[…] A história é feita só de guerras, e nós, quando crianças, por pouco não aprendemos nos bancos da escola que as guerras são boas, são santas, quase que salvaguardas da própria pátria. […] Mas se sentimos ressoar em nosso espírito os apelos dos Papas, […] vemos quanto eles receavam a guerra para a humanidade e iam, chamados ou não, até os governantes, tentando aplacar as iras, os interesses, e afastar a terrível catástrofe da guerra com a qual tudo se perde, enquanto com a paz tudo se ganha. Isto porque a história é uma sequência de lutas fratricidas entre povos irmãos a quem o único Senhor do mundo deu um pedaço de terra para cultivar e nela viver. Ele abençoa a paz porque Ele personificou a paz. Nós que vemos como o Senhor está conquistando para si um por um os corações de seus filhos de todas as nações, de todas as línguas, transformando-os em filhos do amor, da alegria, da paz, da ousadia, da força, esperamos que o Senhor tenha piedade deste mundo dividido e disperso, destes povos fechados na própria casca a contemplar a própria beleza – para eles sem igual – limitada e insatisfatória, a defender com unhas e dentes, os próprios tesouros — resguardar até aqueles bens que poderiam servir a outros povos nos quais se morre de fome — e faça cair as barreiras e jorrar em fluxo ininterrupto a caridade entre terra e terra, torrente de bens espirituais e materiais. Esperamos que o Senhor componha uma ordem nova no mundo, Ele, o único capaz de fazer da humanidade uma família e de preservar as distinções entre os povos, para que, no esplendor de cada um, posto a serviço do outro, reluza a única luz de vida que, embelezando a pátria terrena, faz dela a antessala da Pátria eterna. Talvez tudo o que se vem dizendo pareça um sonho. Mas – à parte o fato que, se a relação entre os cristãos é o amor mútuo, a relação entre povos cristãos só pode ser o amor mútuo, pela lógica do Evangelho que não muda – há um vínculo que já une fortemente os povos e que a voz do povo, de cada povo, que tão frequentemente é voz de Deus, já proclamou. Este vínculo oculto e guardado no coração de cada nação é Maria. Quem será capaz de dissuadir os brasileiros da ideia de que “Nossa Senhora Aparecida”, é a Rainha de sua terra? Quem poderá negar aos portugueses que Maria é “Nossa Senhora de Fátima”? Ou quem não reconhecerá que ela, para os franceses, é a “Sorridente Senhora de Lourdes”? Para os poloneses, a Virgem de Czestochowa? Para os ingleses, que sua terra é o “Feudo de Maria ”? E quem poderá negar que Maria é a “Castelã da Itália”? […] Todos os povos cristãos já a proclamaram sua Rainha, deles e de seus filhos. Mas falta uma coisa, e esta, Maria não pode fazer; nós é que devemos ajudá-la. Falta a nossa cooperação para que os povos católicos, como muitos irmãos unidos, vão até ela e a reconheçam ao mesmo tempo Mãe e Rainha. Poderemos coroá-la como tal se, com nossa conversão, com nossas orações, com nossa ação, tirarmos o véu que ainda cobre a sua coroa […]. A fração de mundo que está em nossas mãos, nós devemos depô-la […] aos pés da maior Rainha que Céu e terra conhecem: Rainha dos homens, Rainha dos santos, Rainha dos anjos, pois quando viveu na terra soube imolar-se totalmente, serva do Senhor, e assim ensinar a seus filhos o caminho da unidade, do abraço universal dos homens, para que seja assim na terra como no Céu. Livro Ideal e Luz – Editoras Cidade Nova e Brasiliense, São Paulo, 2003 – págs. 288-290.
Acolher as diferenças, procurar aquilo que nos une
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