vida de todos os dias, ao lermos as Sagradas Escrituras, nos encontrarmos com a Palavra de Deus, abramos nosso coração para escutá-la, com a fé em que tudo o que Jesus nos pede e promete vai se realizar. Não tardaremos a descobrir, como Maria e como aquela mãe, que Ele cumpre as suas promessas. 

Chiara Lubich

Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em agosto de 1999.
 

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