Movimento dos Focolares

A diversidade entre as Igrejas: um desafio e uma imensa riqueza

Out 22, 2015

O testemunho de Beatriz Sarkis, focolarina brasileira, sobre a caminhada com o Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos e a World Evangelical Alliance. “É na comunidade local que nós podemos testemunhar juntos a unidade”.

20151022-01“O lugar dos meus sonhos, desde criança, foi o Canadá. Mas, certamente, nunca pensei em ir lá e, muito menos, em uma cidadezinha chamada Saskatoon, nas planícies do Saskatchewan. Mais bela ainda foi a oportunidade que me levou até lá: fui participar da última sessão da Consulta da Aliança Evangélica Mundial (World Evangelical Alliance – WEA) e do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, do qual faço parte desde o ano 2009. Lembro-me que, certa da experiência já vivida com os luteranos no sul do Brasil, eu pensava percorrer um caminho seguro. Mas, desde o primeiro contato me dei conta, imediatamente, que se tratava de outra situação. Eu encontrei um grupo de Evangelicals: em alguns países são chamados ‘Evangélicos’, em outros ‘Evangelicais’. Conta-se entre eles um grupo de cristãos de diversas convicções: luteranos, reformados, batistas, pentecostais, menonitas e anglicanos. Identificam-se com um projeto missionário comum mesmo vivendo e sendo Igreja de maneira muito diferente entre eles. Os participantes eram 13, cinco católicos e oito evangélicos. Eu era a única mulher e leiga. Os países de proveniência demonstravam a riqueza do grupo: Canadá, Colômbia, Filipinas, Alemanha, Guatemala, Itália, Quênia, Espanha, Estados Unidos e Brasil. Eu vivi uma semana inesquecível, marcada pela oração, estudo, reflexões e pelos debates, às vezes muito intensos. O que temos em comum? O que ainda nos divide? Questões que nos permitiram conhecer-nos melhor, especialmente, no que diz respeito ao aspecto confessional e missionário. A diversidade encontrada foi uma imensa riqueza e um sério desafio. Primeiramente porque procuramos esclarecer as nossas posições para buscar superar os conflitos por meio de um diálogo vivido na verdade e na caridade. Não foi fácil e as dificuldades não faltaram. Nós experimentamos o sofrimento das divisões. Nos demos conta que existe um longo caminho a ser ainda percorrido. O que fazer? Deixar tudo de lado ou prosseguir? Pessoalmente eu descobri que cada obstáculo é uma ocasião de diálogo e um convite a ter uma medida de amor ainda maior. Trata-se de colocar-se diante das dificuldades considerando a luz do Evangelho: trata-se de trabalhar como autênticos discípulos de Cristo. Entre os católicos tinham alguns bispos, sacerdotes e leigos. Também nós, provenientes de países e situações diferentes, tínhamos pontos de vista diferentes, mas, juntos, fizemos uma experiência vital da comunhão plena da qual ficamos felizes. Comunhão real e fraterna que nasceu ao longo dos anos, junto à esperança que cada um de nós pode contribuir para a reconciliação entre católicos e evangelicais no próprio país. Papa Francisco, como resultado de uma experiência pessoal de amizade consolidada com eles, introduziu uma nova ‘marcha’ neste diálogo. E, encorajados por ele, queremos promover, em todos os lugares, esta experiência, porque é na comunidade local que se pode viver juntos; é na comunidade que nos perdoamos reciprocamente; é lá que podemos dar o testemunho pedido por Jesus: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13, 35).

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

Vinu Aram: o diálogo, espaço para a humanidade

Vinu Aram: o diálogo, espaço para a humanidade

Há 60 anos da Nostra Aetate, compartilhamos uma reportagem do Collegamento de 13 de junho de 2020, um diálogo com a Dra. Vinu Aram, diretora do Centro Internacional Shanti Ashram, organização internacional Gandiana de Desenvolvimento, que trabalha nas áreas mais pobres e carentes de Tamil Nadu, na Índia.

Nostra Aetate: 60 anos de caminho no diálogo interreligioso

Nostra Aetate: 60 anos de caminho no diálogo interreligioso

No dia 28 de outubro de 2025, celebra-se o 60º aniversário de “Nostra Aetate”, a declaração do Concílio Vaticano II sobre as relações da Igreja com as religiões não-cristãs. Depois de seis décadas, o documento que inspirou e guiou os passos do diálogo interreligioso nos convida a renovar nosso empenho, continuando a construir relacionamentos de fraternidade verdadeira.