Movimento dos Focolares

Colômbia após a visita de Francisco

Set 13, 2017

Reflexões dos Focolares em seguida à histórica viagem do Papa. A caminhada rumo à paz parte da reconciliação e justiça sociais. A voz dos jovens por uma cultura do encontro.

20170910Papa-Cartagena-San-Francisco-Jose-MIguel-Gomez4274

20170910Papa-Cartagena-San-Francisco-Jose-MIguel-Gomez4274

Os olhos do mundo, crentes e não crentes, nos dias passados estiveram apontados para a Colômbia. Também a comunidade dos Focolares participou ativamente, através das paróquias, na preparação e no desenrolar da visita do Papa. Susan Nuin, focolarina e membro do Celam (Conselho Episcopal Latino-americano), organismo da Igreja católica que reúne os bispos da América Latina e do Caribe, explica: «Alguns elementos emergiram de maneira muito forte. O primeiro, a presença do Estado, na pessoa do presidente e de todos os representantes do governo. No passado, o Governo, muito fraco e absorvido pelo narcotráfico e pela guerrilha, agora está empenhado em primeira fila no processo de reconciliação. O segundo, o tema da reconciliação popular, ligado ao da justiça social: de fato, a Colômbia é o país com o maior percentual de desigualdade social». Sole Rubiano, responsável pela editora Ciudad Nueva, explica numa entrevista à AGI: «Na teoria todos são a favor da paz, mas nem todos entendem que são necessárias a inclusão e a equidade». Na Colômbia se tornou possível um fato que em outras partes não tem precedentes: «Vítimas e carnífices – explica Susanna Nuin – rezaram juntos e se abraçaram. Nem mesmo na África do Sul e nas ditaduras latino-americanas vítimas e carnífices se colocaram no mesmo plano, em pé de igualdade. Não bastam as leis e os acordos institucionais para que se resolvam os conflitos, é preciso o encontro pessoal entre as partes. O Papa Francisco criou uma consciência popular que antes não existia». Em Villavicencio (500.000 habitantes, a sudeste de Bogotá), o Papa encontrou 3 mil representantes das vítimas de violência (150 mil, só na cidade), militares, agentes de polícia e ex-guerrilheiros. É o momento central da visita, o encontro de oração pela reconciliação nacional no Parque Las Malocas. No centro da cena, sobre o altar, o Crucifixo despedaçado e amputado de Bojayá (que no dia 2 de maio de 2002 assistiu e sofreu o massacre de dezenas de pessoas refugiadas na igreja) exprime o drama das vítimas. Sucedem-se testemunhos dos membros das já ex-Farc (Fuerzas armadas revolucionarias de Colombia), de paramilitares, de uma mulher que sofreu abusos de todos os tipos. No mesmo dia (8 de setembro), numa carta, o líder das Farc escreveu ao Papa, pedindo perdão por “toda dor provocada no povo da Colômbia”. Uma jovem, Nayibe, escreve: «Fiquei muito impressionada com as palavras do Papa Francisco diante do Cristo de Bojayá: “para nós, o Cristo amputado é ainda mais Cristo, porque nos demonstra que veio para sofrer pelo seu povo”». Um dia, definido por muitos, histórico, no qual emergiram a coragem e a capacidade de sofrer e de recomeçar do povo colombiano. Cartagena de Índias, no Norte da Colômbia, debruçada sobre o Mar do Caribe, hospeda o Santuário de São Pedro Claver (1581–1654, proclamado santo em 1888), o jesuíta espanhol que se dedicou às vítimas do tráfico de escravos. Por proposta dos jesuítas, após o acordo de paz entre o governo e as Farc, que pôs fim a um conflito que durou mais de 50 anos, com 200 mil mortos e dezenas de milhares de desaparecidos, é a capital natural dos direitos humanos. Aqui o Papa visitou os bairros mais pobres, indo também à casa de uma mulher, Lorenza Perez, que a 77 anos cozinha e distribui as refeições para quem precisa. «Sou a mais pobre dos pobres – é ela mesma que fala –, mas o Papa escolheu justamente a minha casa para dizer ao mundo que ame mais quem é descartado». Susanna Nuin explica: «Os discursos do Papa tiveram duas dimensões: uma conceitual, com esclarecimentos precisos e fortes; e uma gestual, para exprimir proximidade a um povo que sofreu muito. A sua partida deixou em nós uma forte saudade, mas também uma sensação de plenitude. A sua visita incutiu no coração do povo colombiano um novo modo de viver, não em posição passiva, esperando uma paz que nunca chegará, sucumbindo a uma polarização que torna impossível uma convivência pacífica». Fundamental o papel dos jovens, que se sentem investidos da tarefa que lhes foi confiada. Yolima Martínez lembra o apelo do Papa: “Vocês jovens têm uma sensibilidade particular para reconhecer o sofrimento dos outros”.E Laura Isaza: «A paz é um percurso que envolve todas as gerações, mas a nossa de modo especial». Manuel lhe faz eco: «A visita do Papa esclareceu para os colombianos que a paz não é um conteúdo político, mas uma cultura a ser construída. Como membros dos Focolares nos sentimos ainda mais comprometidos em ouvir o Papa Francisco quando fala de cultura do encontro, que devemos continuar a promover e construir».

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

Novo curso no CEG: encarnar a sinodalidade nas realidades em que vivemos

Novo curso no CEG: encarnar a sinodalidade nas realidades em que vivemos

No dia 03 de novembro de 2025, se iniciará a quarta edição do curso de formação para a sinodalidade organizado pelo Centro Evangelii Gaudium (CEG) do Instituto Universitário Sophia, intitulado “Práticas para uma Igreja sinodal”. Maria do Sameiro Freitas, secretária geral do CEG, moderadora do Curso de Formação para a Sinodalidade, responde nossas perguntas.