Orã, a segunda maior cidade da Argélia, fica às margens do Mediterrâneo. É um dos maiores centros comerciais e culturais do norte da África. Um grupo de pessoas, na maioria muçulmanas, comprometidas em viver os valores de fraternidade propostos pelo Movimento dos Focolares, promove uma experiência com deficientes visuais. Sheherazad é uma das protagonistas, desde o início: “Em 1997, por meio de minha irmã mais nova, que trabalha numa clínica oftalmológica – ela conta – conheci uma religiosa católica que procurava alguém que pudesse ensinar francês a um grupo de cegos da cidade. Eu não me sentia preparada, sou uma dona de casa e aquele me parecia um compromisso superior às minhas capacidades. Mesmo assim, de acordo com meu marido, decidi aceitar, consciente que naquela proposta poderia estar escondido um preciso plano de Deus”. Foi o início de uma maravilhosa aventura que, com o tempo, envolveu a cidade inteira. Além do ensino, para Sheherazad foi a descoberta de um novo mundo, que conquistou o seu coração e o de Fouzia, uma amiga que partilha o ideal da fraternidade e que em pouco tempo também começou a dar aulas. O mundo dos cegos revelou-se especial, principalmente porque a maioria deles era muito pobre e socialmente marginalizada. “Com o passar do tempo percebemos que o nosso comportamento de abertura para com o outro dava uma característica especial ao modo de ensinar, que se tornava uma ocasião para sustentar aquelas pessoas. Havia quem precisava encontrar uma ocupação, outros precisavam só de um apoio ou de uma palavra de conforto”. Enquanto isso, para entender melhor as necessidades dos alunos, Fouzia e Sheherazad aprenderam o braile. E tudo isso não passava despercebido. “Um amigo nosso, vendo que dávamos o nosso tempo sem esperar nada em troca, decidiu nos ajudar e unir-se a nós nessa empresa”. Procuraram ajudar os jovens a encontrar trabalho. Uma moça, por exemplo, procurava trabalho como telefonista. Eles procuraram uma empresa: “Notamos que o diretor queria nos ajudar a encontrar uma solução, ele ficou tocado com a nossa ação e decidiu contratar a jovem por tempo indeterminado”. Toda a comunidade de Orã participa dos projetos e dos sucessos alcançados. Organizam-se dias de encontro para fazer com que sejam conhecidas a vida e as riquezas desse mundo. “O tema desses eventos é sempre centralizado no “outro”, e no final não existe mais quem é cego e quem não é, quem é muçulmano ou cristão: somos todos irmãos e irmãs que partilham da mesma situação”. A imprensa nacional interessou-se por esses encontros, reconhecendo o direito dos deficientes visuais a viver como todos os outros. Nasceu uma ação de sensibilização que levou muitas pessoas a unirem-se aos esforços de Sheherazad e Fouzia. Superando as dificuldades administrativas e legais foi constituída uma associação para a integração profissional dos cegos, que é muito ativa e trabalha pela construção de uma escola. Instituições da cidade foram envolvidas e o projeto de formação foi reconhecido pelo departamento de formação profissional de Orã. “Ainda há muito a ser feito – conclui Sheherazad – mas fazer algo pelos outros, apesar de todos os nossos limites, é maravilhoso, entusiasmante! Dá a todos aquela força para ir adiante que abre as portas a novas surpresas”. Da Comunidade de Orã – Argélia
Curar as feridas que encontramos nos outros
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