16 de fevereiro de 2011. Na Universidade Hebraica de Jerusalém, na sede do Instituto Truman pela paz, Maria Voce fez uma conferência com o título: “A função do diálogo na promoção da paz”.
Cerca de oitenta eram os ouvintes escolhidos, entre os quais o núncio, D. Antonio Franco, o bispo auxiliar de Israel, D. Giacinto Marcuzzo, o rabi David Rosen, a Sra. Debbie Weissmann, presidente do ICCJ, rabis e acadêmicos judeus, representantes palestinos, responsáveis de comunidades e congregações cristãs. Uma presença que manifesta o interesse, especialmente de personalidades do mundo judaico, em relação ao Movimento dos Focolares, após décadas de atuação na Terra Santa. Uma ação feita de numerosos e duradouros contatos instaurados com pessoas cristãs, judias e muçulmanas, mas também com instituições e associações que atuam no diálogo inter-religioso.
Maria Voce iniciou citando Chiara Lubich, que se dirigia a um grupo de jovens, em 1969: «Girando pelo mundo percebi que existem grandes males. Vi a humanidade como um grande Adão chagado. Vi a luta entre os povos e a constante ameaça de guerra. Vi os problemas sociais a serem resolvidos. Recordo Jerusalém como uma cidade dividida. E em todo Oriente Médio existem fagulhas de guerras e a paz, portanto, está sempre em perigo. Então eu disse: o que nós, que temos o ideal da unidade, podemos fazer? Devemos fazer com que estes irmãos se amem, este corpo deve ser curado. A saúde da humanidade deve estar aqui ».
Ampliando o discurso ela apresentou o “diálogo da vida”, típico do Movimento, «que não coloca os homens em oposição, mas faz com que pessoas, até de credos diferentes, se encontrem, e as torna capazes de abrirem-se reciprocamente, encontrar pontos em comum, e vivê-los juntos», precisando que o diálogo «não é feito com os credos ou entre os credos, mas com as pessoas, qualquer que seja a fé que possuam». Um diálogo apresentado como um “sinal dos tempos” de grande atualidade, na “noite cultural” que perpassa grande parte da humanidade. «Poderíamos dizer, então, que da noite cultural, que mostra-se também como noite do diálogo, pode emergir uma cultura nova, que parte da redescoberta da natureza dialógica da pessoa humana».
Diálogo que possui uma dimensão ontológica e uma dimensão ética, ao qual Chiara Lubich deu uma densidade particular: «No diálogo inter-religioso tendemos a viver, antes de tudo, de uma parte e da outra, a chamada “regra de ouro” – “faz aos outros o que gostarias que fosse feito a ti” – que significa amar os outros. Segundo o Talmud, Hillel a exprimia com estes termos: “Não fazer ao próximo o que não gostarias que fosse feito a ti: nisto consiste toda a Torá, o restante é comentário. Vai e estuda”. É uma norma que está presente, com nuances diferentes como sabemos, nas nossas tradições monoteístas, que surgiram neste lado do mundo. Mas está também nas grandes tradições confucionista, budista e hindu. Então todos, homens e mulheres de boa vontade, podemos vivê-la na nossa existência cotidiana». E Maria Voce acrescentou: «A prática da “regra de ouro”, tornando-se recíproca, colocou em ação uma verdadeira metodologia do diálogo, que pode ser definida como uma “arte de amar”», proposta pela própria Chiara.
E concluiu: «Não podemos esconder que este é um caminho difícil, que exige um grande empenho para superar o obstáculo, para vencer a tentação do egoísmo, do fechamento em si mesmo. É o preço para transformar a ferida em benção, a morte em vida, para fazer do encontro com o outro o lugar onde floresce a paz e a fraternidade». E citou ainda Chiara Lubich: «a fraternidade não é apenas um valor, é um paradigma global de desenvolvimento político, porque é motor de processos positivos. Após milênios de história, nos quais experimentaram-se os frutos da violência e do ódio, temos todo o direito de pedir que a humanidade comece a experimentar quais poderiam ser os frutos do amor»
Terminada a conferência abriu-se um longo e profundo diálogo com o público, sobre o diálogo com pessoas que não possuem um credo religioso, sobre a seriedade de um diálogo que não se reduza a simples cortesia, sobre o reconhecimento do outro, sobre a “regra de ouro” que não sempre é fácil de ser aplicada em contextos difíceis.
«A mensagem trazida por Maria Voce, a de Chiara Lubich, evidencia a presença de Deus no outro», comentou, na conclusão, o rabi David Rosen. E o rabi Emile Moatti: «O diálogo deve penetrar nas pregas da história dos conflitos, para que ele mesmo seja história».
De Michele Zanzucchi