«Nascemos em duas famílias tradicionais e conservadoras de Tlemcen, cidade muito antiga, berço da cultura árabe-muçulmana – conta Farouk. Somos casados há 42 anos, temos três filhos e duas netas. Durante o primeiro ano de matrimônio, como acontece com muitos casais, descobrimos que tínhamos caráteres diferentes e isso provocava atritos entre nós. O encontro com o Movimento dos Focolares fez-nos entender que devíamos tomar um caminho de amor verdadeiro. Esta experiência preencheu-nos do amor de Deus e permitiu-nos dar os primeiros passos, um para com o outro. Tínhamos um tal desejo de conhecer profundamente a espiritualidade da unidade que a nossa vida começou a se desenrolar entre Orano, aonde moramos, e Tlemcen, onde está o centro do Movimento dos Focolares. Começamos a compartilhar a nossa fé muçulmana e a compreender como encarnar a espiritualidade da unidade no nosso credo. Ao nosso redor, em Orano, formou-se uma pequena comunidade, e a nossa casa tornou-se um lugar de encontro, um “Farol”, como a própria Chiara Lubich quis chamá-la. Muitos muçulmanos conheceram o focolare e começamos a partilhar tudo entre nós, alimentados e enriquecidos por um amor sobrenatural. A guerrilha no nosso país, no início da década de 1990, nos recordava as circunstâncias análogas do nascimento do Movimento, a descoberta de Deus como único Ideal».
«Durante o período da adolescência dos nossos filhos – continua Schéhérazad – vivemos uma fase bastante turbulenta. Procuramos manter o diálogo com eles e, principalmente, o amor filial. Podemos dizer que, com os dois mais velhos, conseguimos criar uma relação embasada na sinceridade. Na comunidade dos Focolares eu escutava testemunhos nos quais se falava de Deus Amor. Aprendia aos poucos a abandonar-me com confiança à Deus, à sua misericórdia. Tomando este caminho espiritual libertei-me do meu eu, dos meus medos nas relações com as pessoas. O empenho de colocar Deus no primeiro lugar é certamente pessoal, mas fizemos a opção de fazê-lo enquanto família. Reconhecer os próprios limites e os dos outros é uma ginástica que nunca termina, é preciso recomeçar sempre, pedir perdão e recomeçar». «No Islamismo – explica Farouk –, a oração é um momento solene. As nossas orações antes não eram regulares, e cada um as fazia sozinho. Agora procuramos fazê-las juntos, por amor, não como uma obrigação. Muitos jovens da região subsaariana vêm estudar na Argélia. Entre estes alguns frequentam o focolare. Procuramos ir ao encontro de suas necessidades, até porque muitas vezes eles não se sentem integrados socialmente. Um desses jovens, cristão, morou um ano e meio conosco, e construímos com ele um relacionamento tão profundo que nos considerava como seus segundos pais; com frequência nós emprestávamos a ele o nosso carro, para que fosse à Missa». «Na comunidade dos Focolares – é novamente Schéhérazad – existe uma interação sincera, sem ambiguidades sobre a fé. Nós aprendemos a conhecer a fé cristã. Cada conhecimento é feito no respeito a cada um, com um amor desinteressado, que não quer converter o outro, mas o ajuda a ser mais ele mesmo. Quando encontro um cristão é natural ver nele um irmão a ser amado. Não nascemos para competir, mas para construir um projeto comum. Construir a unidade não é algo já descontado, mas é um compromisso que deve ser constantemente renovado. Juntos, muçulmanos e cristãos, podemos avançar rumo ao “Uno que unifica”. Na nossa vida, graças a Chiara Lubich, entendemos que este Uno unificador se realiza se dois irmãos, duas irmãs, se amam, dispostos até a dar a vida um pelo outro».
Ouvir atentamente, falar conscientemente
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