Gislane: Bom dia! Sou Gislaine, Luciano meu esposo, somos casados há 10 anos e temos 3 filhos. Somos de Cuiabá, mas moramos em Brasília desde que nos casamos. Tivemos a Lais depois de quatro anos de casados e ela hoje está com cinco anos. Quando fiquei grávida pela segunda vez tivemos uma surpresa, na primeira ecografia a médica me disse que era uma gravidez gemelar (de gêmeos). Como não era uma herança genética e não existe histórico de gêmeos em nossas famílias, fiquei transtornada, porque jamais pensei em tal possibilidade. Foi uma semana de lágrimas, mas depois entendi que se um filho era um presente de Deus, nós estávamos recebendo dois. Então aceitei a ideia e logo comecei a imaginar a cena de sair do hospital carregando dois bebês nos braços.

A gravidez foi tranquila até o sexto mês. Depois, com o peso da barriga, comecei a sentir muitas dores – havia iniciado um processo de calcificação da placenta e a obstetra resolveu antecipar a cesária, esperando apenas, que eles chegassem à trigésima quinta semana (mais ou menos no 7º mês). O parto foi bem, mas tempo depois, o pediatra percebeu que os bebês tinham dificuldades para respirar. Os pulmões não estavam totalmente maduros e precisaram ir do Centro Cirúrgico direto para a UTI neonatal e ali passaram os seus primeiros 19 dias de vida.

Com 5 dias recebi alta da cesária, fiquei dividida em voltar para casa ou ficar com o Thiago e o Rafael no hospital. Pensei na Laís, nossa primeira filha que estava em casa, pois até então nunca havíamos nos separados por tanto tempo. Resolvi que o melhor era voltar para casa – foi por terra aquele meu sonho de sair do hospital carregando os dois bebês em meus braços. Por outro lado, entendemos o amor de Deus, porque os meninos estavam recebendo o melhor tratamento que precisavam naquele momento.

Luciano: Passados os 19 dias Thiago e Rafael receberam alta. Era uma alegria poder reunir toda a família e principalmente poder finalmente segurar nossos filhos em nossos braços. Entretanto, depois de 5 dias em casa, o Thiago se engasgou e começou a respirar com muita dificuldade. Nós o levamos imediatamente para o hospital, mesmo tendo sido um simples engasgo, cujo procedimento para restabelecê-lo poderia ser feito em casa. Pelo fato de ser prematuro e por seu histórico, o médico resolveu interná-lo e deixá-lo em observação na UTI neonatal. E aqui mais uma vez Deus manifestou o Seu amor por nossa família, porque o quadro se complicou. Além do agravamento da dificuldade de respirar, o Tiago teve uma parada cardíaca, precisou ser entubado e, durante um processo que durou 52 dias, sofreu mais 4 paradas cardio-respiratórias.

No dia em que aconteceram as 4 paradas, os pediatras perderam as esperanças e um deles chegou a nos dizer que, se quiséssemos, podíamos ficar com o Tiago pelo pouco tempo em que ele  ainda respirava. Neste momento entrou no consultório um especialista em cardiologia infantil que estava sendo aguardado que nos disse que tudo indicava que havia uma infiltração na membrana do coração do Thiago e propôs um procedimento para retirar o líquido que impedia que seu coração batesse normalmente.

Além disso, o quadro se agravou e o Thiago ficou com uma grave dificuldade de respirar. O médico chefe da UTI nos disse que havia também o risco de da traquéia se fechar e seria necessário que autorizássemos uma traqueostomia. Os médicos nos falaram que era a única alternativa e uma vez feito este procedimento, isto poderia durar até os seus nove anos de vida.

Gislane: Estes foram os primeiros meses de vida do Thiago, uma luta contínua para sobreviver, mas em todos os momentos colocamos a sua vida nas mãos de Deus e procurávamos confiar em cada especialista, porque sentimos que eram mais dos que profissionais, eram instrumentos de Deus para salvar o Thiago. Era difícil entender como uma criatura tão inocente podia sofrer tanto, mas por outro lado tínhamos que estar em constante doação, não podíamos parar em nossa dor, tínhamos ainda o Rafael e a Lais que precisavam de nós.

Em cada realidade que foi se apresentando, provamos o amor de Deus, como, por exemplo, conseguir uma vaga nas UTI’s no momento exato, quando parecia ser impossível. Depois, encontrar em nosso caminho especialistas com muita experiência e dedicação, que agiam de modo preciso e na hora certa.

Finalmente, quando o Thiago voltou definitivamente para casa, precisamos de um “homecare”, isto é, uma equipe de profissionais (médicos, enfermeiros, fonaudiólogos e fisioterapeutas) que acompanhassem o Tiago dia e noite.

Nossa casa virou uma extensão do hospital. E aqui, mais uma vez o Amor de Deus se manifestou, pois dentro desta equipe encontramos algumas pessoas que abraçaram a causa e foram além do horário estabelecido, além do serviço que tinham que realizar. Respeitavam o tempo do Thiago e mostravam que o mais importante, para eles, era vê-lo bem. Assim, para surpresa de todos, o Thiago foi superando todas as expectativas e foi possível retirar a traqueostomia aos 6 meses de idade. Para nós, um milagre do amor de Deus.

Luciano: Um outro aspecto a considerar é que nossas famílias moram em Cuiabá e durante este período não foi possível contar com ajuda deles. Além disso, neste período não tínhamos uma ajudante em casa, apesar de teremos procurado incessantemente.

Sozinhos, seria impossível levar tudo para frente. No entanto, Deus não se deixa vencer em seu amor e nos fez experimentar o amor de nossa família espiritual. Primeiro fomos sustentados pelas orações, sabíamos que todos rezavam por nós. Depois vários amigos do Movimento Famílias Novas se colocaram totalmente a serviço: ficar com a Lais quando precisávamos ir ao hospital, ajudar nos serviços da casa, além de proverem outras necessidades.

Para mim, uma ajuda muito importante foi quando o quadro do Thiago se agravou. Naquela época passei a ter medo de ir visitá-lo sozinho no hospital e passei a chamar sempre um destes meus irmãos de fé, que sempre foram muito disponíveis. Sem contar um que era médico e muitas vezes nos acompanhou e nos orientou como agir.

Para concluir, falo do amor de Deus em outro aspecto.

Como todo casal, eu e a Gislaine temos as nossas dificuldades de relacionamento. Mas, com toda esta dificuldade, descobri o quanto preciso amá-la, entender mais as suas atitudes. Neste período tivemos também alguns desencontros e suas palavras eram duras, mas eu pensava no seu cansaço, no nosso esgotamento físico e resolvi não levar tudo ao pé da letra.

Descobrimos o quanto precisamos um do outro, o quanto queremos estar um ao lado do outro para, juntos, superar as dificuldades.

Em todo este período procurei colocar a família em primeiro lugar. Entendi que é a coisa mais preciosa que possuo.

Posso dizer, ainda, que foi um período no qual vivemos muito pouco um para o outro, mas nunca estivemos tão próximos e unidos.

Quando acolhemos a dor como manifestação do amor de Deus, sentimos que recebemos uma luz que nos faz enxergar e ir além de nós mesmos.

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