“Em 1965 eu era menino e nunca poderia imaginar que teria vivido uma aventura tão fascinante como a do diálogo, seguindo o caminho aberto pela Nostra Aetate [a profética Declaração conciliar que marcou a abertura da Igreja a um diálogo construtivo e positivo com as diferentes tradições religiosas do mundo]. Olhando o passado não posso deixar de ser grato a Deus, mas, também, a dezenas de pessoas que encontrei durante este caminho que, jamais pensara em percorrer. A começar pelos meus familiares, com os quais eu aprendi que é sempre melhor dialogar que entrar em choque e, depois, com os colegas da universidade, da contestação dos anos setenta; com os jovens dos Movimentos católicos, ambiente no qual cresci; com o mercado do trabalho, no qual eu me inseri quando tinha ainda 20 anos. Com pessoas da Ásia, das Américas, da África e de diversas regiões do mundo, inclusive a Nova Zelândia e a Austrália. Uma riqueza imensa, ao longo de um caminho que o mundo, em 1965, não poderia nem mesmo imaginar.” É uma lembrança pessoal, suscitada pelo simpósio para celebrar os 50 anos da conclusão do Concílio Vaticano II (Georgetown, Washington, 22-24 de maio), organizado pelo Ecclesiological Investigation, um grupo de teólogos que se encontram uma vez por ano e que discutem sobre um tema particular. Neste ano o tema escolhido foi “Vaticano II, relembrando o futuro”, e não faltaram representantes de Roma, entre os quais o Cardeal Kasper e o Cardeal Tauran.
Continua Roberto Catalano: “A conferência foi de grande valor, com discursos em plenária, mas, também, sessões paralelas com profundos fundamentos teológico e cultural. Foi grande a abertura humana e intelectual, o desejo de aprofundar o grande evento que foi o Concílio, sob diversos pontos de vista: geográfico sem dúvida, mas, sobretudo, aprofundar as perspectivas e os conteúdos. Alguns discursos procuraram contextualizar quando e porque aconteceu entre 1962 e 1965. Outros trataram os aspectos históricos que conduziram à realização do evento conciliar. Mas, foram importantes também as leituras sobre o que aconteceu depois e como estes 50 anos não foram suficientes para a sua concretização. As opiniões foram recebidas em uma atmosfera de grande escuta, interesse e abertura intelectual e espiritual”. “Mesmo entre as diversas posições, após esses dias de estudo depois de cinquenta anos, o Concílio foi visto como um evento que transformou a Igreja e a humanidade. É impressionante, especialmente, a dimensão profética que caracterizou de maneira especial os documentos que foram promulgados na conclusão do Concílio”. E exatamente nesta dimensão da profecia fundamentou-se também o discurso de Roberto Catalano sobre o papel de alguns movimentos, como os Focolares e de Santo Egídio, na atualização da Nostra Aetate. O diálogo como dever, como cultura do encontro, diálogo como peregrinação e diálogo como pensamento aberto e empático, foram alguns dos pontos desenvolvidos por ele. Um dos dias do simpósio foi totalmente dedicado ao ecumenismo e ao grande significado do Concílio neste aspecto. Seguiram-se pronunciamentos de católicos, luteranos, presbiterianos, ortodoxos e membros das igrejas episcopais: “Não faltaram os momentos sombrios pelas ocasiões perdidas e pelos obstáculos que ainda perduram para uma real comunhão entre as várias Igrejas. Mas, o discurso mais significativo, marcado por alguns minutos de intenso aplauso na Catedral Nacional (episcopal), foi o do cardeal Walter Kasper que, após uma análise magistral da história e dos aspectos teológicos da questão ecumênica, concluiu com o seu otimismo pragmático, mas de amplo alcance: “A unidade, talvez, já começou!” (Unity perhaps has already started!). “Nós nos damos conta – conclui Catalano – que nestes 50 anos foram dados passos enormes e que a unidade nunca será um ‘retorno’ ou uma unificação, mas, uma ‘comunhão’.”
Curar as feridas que encontramos nos outros
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