Movimento dos Focolares

A aventura da unidade: Os primórdios/2

Dez 1, 2013

Já às vésperas do dia 7 de dezembro, quando completam-se 70 anos do nascimento do Movimento dos Focolares, continuamos a percorrer a sua história desde o início, em Trento, durante a Segunda Guerra Mundial.

Continuação de: A aventura da unidade: Os primórdios /1

Nos meses sucessivos várias jovens se aproximaram de Chiara e algumas quiseram seguir o seu caminho: primeiramente Natalia Dallapiccola, depois Doriana Zamboni e Giosi Guella, em seguida Graziella De Luca e as duas irmãs, Gisella e Ginetta Calliari, Bruna Tomasi, Marilen Holzhauser, Aletta Salizzoni,  e outras duas irmãs, Valeria e Angelella Ronchetti. E isso tudo acontecia não obstante a estrada do focolare não possuísse absolutamente nada de definido, a não ser o “radicalismo evangélico absoluto” de Chiara.

Naqueles meses a guerra desencadeou-se em Trento também. Ruínas, destroços, mortos. Chiara e suas novas companheiras encontravam-se nos abrigos antiaéreos, durante os bombardeios. O desejo de estar juntas era forte, de colocar em prática o Evangelho, depois daquela fulgurante intuição que as levara a colocar Deus Amor no centro de suas jovens vidas. «Cada acontecimento nos tocava profundamente – Chiara dirá mais tarde –. A lição que Deus nos dava, por meio das circunstâncias, era clara: tudo é vaidade das vaidades, tudo passa. Mas, ao mesmo tempo, Deus colocava no meu coração, para todas, uma pergunta, e com ela a resposta: “Mas existirá um ideal que não morre, que nenhuma bomba pode destruir, ao qual doar-nos inteiramente?”. Sim, Deus. Decidimos fazer Dele o ideal da nossa vida».

No mês de maio, no porão da casa de Natalia Dallapicolla, à luz de vela leram o Evangelho, como já era um hábito para elas. O abriram ao acaso e encontraram a oração de Jesus antes de morrer: “Pai que todos sejam um coisa só” (Jo 17,21). É um texto evangélico extraordinário e complexo, o testamento de Jesus, estudado por exegetas e teólogos de toda a cristandade; mas naquela época um tanto esquecido, porque misterioso demais. E não só, a palavra “unidade” tinha entrado no vocabulário dos comunistas, que, num certo sentido, exigiam o seu monopólio. «Mas aquelas palavras pareciam se iluminar, uma a uma – Chiara escreverá – e colocaram em nosso coração a convicção que tínhamos nascido para “aquela” página do Evangelho».

Poucos meses antes, em 24 de janeiro, um sacerdote havia perguntado: «Vocês sabem qual foi o maior sofrimento de Jesus?». Seguindo a mentalidade corrente entre os cristãos daquele tempo, elas responderam: «O que Ele passou no Monte das Oliveiras». Mas o sacerdote replicou: «Não, Jesus sofreu mais na cruz, quando gritou: “meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27,46)». Impressionada por aquelas palavras, logo que ficaram sozinhas, Chiara dirigiu-se à sua companheira: «Temos uma vida só, vamos usá-la da melhor forma! Se o maior sofrimento de Jesus foi o abandono por parte do seu Pai, nós seguiremos Jesus abandonado». A partir daquele momento Ele se tornou para Chiara o Esposo, o único da vida.

A guerra não dava tréguas e grande parte das famílias das jovens se refugiou nos vales e montanhas circunvizinhos. Mas elas decidiram permanecer em Trento, algumas por motivo de trabalho, outras de estudo, e quem, como Chiara, para não abandonar as muitas pessoas que começavam a congregar-se. Chiara encontrou moradia no número dois da Praça dos Capuchinhos, na periferia de Trento, para onde ela e algumas de suas novas amigas – primeiro Natalia Dallapiccola, e depois as outras – se transferiram. Foi o primeiro focolare. Uma casa modesta, de dois cômodos, na rua arborizada aos pés da igreja dos Capuchinhos; a chamavam  simplesmente, “a casinha”.

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