Fev 1, 2013 | Focolare Worldwide
Novas perspectivas para o pensamento jurídico e pistas concretas de aplicação já experimentadas: foi o que ofereceram os três dias de Congresso, de 25 a 27 de janeiro, na Mariápolis Ginetta (Vargem Grande Paulista, São Paulo), que reuniu 180 advogados, juízes, promotores públicos, defensores públicos, oficiais de justiça, agentes da administração pública e professores, provenientes de todo o Brasil.
Os numerosos depoimentos valorizaram e confirmaram os efeitos da fraternidade e o seu potencial. O projeto de “adoção do cidadão detento”, realizado em Pernambuco no âmbito do direito penal, com o qual professores e estudantes sustentam as despesas legais para os presos que não podem pagar os advogados; o projeto para a aplicação de penas alternativas para crimes ambientais na Amazônia, por meio de trabalhos em favor do ambiente; o trabalho do núcleo de pesquisa de “Direito e Fraternidade” do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal de Santa Catarina, para a formação de agentes do direito; a promoção da solução pacífica de conflitos por meio do diálogo e da conciliação. Foram tocados ainda o tema da mediação familiar e da aplicação da jurisprudência à proteção do mais fraco.
Durante o Congresso um amplo espaço foi dado aos numerosos estudantes, que puderam exprimir preocupações, questões e descobertas, narrar experiências e, principalmente, manifestar as próprias expectativas por uma formação humana e jurídica que possua horizontes de fraternidade. Na abertura, uma mensagem de Maria Voce, presidente do Movimento dos Focolares, advogada e uma das iniciadoras de “Comunhão e Direito”, grupo que exprime o diálogo dos Focolares com a cultura jurídica. Após ter recordado que «no amor para com o outro toda lei é respeitada, é interpretada e aplicada segundo justiça», Maria Voce propôs – após decênios nos quais salientou-se a tutela dos direitos individuais como «caminho para a igualdade» – uma reavaliação dos deveres, «os quais, se não são respeitados, não existem relacionamentos justos. Os deveres nos chamam à responsabilidade para com o outro como indivíduos e como comunidade, contribuindo assim para a manutenção e consolidação dos vínculos na sociedade».
Nesta fase de mudanças e crise, os trabalhos do Congresso demonstraram que a fraternidade, assumida como categoria jurídica, é como uma lente que faz ver a atuar a “novidade”. “Fraternidade” significa “inversão de tendência”: recorda à justiça o rosto de cada pessoa, leva a sair de um direito subjetivo individual, abrindo-o à visão da humanidade como um “nós”. Faz do direito não uma mera produção de normas, mas um instrumento para sanar relações rompidas. Uma proposta «de grande interesse, de enorme importância social, crucial para a sociedade, para a cultura e a civilização», como afirmou o cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, que participou da tarde do dia 26. «Foi descoberta uma mina de ouro – disse ainda o cardeal – é preciso continuar a escavar para oferecer esse ouro a todos»
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Retornou-se às cidades de proveniência com a missão de multiplicar a experiência vivida, e os compromissos assumidos o demonstram: estão previstos próximos congressos na Universidade de Santa Catarina e de Marília (SP), no Tribunal de Brasília e de Sergipe, nas cidades de Curitiba, Belo Horizonte e Manaus, além da formação de grupos para encontros periódicos, a fim de aprofundar os temas e realizar o intercâmbio de estudos e práticas.
Para saber mais: http://www.direitoefraternidade.blogspot.com.br/
Fev 1, 2013 | Palavra de Vida, Sem categoria
“Sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos”.
“Sabemos…”. O apóstolo se refere a um conhecimento que vem da experiência. É como se dissesse: nós experimentamos isso, nós o tocamos com as mãos. É a experiência que fizeram os cristãos por ele evangelizados, quando se converteram; ou seja: quando se coloca em prática os mandamentos de Deus, em particular o mandamento do amor para com os irmãos, se entra na própria vida de Deus.
Mas será que os cristãos de hoje conhecem essa experiência? Certamente eles sabem que os mandamentos do Senhor têm uma finalidade prática. Jesus insiste continuamente que não basta ouvir, mas é preciso colocar em prática a Palavra de Deus (cf. Mt 5,19; 7,21.24.26).
Por outro lado, o que não é ponto pacífico para a maior parte dos cristãos – ou por não saberem ou por terem disso um conhecimento meramente teórico, isto é, sem tê-lo experimentado – é esse aspecto maravilhoso da vida cristã, evidenciado aqui pelo apóstolo. Isto é: quando nós vivemos o mandamento do amor, Deus toma posse do nosso ser; e o sinal inconfundível disso é aquela vida, aquela paz, aquela alegria que Ele nos fez saborear já aqui na Terra. Então, tudo se ilumina, tudo se torna harmonioso. Não existe mais separação entre a fé e a vida. A fé torna- se aquela força que permeia e liga entre si todas as nossas ações.
“Sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos”.
Essa Palavra de Vida nos diz que o amor ao próximo é o caminho régio que nos leva a Deus. Visto que somos todos filhos seus, nada Ele deseja mais do que o nosso amor aos irmãos. Não lhe podemos dar maior alegria do que aquela que lhe damos quando amamos nossos irmãos.
E, uma vez que o amor fraterno nos traz a união com Deus, ele é uma nascente inesgotável de luz interior, é fonte de vida, de fecundidade espiritual, de renovação contínua. Ele impede que no povo cristão se formem gangrenas, escleroses, estancamentos; numa palavra, ele “nos faz passar da morte para a vida”. Quando, pelo contrário, não existe a caridade, tudo murcha e morre. Então, se compreendem certos sintomas tão difundidos no mundo em que vivemos: a falta de entusiasmo e de ideais, a mediocridade, o tédio, o desejo de fugir, a perda de valores, etc.
“Sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos”.
Os irmãos, aos quais se refere aqui o apóstolo, são sobretudo os membros da comunidade a que pertencemos. Se é verdade que devemos amar a todas as pessoas, não é menos verdade que esse nosso amor deve começar por aqueles que habitualmente vivem conosco, para depois se estender a toda a humanidade. Devemos, portanto, preocupar-nos primeiramente com os nossos familiares, os nossos colegas de trabalho, os membros da paróquia, da associação ou comunidade religiosa à qual pertencemos. O amor aos irmãos não seria autêntico e bem ordenado se não começasse por aqui. Onde quer que estejamos, somos chamados a construir a família dos filhos de Deus.
“Sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos”.
Esta Palavra de Vida nos abre perspectivas imensas. Ela nos impulsiona na divina aventura do amor cristão, que tem desdobramentos imprevisíveis. Antes de tudo nos lembra que, num mundo como o nosso, onde se teoriza a luta, a lei do mais forte, do mais esperto, do mais inescrupuloso, e onde às vezes tudo parece paralisado pelo materialismo e pelo egoísmo, a resposta a ser dada é o amor ao próximo. É esse o remédio que pode curar o mundo. De fato, quando vivemos o mandamento do amor, não só a nossa vida se fortalece, mas tudo ao nosso redor sente a influência. É como uma onda de calor divino, que se irradia e se propaga, impregnando as relações entre as pessoas e entre os grupos, transformando aos poucos a sociedade.
Sendo assim, vamos decidir-nos! Todos nós temos e sempre teremos irmãos a serem amados em nome de Jesus. Permaneçamos fiéis a esse amor. Ajudemos muitos outros a fazer o mesmo. Assim, experimentaremos em nossa alma o que significa a união com Deus. A nossa fé se reacenderá, as dúvidas desaparecerão, não saberemos mais o que é o tédio. A vida será plena, plena.
Chiara Lubich
Esta Palavra de Vida foi publicada originalmente em maio de 1985.