Movimento dos Focolares

Palavra de Vida junho 2015

Quanto afeto na repetição deste nome: Marta, Marta. A casa de Betânia, a uns três quilômetros de Jerusalém, é um lugar onde Jesus costuma se deter para repousar com os seus discípulos. Lá fora, na cidade, Ele tem de enfrentar discussões, encontra oposição e rejeição, enquanto que aqui existe paz e acolhida. Marta é empreendedora e ativa. É o que ela demonstra também por ocasião da morte de seu irmão Lázaro, quando entra num diálogo sério com Jesus, no qual o questiona com energia. É uma mulher forte, que mostra uma grande fé. Diante da pergunta: “Crês que eu sou a ressurreição e a vida?”, ela responde, sem hesitar: “Sim, Senhor, eu creio” (cf. Jo 11,25-27). Também agora ela está atarefada na preparação de uma acolhida digna do Mestre e dos seus discípulos. Ela é a patroa, a dona de casa (como diz o próprio nome: Marta significa “patroa”) e, portanto, sente-se responsável. Provavelmente está preparando o jantar para o ilustre hóspede. Maria, sua irmã, deixou-a sozinha nas suas ocupações. Contrariamente aos hábitos orientais, em vez de permanecer na cozinha, fica escutando Jesus junto com os homens, sentada aos seus pés, exatamente como a perfeita discípula. Daí a intervenção um pouco ressentida de Marta: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda pois que ela venha me ajudar!” (Lc 10,40). Eis então a resposta afetuosa e ao mesmo tempo firme de Jesus: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária.” Será que Jesus não estava satisfeito com o espírito empreendedor e o serviço generoso de Marta? Não lhe agradaria a acolhida concreta e não apreciaria de bom grado as iguarias que lhe estava preparando? Pouco depois desse episódio, nas parábolas, Jesus elogia administradores, empresários e empregados que sabem fazer render talentos e negociar os bens (cf. Lc 12,42; 19,12-26). Elogia até mesmo a esperteza deles (cf. Lc 16,1-8). Portanto, não podia deixar de alegrar-se ao ver uma mulher tão cheia de iniciativa e capaz de uma acolhida dinâmica e abundante. O que Ele repreende é a ansiedade e a preocupação que ela põe no trabalho. Fica agitada, “sozinha com todo o serviço” (Lc 10,40), perdeu a calma. Não é mais ela quem orienta o trabalho, foi o trabalho que assumiu o comando e a tiranizou. Ela não está mais livre, tornou-se escrava da sua ocupação. Não acontece também conosco de às vezes nos perdermos nas mil coisas a serem feitas? Somos atraídos e distraídos pela internet, pelo WhatsApp, pelos SMS inúteis. Mesmo quando se trata de compromissos sérios que nos prendem, eles podem nos fazer esquecer que devemos estar atentos aos outros, escutar as pessoas que estão perto de nós. O perigo é sobretudo perder de vista por que e para quem trabalhamos. É deixar que o trabalho e as outras ocupações se tornem fim a si mesmos. Ou senão, somos tomados pela ansiedade e pela agitação diante de situações e problemas difíceis que dizem respeito à família, à economia, à carreira, à escola, ao futuro nosso ou dos filhos, até o ponto de esquecermos as palavras de Jesus: “Portanto, não vivais preocupados, dizendo: ‘Que vamos comer? Que vamos beber? Como nos vamos vestir?’ Os pagãos é que vivem procurando todas essas coisas. Vosso Pai que está nos céus sabe que precisais de tudo isso” (Mt 6,31-32). Também nós merecemos a repreensão de Jesus: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária.” Qual é a única coisa necessária? Escutar e viver as palavras de Jesus. Nada, absolutamente nada pode ser colocado acima delas – e Dele que fala. A verdadeira hospitalidade que podemos oferecer ao Senhor, fazê-lo sentir-se em casa, é acolher o que Ele nos diz. Justamente como fez Maria, que esqueceu tudo, colocou-se a seus pés e não perdeu uma só de suas palavras. Seremos guiados não pelo desejo de aparecer ou liderar, mas de agradar a Ele, de estar a serviço de seu reino. Tal como Marta, também nós somos chamados a fazer “muitas coisas” para o bem dos outros. Jesus nos ensinou que o Pai quer que demos “muito fruto” (cf. Jo 15,8) e que façamos até obras ainda maiores do que Ele (cf. Jo 14,12). Portanto, de nós Ele espera dedicação, paixão no trabalho que temos a executar, criatividade, ousadia, iniciativa. Mas sem ansiedade e agitação, com aquela paz que vem do fato de sabermos que estamos cumprindo a vontade de Deus. A única coisa que importa é, pois, tornarmo-nos discípulos de Jesus, deixarmos que viva em nós, estarmos atentos às suas sugestões, à sua voz sutil que nos orienta momento por momento. Desse modo será Ele quem nos guiará em todas as nossas ações. Ao executar as “muitas coisas” não estaremos distraídos e desatentos porque, seguindo as palavras de Jesus, seremos motivados somente pelo amor. Em todas as ocupações faremos sempre uma só coisa: amar. Fabio Ciardi

Eslováquia: o desafio de um jovem sacerdote

Eslováquia: o desafio de um jovem sacerdote

20150528-01«A minha paróquia atual encontra-se num bairro de Bratislava, capital da Eslováquia – comenta padre Ludovit. Conta com cerca de 4300 habitantes, dos quais 3500 são cristãos, em crescimento contínuo. Sabia que a minha primeira tarefa aqui, onde cheguei em julho de 2009, seria amar as pessoas com o amor de Jesus. Agora posso dizer que estou feliz. Nasceu uma comunidade muito bonita, com pessoas de idades diferentes e de todas as categorias sociais, provenientes de várias cidades da Eslováquia que descobriram um relacionamento novo com Deus, não só através da Bíblia e da oração, mas também através da vida comunitária e das várias atividades paroquiais. Aqui elas encontraram a alegria da fé pela qual vale a pena viver. Quando cheguei faltavam os jovens: o Estado tinha proibido novas construções e, portanto, os casais jovens tinham-se transferido para outros lugares. Além disso, não havia sido feito um trabalho de formação na fé, para as poucas crianças e adolescentes que viviam aqui. Encontrei três jovens com vontade de me ajudar, mas estavam mergulhados nos estudos e no trabalho. Então, convidei os adolescentes e os jovens que tinham sido crismados recentemente para um churrasco. Por respeito vieram, mas disseram que não iriam voltar: “Já recebemos a crisma, portanto, agora não precisamos mais frequentar a igreja”, disseram-me. Diante desta situação, procurei entregar tudo a Jesus. Desde setembro de 2009, ensino o catecismo em todas as classes da escola elementar e média (cerca de 150 crianças). Ao mesmo tempo, comecei a missa dominical para as famílias. Procurei aproveitar cada ocasião para criar novos relacionamentos com as pessoas: cumprimentar quando cruzo com alguém na rua, fazer uma visita, trocar algumas palavras no supermercado, no escritório ou na escola. E ainda: convidar para um lanche e para praticar esportes no campo de jogos da paróquia. Pouco a pouco, as pessoas começaram a participar. Progressivamente criou-se uma comunidade: crianças que não queriam faltar, jovens mães que descobriam serem próximas entre si pela idade dos filhos, pais que se convidavam para os vários trabalhos na igreja e na casa paroquial, mas também para irem jogar tênis ou para tomar uma cerveja juntos. Até o prefeito e alguns deputados começaram a participar. Um dia, Jesus mandou-me também a Blanka, atual diretora do coro e animadora de muitos eventos». «Muitas pessoas dizem que a nossa é “uma paróquia viva” – afirma Blanka. Apesar das nossas diferenças pessoais, constantemente procuramos aquilo que nos une, e voltamos sempre à fonte da unidade, do amor e do perdão, que é Jesus. Nós, pais, procuramos criar as condições práticas para que muitas atividades possam ser realizadas. Muitas vezes, devemos dar do nosso tempo, abrir mão do descanso ou deixar de lado os afazeres domésticos, porém é muito bonito ver que todos apoiam não só os próprios filhos, mas todos as “nossas” crianças. Como acontece com Michel, o meu filho autista já adolescente. Estou muito contente por ver que os outros jovens abrem as portas para ele e o acolhem, porque não o discriminam. Michel gosta muito deles e sente que todos são como a sua grande família». «Sou médica imunoalergologista, e trabalho no Hospital pediátrico universitário de Bratislava – continua Dagmar. O Centro pastoral e a creche paroquial, que foram construídos, tornaram-se como “polos” de várias atividades para os nossos filhos, e o número daqueles que participam está crescendo muito. Um dia, em maio de 2012, o padre Ludo perguntou-me se eu estava disponível para participar, como médica, num campo-escola de verão para adolescentes da nossa paróquia. No primeiro momento, respondi que não. Mas depois, lembrei-me dos rostos dos jovens que conhecia. Acabei por dizer que sim e já participo desta atividade há quatro anos! Tornei-me mais sensível ao sofrimento das crianças e aos seus medos por causa da saúde, quando estão longe dos seus pais. Esta experiência também ajudou-me a aprofundar o sentido de serviço aos outros». «Um encontro muito importante – conclui o padre Ludo – aconteceu no ano passado em Benevento (Itália), organizado pelo Movimento Paroquial. Os nossos jovens que participaram trouxeram “um novo encorajamento, uma nova força espiritual, um relacionamento mais próximo com Deus, – disseram – e, principalmente, a vontade de viver ‘comprometidos com o amor verdadeiro’, porque qualquer coisa que fazemos, se não tem amor, perde o seu valor e o seu significado”. Para mim foi uma confirmação de que a comunidade não só nasceu, mas consolidou-se, e baseia-se também na fé dos jovens. Portanto, o futuro também está garantido».