Movimento dos Focolares
Chiara Lubich: uma consciência de solidariedade universal

Chiara Lubich: uma consciência de solidariedade universal

Chiara Lubich e Nikkyo Niwano«Aqui fala-se muito da construção de uma casa européia comum, mas estamos convencidos de que esta ação tão necessária não será completa se não a considerarmos um detalhe da “aldeia global”, que é a Terra em que vivemos. Este pensamento me foi sugerido pela preocupação expressa na sua carta com as condições precárias do nosso ambiente natural (…).De fato, estão se multiplicando as análises alarmantes de cientistas, políticos, organismos internacionais sobre o nosso ecossistema. Muitos lançam propostas para curar o nosso mundo doente. A ecologia, no fundo, representa um desafio que se pode vencer somente mudando a mentalidade e formando as consciências. (…)Já foi demonstrado por muitos estudos científicos sérios que não faltam recursos técnicos nem econômicos para melhor o ambiente. O que falta é aquele suplemento espiritual, aquele novo amor pelo homem, que nos faz sentir responsáveis uns pelos outros, no esforço comum de administrar os recursos da Terra num modo inteligente, justo, moderado.(…) A distribuição dos bens no mundo, a ajuda às populações mais pobres, a solidariedade do Norte para com o Sul, dos ricos em relação aos pobres é a outra face do problema ecológico. Se os imensos recursos econômicos destinados à indústria bélica e a uma super produção, que requer o incremento de super-consumidores, sem falar no desperdício dos bens nos Países ricos, se esses enormes recursos servissem pelo menos em parte para ajudar o Terceiro Mundo a encontrar um caminho digno de desenvolvimento, como o clima seria mais respirável, quantas florestas seriam poupadas, quantas regiões não conheceriam a desertificação e quantas vidas humanas seriam salvas! (…) Mesmo assim, sem uma nova consciência de solidariedade universal nunca se dará um passo em frente. (…) Se o homem não está em paz com Deus nem sequer a Terra estará em paz. As pessoas que vivem a religião sentem o “sofrimento” da Terra quando o homem não a usa segundo o plano de Deus, mas só por egoísmo, por um desejo insaciável de possuir. Este egoísmo e desejo contaminam o ambiente ainda mais e pior do que qualquer outra poluição, que é só uma sua consequência. (…). Agora, essas consequências desastrosas nos obrigam a encarar a realidade juntos na perspectiva de um mundo unido: se não enfrentarmos este problema todos juntos, ele não se resolverá. (…) Se descobrirmos que toda a criação é um dom de um Padre que nos ama, será muito mais fácil encontrar uma relação harmoniosa com a natureza. E se descobrirmos também que este dom é para todos os membros da família humana, e não só para alguns, estaremos mais atentos e respeitaremos melhor algo que pertence à humanidade inteira, presente e futura». Leia mais

Salvaguarda da criação: sorrir ao mundo

Salvaguarda da criação: sorrir ao mundo

FotoAnsaPapaBanKimoonNenhuma antecipação sobre a encíclica do Papa Francisco sobre a Criação, mas uma grande expectativa pelo documento que será publicado no início de junho. “O mundo aguarda para escutar o seu ensinamento e o que dirá, seja na encíclica seja no seu discurso na Assembleia das Nações Unidas, no próximo dia 25 de setembro”, declarou Jeffrey Sachs, diretor da agência ONU para o Desenvolvimento Sustentável (UN sustainable Development Solutions Networks), um dos promotores do vértice, ao lado da Academia Pontifícia das Ciências e de Religiões pela Paz, da qual Maria Voce é uma das copresidentes. Estiveram presentes o secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, o presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, e da República do Equador, Rafael Vicente Correa. IMG_8049 Um encontro que reuniu cientistas, ecologistas, prêmios Nobel, líderes políticos e religiosos, para aprofundar o debate sobre as mudanças climáticas e o desenvolvimento sustentável, precisamente em preparação para a publicação da encíclica. Ponto central: as dimensões morais do compromisso pelo desenvolvimento sustentável. Por esse motivo, o envolvimento de comunidades religiosas, muito diferentes entre si, pareceu uma novidade e motivo de esperança. Para Maria Voce, emergiu desse vértice, “uma consciência nova de que, para obter algo positivo, é preciso estar juntos, porque ninguém tem sozinho a receita para sair das situações mais dramáticas. Revelou que a humanidade tem em si a capacidade de sair das crises, mas pode fazê-lo se existe uma sinergia de todas as suas componentes. Está emergindo a necessidade recíproca de escutar-se e realizar juntos”. TheEarthCube (1) E as respostas não podem ser apenas técnicas, mas precisam estar fundamentadas na dimensão moral e orientadas ao bem estar da humanidade, como afirmou o cardeal Turkson, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz. O progresso econômico, científico, tecnológico, introduziu estilos de vida inimagináveis para os nossos predecessores, mas possui também “lados escuros e custos inaceitáveis”. “Enquanto a sociedade global define-se sobre valores de consumo e indicadores econômicos, o privilegiado da vez fica entorpecido diante do grito dos pobres”. “De 7 bilhões de pessoas 3 vivem em condições de pobreza, enquanto uma elite consome a maior parte dos recursos”. E o assunto terminou, inevitavelmente, na alimentação, tema central da próxima Expo mundial 2015. Turkson denunciou com força a exploração do trabalho, o tráfico de seres humanos e as modernas formas de escravidão. Papa Francisco deplora esta “cultura do descarte”, recordou o cardeal, na “globalização da indiferença”. “A igreja não é uma especialista em ciência, ou em economia – declarou – mas é especialista em humanidade”. “Para vencer o desafio do desenvolvimento sustentável são necessárias a mesma conversão, transformação pessoal e renovação invocadas 50 anos atrás por Paulo VI, e encorajadas hoje pelo Papa Francisco”. “Uma possibilidade para agir concretamente nos é dada por uma iniciativa que se inspira no projeto de Eco One”, explicou Maria Voce numa entrevista. “Trata-se do ‘Dado da Terra’ (http://theearthcube.org/). Nos seis lados traz frases que ajudam a viver a tutela do ambiente: ‘sorria ao mundo!’, ‘descubra as belezas!’. Ensina também a viver a sobriedade, a tirar da terra somente o que de fato se precisa, como fazem as árvores. Trata-se de gestos cotidianos, atos concretos: não desperdiçar água, reciclar o lixo, reutilizar o que se pode. O último lado diz: ‘o tempo é agora, não espere pelo amanhã’. Estas iniciativas simples podem ser um apoio para quem quer colocar em prática o que o Papa diz, mas não sabe como fazê-lo”.  

Palavra de Vida – maio de 2015

Quando Deus apareceu a Moisés no monte Sinai, proclamou a própria identidade definindo a si mesmo: “O Senhor, o Senhor, Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel” (Ex 34,6). A Bíblia hebraica indica a natureza desse amor de misericórdia com uma palavra que faz lembrar o seio materno, lugar de onde provém a vida. E com outra palavra expressa ainda outros aspectos do amor-misericórdia: fidelidade, benevolência, bondade, solidariedade. Apresentando-se “misericordioso”, Deus mostra a sua dedicação para com cada uma de suas criaturas, como faz uma mãe pelo seu filho: ela o ama, está atenta a ele, protege-o, cuida dele. Maria, no Magnificat, canta a misericórdia do Todo-Poderoso, que “se estende de geração em geração” (cf. Lc 1,50). O próprio Jesus o diz, ao revelar Deus como um “Pai”, próximo e atento a todas as nossas necessidades, pronto a perdoar, a doar tudo aquilo de que temos necessidade: “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos”. O seu amor é realmente “rico” e “imenso”, como é definido pela Carta aos Efésios, na qual se encontra esta Palavra de Vida: “Mas Deus, rico em misericórdia, pelo imenso amor com que nos amou, quando ainda estávamos mortos por causa dos nossos pecados, deu-nos a vida com Cristo.” É como que um brado de alegria de Paulo, que brota quando se contempla a ação extraordinária realizada por Deus em nosso favor: estávamos mortos e nos fez reviver, dando-nos uma vida nova. A frase começa com um “mas”, indicando um contraste com aquilo que Paulo tinha constatado antes: a condição trágica da humanidade, esmagada por culpas e pecados, prisioneira de desejos egoístas e maus, sob a influência das forças do mal, em aberta rebelião contra Deus, merecendo portanto que se desencadeasse sobre nós a sua ira (cf. Ef 2,1-3). Pelo contrário, em vez de castigar – daí Paulo mostrar-se tão pasmado – Deus dá a vida: não se deixa conduzir pela ira, mas pela misericórdia e pelo amor. Jesus já tinha dado a entender esse modo de agir de Deus, por meio das parábolas: do pai que acolhe de braços abertos o filho que tinha decaído numa vida desumana; do bom pastor que vai à procura da ovelha perdida e a leva sobre os ombros para casa; do bom samaritano que trata as feridas do homem que tinha caído nas mãos dos assaltantes (cf. Lc 15,11-32; 3-7; 10,30-37). Deus, Pai misericordioso, simbolizado nas parábolas, não só nos perdoou, mas nos deu a própria vida de seu filho Jesus, deu-nos a plenitude da vida divina. Daí o hino de gratidão: “Mas Deus, rico em misericórdia, pelo imenso amor com que nos amou, quando ainda estávamos mortos por causa dos nossos pecados, deu-nos a vida com Cristo.” Esta Palavra de Vida deveria despertar em nós a mesma alegria e gratidão de Paulo e da primeira comunidade cristã. Também com relação a cada um de nós, Deus se mostra “rico em misericórdia” e “imenso no amor”, pronto a perdoar e a dar-nos nova confiança. Não existe situação de pecado, de dor, de solidão, na qual Ele não se torne presente, não se coloque ao nosso lado para acompanhar-nos no nosso caminho, em que não nos dê confiança, a possibilidade de ressurgir e a força de recomeçar sempre. Quando o Papa Francisco apareceu pela primeira vez para a oração do “Angelus”, em 17 de março de 2013, começou falando da misericórdia de Deus, tema que passou a abordar habitualmente. Na ocasião, ele disse: “O rosto de Deus é o de um pai misericordioso, que sempre tem paciência… que nos entende, nos espera, não se cansa de nos perdoar…”. Terminou essa primeira breve saudação lembrando que: “Ele é o Pai de amor que sempre perdoa, que tem aquele coração de misericórdia para com todos nós. E também nós, aprendamos a ser misericordiosos para com todos”. Essa última indicação nos sugere um modo concreto de viver a Palavra de Vida. Se Deus é rico em misericórdia e imenso no amor com relação a nós, também nós somos chamados a ser misericordiosos para com os outros. Se Ele ama pessoas más, inimigas de Deus, também nós deveríamos aprender a amar aqueles que não são “dignos de amor”, até mesmo os inimigos. Jesus não nos disse: “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”? (Mt 5,7); não pediu que fôssemos “misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”? (Lc 6,36). Também Paulo convidava suas comunidades, escolhidas e amadas por Deus, a se vestirem “com sentimentos de compaixão, com bondade, humildade, mansidão, paciência” (Cl 3,12). Se chegamos a acreditar no amor de Deus, também nós poderemos amar com aquele amor que assume toda situação de dor e de necessidade, que desculpa tudo, que protege, que sabe dedicar-se. Seremos testemunhas do amor de Deus e ajudaremos a todos aqueles que encontrarmos a descobrirem que também para eles Deus é rico em misericórdia e imenso no amor. Fabio Ciardi