Oslo, 25 de julho – Uma passeata de 200 mil pessoas, no centro da cidade, recorda todos os mortos e feridos do atentado de sexta-feira, dia 22, e demonstra «que não nos deixamos abater pela situação, pelo contrário; a solidariedade e a proximidade entre todos é possível e já é vivida na nossa cidade». Quem nos escreveu foi Helga Koinegg, do focolare de Oslo, austríaca, que está na Noruega há 22 anos. E continua: «Por motivos de segurança decidiu-se que ao invés de levar tochas levaríamos rosas. Em pouco tempo elas não se encontravam mais nas floriculturas. Eu e meus colegas também queríamos participar». O escritório de Helga, de fato, está localizado na zona da sede do governo, a 500 metros da sede do ministério da saúde e serviços médicos, totalmente destruída pelo carro-bomba na sexta-feira, juntamente com outros 2 mil escritórios, no coração do bairro sede do governo norueguês. Mas Elma, alemã, que trabalha fora da cidade, conseguiu encontrar 200 rosas para os colegas de Helga. «Entramos na passeata com as flores, distribuindo a quem encontrávamos pela rua. Cada pessoa era uma ocasião de um contato profundo, com uma característica marcante: não éramos mais noruegueses, africanos, orientais, muçulmanos… após o 22 de julho a Noruega não é mais a mesma, tornamo-nos um só povo, unidos por uma grande dor, mas com a plena esperança de nos reerguermos».

«Hoje à noite a rua encheu-se de unidade: éramos 200 mil, crianças, adultos, jovens, anciãos, estrangeiros e noruegueses, todos reunidos». Alguém lembrou que uma manifestação tão grande e bonita como essa não era vista na Noruega desde o fim da Segunda Guerra Mundial, quando o rei retornou ao seu país. «Os nossos pais disseram “nunca mais outro 9 de abril” (data do ataque à Noruega, em 1940, ndr) e nós dizemos, nunca mais outro 22 de julho», afirmou o premier norueguês Jens Stoltenberg, falando na cerimônia em recordação das vítimas. «E entre as frases que se ouvem nestes dias inusitados – conta ainda Helga –, escuta-se: “se um homem pode odiar tanto assim, muito mais nós, que estamos juntos, podemos responder com o amor”».

«Oslo foi ferida – escreveu Maddalena Maltese na revista Città Nuova – mas mesmo entre lágrimas a cidade, e a nação inteira, não se rendem. Nos hospitais há filas para doadores de sangue, especialmente para os tipos mais raros. Fora da catedral luterana há centenas de milhares de velas recordando as vítimas. Todos falam do heroísmo dos campistas defronte à ilha de Utoeya, que logo que intuíram a tragédia correram para os barcos, para salvar os jovens que estavam lá para uma convenção. Domingo as igrejas luteranas e católicas ficaram abertas para o réquiem, uma prática não comum na tradição luterana, mas que teve uma enorme participação. Muitos jovens procuravam uma conversa com um sacerdote, ou paravam na igreja para acender uma vela ou levar flores. Em pequenos grupos as pessoas reuniam-se nas casas, para relembrar. Também os membros do Movimento dos Focolares de Oslo reuniram-se, no sábado à noite. «Sim, as pessoas estão chocadas – disse Katarina Miksits, sueca, há 15 anos no focolare de Oslo, em entrevista à revista Città Nuova –. Estamos incrédulos, ninguém podia imaginar uma situação assim. Aqui nem os ministros usam seguranças, a nossa é uma sociedade tranquila e não gostaríamos que isso mudasse».

Eskil Pedersen - Gro Harlem Brundland

«Juntos é mais fácil suportar o sofrimento», disse Eskil Pedersen, líder o partido trabalhista (AUF), durante a passeata. «Nunca estivemos tão próximos quanto hoje. Jamais experimentamos uma unidade assim. Com essa unidade continuaremos a lutar pelos valores que são tão importantes para a Noruega. Os jovens, em Utoeya, acreditaram. Juntos desejavam fazer da Noruega e do mundo um lugar melhor. Estavam reunidos pela justiça, a solidariedade, a igualdade, e contra o racismo. Vivemos uma tragédia nacional. O ódio e o desejo de vingança são uma reação natural. Mas nós somos a Noruega, e não devemos nos vingar. Foram colhidas algumas das nossas rosas mais lindas, mas é impossível deter a primavera».

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