[…] A mídia, além de ser aquele maravilhoso fenômeno que todos conhecemos e que, de certa forma, caracteriza a nossa época, teve um papel ativo e de fundamental importância na história e na vida atual do nosso Movimento. Tive a ocasião de salientá-lo num discurso que fiz em Bangcoc, na Tailândia, em janeiro de 1997, quando a prestigiosa St. John’s University quis outorgar a mim e, por meu intermédio, ao Movimento que represento, o título de doutor honoris causa exatamente em Ciências das Comunicações Sociais.

Com efeito, existem duas afinidades que ligam profundamente os meios de comunicação a nós e nos impelem a falar sobre isso. Em primeiro lugar, uma afinidade concernente aos objetivos.

A finalidade do Movimento dos Focolares é ajudar a atuar aquilo que os nossos jovens definem o sonho de um Deus, isto é, o veemente pedido que Cristo fez ao Pai pouco antes de morrer: «Que todos sejam um» (Jo 17, 21).

E qual é o objetivo da mídia? A sua vocação coletiva é evidente: é destinada a ajudar os homens a conviverem entre si.

Mas não é apenas esse objetivo, pelo qual também o Movimento trabalha, que aproxima a mídia de nossa vida. Existe uma segunda afinidade que é relativa ao método: a espiritualidade da unidade, que é típica do Movimento, não é vivida apenas numa dimensão pessoal, mas também comunitária, coletiva. No desenvolvimento dos meios de comunicação de massa podemos identificar um novo passo no processo evolutivo da humanidade. Esse desenvolvimento injeta na humanidade uma tensão irrefreável que vai da complexidade à unidade, da fragmentação à busca de unidade, em tempo real.

Se examinarmos a nossa espiritualidade, perceberemos que, justamente por ser o caminho da unidade, ela é um caminho de comunhão.

Num mundo permeado de individualismo, numa Igreja que cultivava e oferecia as tradicionais, mas sempre admiráveis, espiritualidades individuais, o Espírito Santo impeliu o nosso Movimento, vinte anos antes do Concílio, a dar uma decisiva guinada em direção aos homens.

Não é este o momento para se fazer uma análise detalhada dos vários pontos da nossa espiritualidade, mas podemos afirmar que cada um deles apresenta um forte timbre comunitário. Portanto, é um caminho coletivo. Vamos a Deus por meio do homem, aliás, vamos a Deus junto com o homem, junto com os irmãos que amamos.

E, uma vez que esse amor é recíproco, temos a possibilidade de viver segundo o modelo da Trindade, tornando-nos “um”, como Deus é “um”, e jamais estando sozinhos, como Deus, que é trino. E Cristo está no nosso meio, como prometeu: «Onde dois ou mais estiverem reunidos no meu nome, ali estou eu no meio deles» (Mt 18, 20).

Com o passar do tempo, essa espiritualidade se revelou uma espiritualidade para o povo. Ela anima uma revolução de amor evangélico, capaz de difundir-se rapidamente no mundo inteiro. E não só entre católicos, mas também entre cristãos de outras Igrejas, entre fiéis de outras religiões, entre homens de boa vontade que aspiram a um mundo mais unido. É um fenômeno de fraternidade universal entre milhões de pessoas, presentes hoje em 184 países, motivadas por uma profunda exigência: sentir-se «uma única família».

Essa sede de unidade entre nós sempre foi uma característica nossa, desde os primeiríssimos tempos, quando uma grande rede de cartas fazia circular entre todos aquilo que Deus começava a realizar em cada um de nós, pessoalmente, e essa ação de Deus crescia à medida que era comunicada.

>[…] Como eu disse, a nossa mídia nasceu de exigências concretas, de pequenas ocasiões, como o desejo de manter-se em contato ou da necessidade de informar quem não estava presente num acontecimento considerado importante por nós ou pelo dever de dar força espiritual àqueles que passam dificuldades.

Por muitos anos não fizemos publicidade do Movimento e da sua grande difusão, e, ainda hoje, a que se faz não é uma estratégia do Movimento, mas é algo espontâneo.

A nossa preocupação é que tudo continue a florescer da vida, mesmo estando cada vez mais convencidos de que os meios de comunicação são, por assim dizer, feitos especialmente para nós, devido à sua vocação de criar a unidade dos povos. Além do mais, recordamos que os primeiros cristãos não possuíam esses meios. O coração deles fazia transbordar a mensagem de Cristo, que passavam de boca em boca, a tal ponto que, como disse Tertuliano, mesmo tendo nascido ontem, já tinham invadido o mundo. Jesus apenas falou. Ele não escreveu nada, a não ser na areia.

Se revirmos rapidamente a situação atual dos meios de comunicação, não podemos ignorar que, junto a um acelerado progresso, que os torna, a cada dia que passa, mais úteis e fascinantes, eles apresentam uma série de novos e grandes problemas para a sociedade, para as famílias e os indivíduos. É, portanto, um panorama feito de luzes e sombras.

Para citar apenas alguns deles: a globalização que torna homogêneas as culturas e sufoca as respectivas riquezas; o relativismo ético que mistura mensagens importantes com outras superficiais ou tendenciosas; a existência transformada em espetáculo, que instrumentaliza o sofrimento e a vida privada; o excessivo clima de competição dentro das estruturas produtoras dos meios de comunicação; a intromissão excessiva na vida do público…

Como usar a mídia sem ser manipulados por ela?

Luzes e sombras, eu dizia… A mídia hoje é recebida de modo acrítico ou é criticada pela falta de moralidade, pela violência, pela superficialidade que propõe, ou, ainda, é maximizada como infalível instrumento de poder, quase um novo ídolo de uma humanidade sem outras certezas.

Nós sabemos que são simples meios, mas gostaríamos de apreciar todo “o seu enorme potencial latente”, segundo uma apropriada expressão do Papa[1]; assim, queremos e convidamos todos a fazer um bom uso deles, fiel à mensagem profética que contém.

Essa mensagem diz: «unidade». E aqui gostaria de expressar um grande obrigada a Deus pelo modo como Ele está presente inclusive nessas modernas descobertas e nas novas tecnologias, pelo modo como Ele conduz a história.

De fato, exatamente hoje, quando a humanidade parece vagar na escuridão depois da derrocada de fortes ideologias e do ofuscamento de muitos valores e, por outro lado, aspira a um mundo mais unido, reivindicando a fraternidade universal, temos entre as mãos esses poderosos meios de comunicação, um sinal dos tempos que exprime «unidade». E em tudo isso não contemplamos a mão de Deus? […]

[1] . João Paulo II, A um grupo de Bispos poloneses, em “La Traccia” 2 (1998), p. 159;

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