Angiolino, o “descentralizado”: penso que esta seria a definição mais apropriada para ele. Alguém que encontra o seu “centro” não no próprio eu, mas no outro. “Viver descentralizado”, tornou-se para Angiolino Lucchetti o impulso da sua vida. Foram 75 anos transcorridos em vários lugares da Itália, depois na Bélgica e na Argentina, e agora, há alguns anos, em Roma. «No início aqui em Roma não me sentia muito à vontade: conhecia pouca gente. Ao mesmo tempo, sentia a necessidade de fazer alguma coisa pelos outros, que muitas vezes pareciam cansados, stressados, insatisfeitos, mergulhados nos seus problemas. Com simplicidade comecei a fazer amizade com quem encontrava, começando pelos negociantes, o florista, o garçom do bar, o jornaleiro… Mas, principalmente, com os pobres que pedem esmola. Muitas vezes, quando vou à igreja, vejo-os virem ao meu encontro até quatro ou cinco ao mesmo tempo. Um pede dinheiro, outro, um par de calças ou alguma roupa. Mas também quando não tenho nada para dar, converso com eles e sentem-se acolhidos. De vez em quando, vou visitar um romeno que, por causa de um acidente, tem uma perna imóvel: é casado, tem uma filha e considera-me como seu pai. Quando alguém me diz que não comeu nada naquele dia, convido-o para ir ao bar ou vou comprar alguma coisa para ele. Hasamed de Bangladesh sustenta a família limpando os vidros dos carros. Quando insiste para pagar-me um cappuccino, deixo que o faça por respeito à sua dignidade. Se alguma necessidade supera as minhas possibilidades, peço ao Pai Eterno; e muitas vezes a resposta chega. Uma vez, quando não sabia mais como ajudar uma senhora romena, que passava grandes necessidades, dei-lhe a minha corrente de ouro. Às vezes, sem ligar para quem olha para mim (há muito tempo, perdi o respeito humano), sento com eles para ouvi-los… Não resolvo os seus problemas, mas pelo menos sentem que alguém os quer bem. Este meu comportamento não é sempre bem visto. Uma vez, fui até ameaçado: «Você dá muita confiança para aquelas pessoas, depois elas aproveitam-se e vem roubar. Se continuar assim, vou denunciá-lo à polícia!». Quanto a mim, vou em frente do mesmo modo, porque estou convencido de que o exemplo arrasta. Como aconteceu-me uma vez: chovia e vi chegar um sem-abrigo idoso, que subia dos Museus Vaticanos, todo molhado, mal conseguia manter-se de pé, tinha os sapatos rasgados. Cheirava a vinho e isto acontecia com frequência! Tinha acabado de receber algum dinheiro a mais da pensão. “Vem que vou comprar-te um par de sapatos”. Enquanto entrava na loja um senhor disse-me: «Quero contribuir com dez euros». Também descobri que tenho um certo talento para palhaço usando para as minhas brincadeiras um metro de madeira dobrável. Aquilo que angario nos “espetáculos” serve para ajudar alguns seminaristas estrangeiros que ficaram sem dinheiro, porque o bispo, que os ajudava, faleceu, ou outros, no Congo, que não poderiam continuar os estudos. Também ajudei um casal que não sabia como pagar o custo do parto cesariana e agora têm uma filhinha. De vez em quando, conto estas coisas a outras pessoas. Por duas vezes, o meu barbeiro não aceitou o pagamento e disse-me: «Manda este dinheiro para o Congo». Viver assim é um investimento. Por exemplo, às vezes, saio de casa sentindo-me um pouco pesado por causa de algum problema pessoal, mas quando vejo algum dos meus amigos pobres digo a mim mesmo: coragem, Angiolino, deixa isso de lado e dá um sorriso… Assim, esquecendo-me de mim mesmo, sinto-me feliz e livre novamente. Fonte: Città Nuova online
Acolher as diferenças, procurar aquilo que nos une
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