Abr 27, 2016 | Focolare Worldwide

Foto: Lorenzo Russo
«Ouvindo vocês falarem, me vieram à mente duas imagens: o deserto e a floresta. Eu pensei: estas pessoas, todos vocês, pegam o deserto para transformá-lo em floresta. Vão aonde tem o deserto, aonde não existe esperança, e fazem coisas que fazem com que este deserto se torne floresta. A floresta é cheia de árvores, é cheia de verde, mas desordenada demais… mas assim é a vida! E passar do deserto à floresta é um bonito trabalho que vocês fazem. Vocês transformam desertos em florestas! E depois se verá como podem ser organizadas certas coisas da floresta… Mas lá existe vida, aqui não: no deserto existe morte. Muitos desertos nas cidades, muitos desertos na vida das pessoas que não têm futuro, porque sempre existe – e evidencio uma palavra dita aqui – sempre existem os preconceitos, os medos. E estas pessoas devem viver e morrer no deserto, na cidade. Vocês fazem o milagre com o trabalho de vocês de transformar o deserto em florestas: vão em frente assim. Mas como é o plano de trabalho de vocês? Não sei… Nós nos aproximamos e vemos o que podemos fazer. E esta é a vida! Porque se deve pegar a vida como ela vem. É como o goleiro no futebol: pega a bola de onde a chutam… vem para cá, para lá… Mas não é preciso ter medo da vida, não ter medo dos conflitos. Uma vez alguém me disse – não sei se é verdade, se alguém quiser pode verificar, eu não verifiquei – que a palavra conflito na língua chinesa é feita por dois sinais: um sinal que significa “risco”, e outro sinal que significa “oportunidade”. O conflito, é verdade, é um risco, mas também é uma oportunidade. O conflito, podemos pegá-lo como uma coisa de que devemos nos afastar: “Não, lá existe um conflito, eu fico longe”. Nós cristãos sabemos bem o que fez o levita, o que fez o sacerdote, com o pobre homem caído na estrada. Foram por outra estrada para não ver, para não se aproximar (cfr. Lc 10,30-37). Quem não arrisca, nunca consegue se aproximar da realidade: para conhecer a realidade, mas também para conhecê-la com o coração, é necessário se aproximar. E se aproximar é um risco, mas também uma oportunidade: para mim e para a pessoa da qual me aproximo. Para mim e para a comunidade da qual me aproximo. Penso nos testemunhos que vocês deram, por exemplo, na prisão, com todo o trabalho de vocês. O conflito: jamais, jamais, jamais voltar as costas para não ver o conflito. Os conflitos devem ser assumidos, os males devem ser assumidos para serem resolvidos. 
Foto: Lorenzo Russo
O deserto é feio, seja aquele que está no coração de todos nós, seja aquele que está na cidade, nas periferias, é uma coisa feia. Inclusive o deserto que existe nos condomínios protegidos… É feio, lá também existe o deserto. Mas não devemos ter medo de ir até o deserto para transformá-lo em floresta; existe vida exuberante, e se pode ir enxugar muitas lágrimas para que todos possam sorrir. Isto me faz pensar muito naquele salmo do povo de Israel, quando era prisioneiro na Babilônia, e diziam: “Não podemos cantar os nossos cânticos, porque estamos em terra estrangeira”. Tinham os instrumentos, lá com eles, mas não tinham alegria porque eram reféns em terra estrangeira. Mas quando foram libertados, diz o Salmo, “não podíamos acreditar, a nossa boca se encheu de sorriso” (cfr. Sal 137). E assim nesta passagem do deserto para a floresta, para a vida, existe o sorriso. Eu lhes dou uma tarefa para fazer “em casa”: olhem um dia o rosto das pessoas quando forem pela rua: estão preocupados, cada um está fechado em si mesmo, falta o sorriso, falta a ternura, em outras palavras a amizade social, nos falta esta amizade social. Onde não existe a amizade social sempre existe o ódio, a guerra. Nós estamos vivendo uma “terceira guerra mundial em pedaços”, por toda a parte. Observem a carta geográfica do mundo e verão isto. Ao invés, a amizade social, muitas vezes deve ser feita com o perdão – a primeira palavra – com o perdão. Muitas vezes se faz com a aproximação: eu me aproximo daquele problema, daquele conflito, daquela dificuldade, como ouvimos que fazem estes e estas jovens corajosos nos locais de jogos de azar onde muita gente perde tudo, tudo, tudo. Em Buenos Aires vi mulheres idosas que iam ao banco para retirar a pensão e logo depois ao cassino, logo depois! Aproximar-se do local do conflito. E estes [jovens] vão, se aproximam. Aproximar-se… E há também outra coisa que tem a ver com o jogo, com o esporte e também com a arte: é a gratuidade. A amizade social é feita na gratuidade, e esta sabedoria da gratuidade se aprende, se aprende: com o jogo, com o esporte, com a arte, com a alegria de estar juntos, com o aproximar-se… É uma palavra, gratuidade, para não ser esquecida neste mundo, onde parece que se você não paga não pode viver, onde a pessoa, o homem e a mulher, que Deus criou bem no centro do mundo, para estar também no centro da economia, foram expulsos e no centro temos um belo deus, o deus dinheiro. Hoje, no centro do mundo, está o deus dinheiro e aqueles que podem se aproximar adorando este deus se aproximam, e aqueles que não podem acabam na fome, nas doenças, na exploração… Pensem na exploração das crianças, dos jovens. Gratuidade: é a palavra-chave. Gratuidade que faz de tal modo que eu dê a minha vida assim como é, para ir com os outros e fazer com que este deserto se torne floresta. Gratuidade, esta é uma coisa boa! E perdão, também, perdoar. Porque, com o perdão, o rancor, o ressentimento se afasta. E depois, construir sempre, não destruir, construir. Isso, estas são as coisas que me vêm em mente. E como se faz isto? Simplesmente conscientes de que todos temos algo em comum, todos somos humanos. E nesta humanidade nos aproximamos para trabalhar juntos. “Mas eu sou desta religião, daquela…” Não importa! Avante todos para trabalharmos juntos. Respeitar-se, respeitar-se! E assim veremos este milagre: o milagre de um deserto que se torna floresta. Muito obrigado por tudo aquilo que vocês fazem! Obrigado». Dia mundial pela Terra 2016 PALAVRAS DO SANTO PADRE FRANCISCO DURANTE A VISITA À MANIFESTAÇÃO “ALDEIA PELA TERRA” Roma, Villa Borghese Domingo, 24 de abril de 2016 Fonte: vatican.va Papa Francisco na Mariápolis https://vimeo.com/164233694 https://vimeo.com/164066584
Abr 27, 2016 | Focolare Worldwide
Encontro. Reconciliação. Futuro. Três palavras que encerram o significado do encontro em Munique, na Karlsplatz (Stachus), onde terá lugar a manifestação promovida por mais de 300 movimentos e comunidades de várias igrejas cristãs. Objetivo: reflectir em conjunto sobre os desafios em aberto da Europa e pôr em evidência testemunhos da sociedade civil que, organizada numa rede por vezes desconhecida, mas muito ativa, se entrega ao acolhimento, à solidariedade com os mais fracos e carenciados, como ponte entre o leste e o oeste, e à superação dos conflitos, explícitos ou latentes. «A Europa: que tem ela a dizer, ou melhor a dar, ao mundo?» – pergunta-se a presidente dos Focolares, Maria Voce, a propósito dos objectivos de JpE. «A experiência destes dois mil anos de cristianismo que fez amadurecer ideias, vida, acções, que servem para o mundo atual… mas que infelizmente, até hoje, não vieram muito em evidência. Neste momento, o que vem mais em relevo na Europa são as dificuldades, os dramas, os muros, a intolerância, e não tanto o muito bem que existe». Na Evangelii Gaudium, o Papa Francesco fala das ‘cidades invisíveis’, aquele “tecido conjuntivo em que grupos de pessoas partilham os mesmos modos de sonhar a vida, bem como imaginários semelhantes, formando assim novos sectores humanos, em territórios culturais, em cidades invisíveis” (EG 74). “Mas logo em seguida – explica Jesús Morán, co-presidente dos Focolares – o Papa diz que estas cidades invisíveis estão carregadas de ambivalência. Estes territórios culturais estão cheios de violência e de marginalidades, pois as máfias também são cidades invisíveis. Ora, com esta fraternidade animada pelo amor» – que também é específica do ‘Juntos pela Europa’ – «queremos mostrar as cidades invisíveis do bem, onde há boas práticas, onde os refugiados são acolhidos, onde existe a comunhão». Quais são as expetativas para a realização deste evento europeu que se celebra na vigília dos 500 anos da Reforma, numa conjuntura muito especial, em que o continente se encontra cada vez mais em crise, também por causa da incapacidade de responder como corpo à crise de emigrantes? Falámos disto com Ilona Toth (húngara) e Diego Goller (italiano), ambos envolvidos pessoalmente, enquanto membros do Movimento dos Focolares, na preparação do Juntos pela Europa. «Recentemente, na sede da Comunidade de Santo Egídio, reuniu-se a Comissão do “Juntos pela Europa”, na qual estão representados os diversos movimentos que animam este caminho. Foi um momento de discussão e elaboração de ideias. Um ano antes do aniversário da Reforma de Lutero (1517-2017), queremos mostrar que já existe uma rede de cristãos unidos, que trabalham com os movimentos e as várias Igrejas» – explica Diego Goller. «Procuramos antecipar os tempos e dar um sinal de que neste Juntos há o sinal de uma unidade realizada, não de forma institucional ou teológica, mas no seu verdadeiro ser, na sua essência, na reconciliação: “Quinhentos anos de divisão é muito tempo” – é este o título de um dos momentos da manifestação. Movemo-nos também na linha daquilo que o Papa Francisco e o Patriarca Kirill pediram, na declaração conjunta: que os cristãos da Europa oriental e ocidental se unam para juntos testemunharem o Evangelho». «Trata-se de uma ação, no sentido mais nobre do termo» – afirma Ilona Toth. «A finalidade é mostrar o bem que existe. A profecia de Juntos pela Europa é inerente ao seu nome. Juntos! Este é o nome da fraternidade. Entre nós cristãos e, numa escala maior, com pessoas de outras religiões e de outras culturas. Depois há o lado político, onde o Juntos se realiza: os carismas são a resposta em ação aos problemas, também políticos, das cidades». «Em Munique – conclui ela – queremos mostrar esta corrente de bem que já está em ação, fruto também dos valores do cristianismo, amadurecidos ao longo dos séculos e trazidos à tona pelos carismas». A manifestação de 2 de julho será precedida de um Congresso dos Movimentos (30 de junho e 1 de julho), no Circus-Krone-Bau: 17 forum e 19 mesas-redondas envolvendo expoentes das diversas Igrejas, da política, da sociedade civil, sobre temas da actualidade. Em preparação do evento de Munique, no passado dia 21 de abril, em Genève, junto do Conselho Ecuménico das Igrejas, realizou-se uma mesa-redonda, sob o título: “Europa: que identidade? que valores?” Todas as informações sobre a manifestação em www.together4europe.org Maria Chiara De Lorenzo