Intervista_MariaVoce_JesusMoran«Desejo à nova presidente, que saiba escutar sempre o Espírito Santo e, portanto, que possa construir tudo “em unidade”», foi o que declarou Maria Voce poucos dias antes da sua reeleição, sem saber que estas palavras se tornariam as iniciais do seu segundo mandato.
Aproveitando um dos intervalos da assembleia do Movimento dos Focolares, ainda em andamento (terminará no próximo dia 28 de setembro), as várias edições de Cidade Nova entrevistaram Maria Voce, que acaba de ser reeleita como presidente, e Jesús Morán, copresidente. As perguntas referem-se à vida do Movimento e aos grandes desafios que o esperam. Citamos abaixo alguns trechos; neste link encontra-se a entrevista completa na língua italiana.

Como ouvir e colocar em prática o que o Papa Francisco está dizendo a Igreja e à sociedade de hoje?

Maria Voce: «Devemos fazê-lo a partir do carisma da unidade: também nós devemos pensar nos pobres e marginalizados, mas a partir da nossa especificidade. Fiquei entusiasmada quando o Papa Francisco disse em Redipuglia (Itália) que “a guerra é uma loucura”. É uma doença, portanto deve ser curada. Que tipo de cura nós, focolarinos, podemos oferecer? O que temos é o nosso carisma, que nos convida a construir relações de paz, de conhecimento recíproco, mesmo entre pessoas que não querem se ver, que se odeiam, para contribuir ao caminho rumo à unidade».

Jesús Morán: «Nós não nos caracterizamos pela busca frenética por espaços de poder, não é o nosso estilo. Procuramos sobretudo iniciar os processos. O Papa Francesco compara a Igreja não tanto com uma esfera, mas com um poliedro, afirmando, assim, que as tendências mais importantes muitas vezes surgiram na periferia. Parece-me que tudo isso esteja perfeitamente de acordo com uma obra que tem um forte princípio de unidade. A própria Chiara (Lubich) iniciou muitas realidades na periferia, como verificamos pelo exemplo da Economia de Comunhão, que nasceu no Brasil, ou do ecumenismo que obteve novas perspectivas a partir dos encontros de Chiara com Atenágoras em Istambul; em Fontem [Camarões] emergiu a inculturação “à moda focolarina”…  Também nós podemos viver este princípio, isto é, é ir para as periferias e perceber aquele algo que está emergindo e que, depois, torna-se universal».

Como responder aos grandes desafios da situação no Oriente Médio, na qual os focolarinos estão na linha de frente?

Maria Voce: «Tenho a impressão de que o Movimento está fazendo muito mais do que parece. Eu recebi estes dias uma carta das focolarinas de Damasco, que me pediam a permissão para ir encontrar a comunidade de Aleppo, onde já estão alguns focolarinos. Eu disse que sim, mesmo se os riscos são inegáveis​​: o carisma da unidade pode e deve estar presente nesses lugares para construir relacionamentos, para levar um pouco de paz. Obviamente as soluções políticas em nível internacional são necessárias, bem como a ajuda humanitária que   está chegando e é relativamente bem distribuída; o Movimento contribui para erradicar o ódio dos corações dos homens, uma operação sem a qual nunca poderão ser encontradas soluções políticas verdadeiras e duradouras». «Se há algo que o carisma pode fazer é difundir a cultura do encontro, da confiança recíproca, do amor, ajudando os necessitados, independentemente da religião ou do status social, da fronteira que o divide. Também devemos nos perguntar o que o carisma da unidade tem a dizer diante desses conflitos, qual a sua possível incidência… Lembro-me que Chiara, citando um episódio verdadeiro, ocorrido na Colômbia, disse que podemos deter as mãos de um terrorista simplesmente fazendo um ato de amor. Devemos fazer tudo isto comprometendo-nos a fazer mais e melhor, todos juntos».

Jesús Morán: « Essencialmente, trata-se de desenvolver os nossos típicos diálogos. Estes dias na assembleia, no meu grupo de reflexões, havia um muçulmano: ter um irmão de outra religião com quem compartilhar tudo não é uma questão trivial, um irmão que se sente representante do Movimento dos Focolares muçulmano. É um milagre! Esta presença do Movimento dos Focolares em terras islâmicas deve, portanto, ser desenvolvida, assim como deve ser promovido o nosso diálogo interreligioso. Parece pouco? Talvez, mas creio que seja algo fundamental. Uma chance que temos é a de ter contatos diretos com as pessoas do Movimento nesses lugares de sofrimento: é importante dar voz à realidade verdadeira, ao que está sendo vivido, através das palavras dos protagonistas. Isto significa muitas vezes transmitir uma visão dos fatos e dos problemas diferente daquela geralmente difundida pela mídia».

A Igreja e a sociedade se deparam com a questão da família. Neste campo, o Movimento dos Focolares tem uma longa experiência para oferecer …

Maria Voce: «Não podemos reduzir a questão da família na Igreja a um tema exclusivamente sacramental. Os sacramentos são sinais eficazes da graça, mas são sinais e pode haver outros também. Uma pessoa me escreveu depois de ouvir a introdução do meu tema sobre a Eucaristia, uma mulher separada que vive com um homem divorciado com filhos, a qual sente fortemente que é cristã e católica, e sente o desconforto por esta sua posição que, em certo sentido, coloca-a fora da Igreja Católica. Ela diz: “Eu nunca me senti fora dela e continuo a frequentar a Igreja. Quando vou pedir a bênção do sacerdote que está distribuindo o sacramento, Jesus entra também em mim. Eu tento viver, fazer a minha parte. Estou percorrendo um caminho”».

«Deus nos pede para ajudar a todos a seguirem o seu próprio caminho para a santidade, isto é, para se aproximar de Deus com os meios disponíveis (…). Chiara nos explicou as “fontes de Deus“: não enfatizou apenas a sua presença na Eucaristia, mas também outras presenças de Deus no mundo, como na Palavra e no irmão. Creio que o Movimento possa conter estas famílias; mas, uma vez que faz parte da Igreja, contendo essas pessoas, fazemos com que se sintam menos distantes, pois são abraçadas por uma porção da Igreja. Mais tarde, poderão ser propostas outras experiências, outros caminhos; vamos ver o que o Sínodo vai dizer. Mas parece ilusório pensar que surgirão soluções extraordinárias; creio que surgirão experiências plausíveis e eficazes, não tanto soluções universais».

Jesús Morán: «A questão da família antes de ser uma questão sacramental é antropológica. Está em causa o próprio plano de Deus sobre o homem, sobre a relação entre homem e mulher, sobre a relacionalidade como tal, portanto sobre a dinâmica do dom, das relações (que poderíamos definir “trinitárias”). Certamente são questões sérias e o Papa também afirmou isso: que o Sínodo não está sendo feito para resolver o problema dos divorciados, não é isso o que nos preocupa, porque poderão ser encontradas soluções já testadas nos séculos passados​​. O problema é muito mais grave: o que acontece com o homem de hoje, como cresce, que tipo de relacionalidade aprende e onde a aprende? Este é o verdadeiro problema da família. Conforta-nos saber que mesmo muitas vozes leigas, não necessariamente católicas, colocam a ênfase nesta questão da relacionalidade e no futuro da família e da humanidade».

1 Comment

  • Vorrei ringraziarvi molto per questo intervista. Le parole di Emmaus “pensare ai poveri e agli emarginati, ma partendo dal nostro specifico…. senza mai prescindere dal carisma”, nella vita concreta diventa un tutt’uno, del quale non si potrà mai più fare a meno! Così, recentemente, in un incontro di gestione delle nostre scuole del progetto sociale “Petite Flamme”, dopo aver rimesso a fuoco i nostri rapporti, chiedendoci reciprocamente scusa delle nostre mancanze, abbiamo trovato la soluzione soluzione d’un problema che da tanto ci premeva sul cuore. Momenti così sono fonte d’una energia impensata per ognuno personalmente e per tutta l’opera sociale, espressione concreta del carisma.
    Edi, Kinshasa

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