
Por Paulo VI em audiência (1975)
Você teve oportunidade de ser recebida por Paulo VI em audiência várias vezes. Qual a sua impressão mais forte desses momentos? Lembro- me sempre da primeira audiência
, responde
Chiara Lubich. Tive a sensação de estar diante de uma pessoa que ama de modo especial. O Papa pronunciava palavras plenas daquela sabedoria que supera todos os obstáculos jurídicos vigentes até o momento. Compreendia, acolhia completamente no seu coração a complexa obra que lhe apresentávamos. Encorajou-me a dizer tudo, porque ali “nada era impossível”. Senti uma sintonia perfeita entre aquilo que o Papa me dizia e o que parecia vir de Deus para a edificação desta obra. Essa impressão foi muito forte; tive a sensação de que aquele estúdio onde o Papa recebe as pessoas, não tivesse um teto e que céu e terra se unissem. (…)
Durante estes colóquios, qual lhe pareceu ser a força que impulsiona as ações do Papa? Sem dúvida o esforço de adequar-se à sua especial vocação de amar mais do que todos, que lhe é pedida por Jesus e que lhe confere, além do primado da autoridade, o primado da caridade. A pergunta de Jesus a Pedro: «tu me amas mais do que estes outros», constitui o tormento, a contínua atenção de Paulo VI. Ele disse uma vez que quem, durante as audiências públicas, não se contenta em olhar apenas para o espetáculo exterior pode conseguir captar um segredo presente ali. Esse segredo, causa de alegria e de tormento para o Papa, está expresso na palavra “mais”: «tu me amas mais». (…)
Na sua opinião, qual é a típica atitude do Papa em relação às pessoas? Paulo VI ama a todos sem medo e por isso já estabelece entre fiéis ou não, uma certa unidade. Ele se doa a todos de maneira impressionante. Muitos evangélicos, das mais variadas denominações, ficaram tocados com a atitude do Papa, por aquele amor que o consuma, pelo fato de que ele – como diz o Apóstolo – se faz tudo a todos. (…) É o Papa do diálogo com o mundo, é o papa que vê a humanidade como uma única família em potencial. A sua presença é sobrenatural e acolhedora, profundamente humana, próxima a todos, esquecido de si, humilde como o “servo dos servos de Deus”. (…)
O que responderia a quem criticasse Paulo VI julgando-o incerto e contraditório nas opções do seu pontificado? (…) Nele, mais do que em ninguém, está presente e age o Espírito Santo. Ora, o Espírito Santo, alma da Igreja, nela suscita tensões que são sinal de vida, como por exemplo, aquela entre pluralismo e verdade, personalidade e socialidade, liberdade e graça, ciência e caridade, primado e colegialidade. (…) Estas tensões podem parecer contraditórias e paradoxais, por vezes desconcertantes. Quem, pelo contrário, olha a Igreja por dentro, vê que o Espírito Santo harmoniza tudo magnificamente na unidade do Corpo místico. O mesmo se pode dizer sobre aquilo que o Espírito Santo realizou em Paulo VI. O Papa (…) foi fiel como ninguém ao patrimônio da Revelação, assim como àquilo que o Espírito Santo inspirou para o bem da Igreja. Se, por exemplo, na “Humanae vitae”, se nota a sua fidelidade ao Espírito Santo na Tradição, no diálogo com o mundo toca-se concretamente a fidelidade de Paulo VI ao mesmo Espírito que põe em evidência os “sinais dos tempos”. (…) É necessário lembrar que a barca de Pedro não transporta a pacífica igreja triunfante, mas a igreja terrena, açoitada por todos os possíveis ventos do mundo. Um Papa deve tomar suas decisões em nome de Cristo que representa, no meio de um conjunto massacrante de vozes que pressionam quase sempre em sentido contrário à religião. Por isso a prudência nunca é demasiada. Paulo VI não foi incerto mas prudente. Demonstra-o o fato de ter sido extremamente corajoso, por exemplo, ao enfrentar a impopularidade, para permanecer na amizade com Cristo e com os seus, que não são do mundo. Prudência, coragem, amor universal, são as mais preciosas qualidades para quem deve, servindo, governar a humanidade.
Siehe auch:
Releases. A gratidão do Movimento dos Focolares por Paulo VI
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