Movimento dos Focolares

Amazônia, terra do cuidado e do futuro

Jul 18, 2024

Resgate cultural, integração dos povos, promoção da dignidade da pessoa, desenvolvimento sustentável: esses são os desafios que a Igreja e o Movimento dos Focolares enfrentam nessa região tão importante para a humanidade.

Chega-se a Juruti, no estado do Pará, saindo de Santarém, depois de sete horas de barco, o meio mais rápido. Com orgulho, os habitantes dizem que essa região é o coração da Baixa Amazônia brasileira, e a única “estrada” para se chegar até lá é o Rio Amazonas, o “rio-mar”, como é chamado pelos nativos. De fato, é o maior rio do mundo em volume de água e o segundo em extensão. É ele que dita o ritmo, a vida social, o comércio e os relacionamentos entre os cerca de 23 milhões de habitantes dessa região vastíssima, onde vive 55,9% da população indígena brasileira. Além de ser um dos ecossistemas mais valiosos do planeta, os interesses políticos e econômicos causam conflitos e violência que continuam a se multiplicar cotidianamente. Ali, a beleza estupenda da natureza é diretamente proporcional aos problemas de qualidade de vida e sobrevivência.

“Observar e escutar é a primeira coisa que podemos aprender na Amazônia”, explica o monsenhor Bernardo Bahlmann, bispo de Óbidos, a Margaret Karram e Jesús Morán, presidente e copresidente do Movimento dos Focolares, que foram até lá para conhecer e passar alguns dias com as comunidades do Movimento da região. Estão sendo acompanhados por Marvia Vieira e Aurélio Martins de Oliveira Júnior, corresponsáveis nacionais do Movimento, juntamente com Bernadette Ngabo e Ángel Bartol, do Centro Internacional.

O bispo fala da cultura diferenciada de lá, na qual características nativas convivem com aspectos do mundo ocidental. A convivência social apresenta muitos desafios: pobreza, falta de respeito dos direitos humanos, exploração das mulheres, destruição do patrimônio florestal. “Tudo isso exige que repensemos o que significa cuidar das riquezas desta terra, das suas tradições, da criação, da individualidade de cada pessoa, para encontrar, juntos, uma estrada nova em direção a uma cultura mais integrada.”

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É uma tarefa impossível sem o envolvimento dos leigos, explica o monsenhor Ireneu Roman, bispo da arquidiocese de Santarém: “eles são a verdadeira força da Igreja amazônica”. Em suas comunidades paroquiais, os catequistas são cerca de mil e dão suporte à formação cristã, à liturgia da palavra e aos projetos sociais. O monsenhor Roman pede à comunidade do Movimento dos Focolares na Amazônia que levem sua contribuição específica: “a unidade nas estruturas eclesiais e na sociedade, porque o que é mais útil nesta terra é reaprender a comunhão”.

O primeiro focolare permanente masculino chegou a Óbidos em 2020, a pedido do monsenhor Bahlmann, e, há seis meses, o focolare feminino se instalou em Juruti. Hoje, na Amazônia, vivem sete focolarinos, entre os quais um médico, dois sacerdotes, uma psicóloga e um economista.

“Estamos na Amazônia para apoiar o grande trabalho missionário que a Igreja desenvolve com os povos indígenas”, explicam Marvia Vieira e Aurélio Martins de Oliveira Júnior. “Em 2003, umas das linhas-guias da Conferência Episcopal Brasileira era incrementar a presença da Igreja nesta região da Amazónia, porque a vastidão do território e a falta de sacerdotes tornavam difícil uma assistência espiritual e humana adequada”.

Assim, há 20 anos, nasceu o “Projeto Amazônia”, no qual membros do Movimento dos Focolares provenientes de todo o Brasil vão a lugares escolhidos de comum acordo com as dioceses por um período, para realizar ações de evangelização, cursos de formação para as famílias, jovens, adolescentes e crianças, visitas médicas e psicológicas, cuidados odontológicos, entre outros.

“Talvez não consigamos resolver os tantos problemas dessa gente”, diz Edson Gallego, focolarino sacerdote do focolare de Óbidos e pároco, “mas podemos ser vizinhos deles, compartilhar alegrias e dores. É o que procuramos fazer desde que chegamos, em comunhão com as diversas realidades eclesiais da cidade”.

As focolarinas explicam que nem sempre é fácil deixar de lado a própria mentalidade: “Frequentemente nos iludimos em dar respostas, mas somos nós que saímos enriquecidas de cada encontro, pela forte presença de Deus que emerge de todos os lugares: da natureza, mas sobretudo das pessoas”.

Em Juruti, as focolarinas colaboram com as realidades da Igreja que desenvolvem ações de promoção humana e social. O casulo Bom Pastor é uma das 24 escolas infantis da cidade, com uma linha pedagógica específica que forma as crianças de acordo com a sabedoria da própria cultura e tradições, com o senso de comunidade, com a consciência de si e do outro. É uma escolha importante para a formação integral e integrada. Já o hospital 9 de Abril na Providência de Deus é gerenciado pela Fraternidade São Francisco de Assis na Província de Deus. Está a serviço da população da cidade (cerca de 51.000 habitantes), das localidades vizinhas e das comunidades fluviais, com uma atenção particular a quem não pode pagar pelos cuidados. Já os Apóstolos do Sagrado Coração de Jesus animam o centro de convivência Mãe Clelia, onde acolhem uma centena de jovens por ano, criando alternativas de formação profissional e contribuindo para o desenvolvimento pessoal, em particular dos jovens em risco.

A comunidade do Movimento dos Focolares também opera há anos em sinergia com as paróquias e organizações eclesiais. Ao encontrá-la, com outras comunidades vindas de longe, Margaret Karram agradeceu pela generosidade, concretude evangélica e acolhimento: “Vocês reforçaram em todos nós a sensação de ser uma única família mundial e mesmo que vivamos de forma diferente, estamos unidos pelo mesmo dom e missão: levar a fraternidade onde vivemos e em todo o mundo”.

Por meio de uma rede de canais que se entrelaçam pela floresta amazônica, a uma hora de barco de Óbidos, chega-se ao Mocambo Quilombo Pauxi, uma comunidade indígena de mil afrodescendentes. É acompanhada pela paróquia de Edson, que procura ir até lá pelo menos uma vez por mês para celebrar a missa e, juntamente com os focolarinos, compartilhar, escutar, brincar com as crianças. A comunidade é composta por cerca de mil pessoas que, mesmo imersas em uma natureza paradisíaca, vivem em condições particularmente precárias. Isolamento, luta pela sobrevivência, violência, falta de muitos direitos, de acesso à educação e à saúde básica estão entre os desafios cotidianos que essas comunidades ribeirinhas enfrentam. Também ali, há dois anos, a diocese de Óbidos ativou o projeto Força para as mulheres e crianças da Amazônia. É endereçado para as mulheres e crianças e promove uma formação integral da pessoa em âmbito espiritual, sanitário, educativo, psicológico e econômico. Uma jovem mãe conta com orgulho sobre seu progresso no curso de economia doméstica: “Aprendi muito e descobri que tenho capacidade e ideias”.

Com certeza, trata-se de uma gota no grande mar de necessidades desses povos, “e é verdade”, reflete Jesús Morán, “que, sozinhos, não resolveremos nunca os tantos problemas sociais. A nossa missão, também aqui na Amazônia, é mudar os corações e levar a unidade na Igreja e na sociedade. O que fazemos tem sentido se as pessoas orientam suas vidas para o bem. É esta a mudança”.

Acolher, compartilhar, aprender: é essa a “dinâmica evangélica” que emerge, escutando os focolarinos na Amazônia, onde cada um se sente chamado pessoalmente por Deus a ser seu instrumento para “escutar o grito da Amazônia” (47-52) – como escreve o papa Francisco na extraordinária exortação pós-sinodal Querida Amazônia – e para contribuir em fazer crescer uma “cultura do encontro em direção a uma ‘harmonia plural’” (61).

Stefania Tanesini

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