Movimento dos Focolares

Brasile: Na Amazônia, a minha bússola é o amor

Nov 11, 2019

Entrevista com frei Gino Alberati, missionário desde 1970 entre os povos da Amazônia.

Entrevista com frei Gino Alberati, missionário desde 1970 entre os povos da Amazônia. Agora que os refletores da mídia sobre o pulmão verde da terra se apagaram, porque os incêndios foram controlados e o Sínodo da Amazônia da Igreja católica divulgou o documento final, nos parece importante continuar a dar voz a quem vive na Amazônia e contribui para o seu desenvolvimento todos os dias. O risco de ver esse pedaço de terra como um cartão exótico, distante da vida das nossas metrópoles é muito forte. Trata-se de um dos maiores laboratórios multiculturais do planeta, um aspecto que seguramente faz menos barulho que a questão ambiental, mas cujo respeito e proteção são também centrais para a sobrevivência de sua população. Por isso, assumir o desafio cultural na Amazônia e apoiar a educação e a formação humana é de importância vital.

© ACN Kirche in Not

Também fazem parte da sua população várias comunidades do Movimento dos Focolares: famílias, adolescentes e religiosos como frei Gino, como é chamado por todos. Frei Gino Alberati é um missionário capuchinho italiano que mora e trabalha na Amazônia desde 1970, servindo dezenas de comunidades ao longo do rio Solimões, na fronteira brasileira com a Colômbia e o Peru. Viaja com um barco que lhe foi doado e é ele quem cuida de sua manutenção. O barco lhe permite celebrar missas e levar a palavra de Deus às comunidades deslocadas em um território muito vasto e também lhe dá a oportunidade de salvar vidas humanas porque o médico mais próximo geralmente fica a um dia de viagem. Foi difícil entrar em contato com ele, mas conseguimos entrevista-lo por Whats App. Sobre a sua preparação para a missão, frei Gino conta que passou dias inteiros no hospital S. Giovanni em Roma. “Por nove meses, eu entrava nos laboratórios de análise e nas salas operatórias; fazia isso para aprender alguma coisa de medicina, porque sabia que na missão à qual eu estava destinado não haveria nenhuma estrutura sanitária e teria de improvisar como médico. Eu tinha 29 anos quando cheguei na Amazônia e as distâncias ou meios de transportes precários que usava não me importavam”, explica frei Gino, “a minha bússola era o amor. Nesses anos, fiz realmente de tudo e agora sigo uma paróquia que cobre um território de 400 quilômetros, no Rio Amazonas e Rio Icá”. Quando lhe perguntamos como as pessoas vivem, responde que o rio é a vida deles. “No rio, viajam e pescam; a água fertiliza as terras mais baixas. Atualmente, sigo 40 comunidades, além da paróquia da cidade de Santo Antônio do Içá. Também sou conselheiro municipal da saúde pública e levo à administração da cidade as necessidades sanitárias das comunidades que visito. Não vivemos de perto o drama dos incêndios porque nesta região estamos longe dos grandes interesses; isso, apesar da diminuição do território coberto pela floresta, está sob os olhares de todos. Também fazem parte da população índios da etnia Ticunas; são aproximadamente 45.000 e vivem da agricultura, caça e pesca. Trabalhamos muito para dar a eles uma formação humana, cultural e espiritual de base. Há pouco tempo, entregamos a 200 líderes de 24 comunidades a bíblia traduzida na língua Ticuna.” Frei Gino insiste no papel fundamental dos índios para a conservação do planeta: “Com certeza, foram feitos muitos esforços para combater o risco de poluição, como o uso dos motores a hidrogênio nos meios de transporte, mas, apesar disso, os grandes do mundo veem só o ‘deus-dinheiro’ e querem pegar as terras dos nativos para extrair minerais e petróleo. O estilo de vida dos índios segue o ritmo da natureza; pegam da terra só o essencial, trabalham em pequenos pedaços de terra e por isso não são necessários grandes desmatamentos”. Quando lhe perguntamos qual era a coisa mais preciosa de que os homens e mulheres da Amazônia precisam, depois das necessidades materiais, responde que com certeza é o amor, “o amor recíproco que leva à fraternidade”, capaz de transformar pessoas e territórios em qualquer latitude.

Stefania Tanesini

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