Movimento dos Focolares
Um Padre Branco na África

Um Padre Branco na África

Preghiera.jpg1Eu estava no final dos estudos secundários. Desde pequeno, desde quando ouvia as histórias de um tio missionário no Congo, ficava fascinado pela África. Eu não gostava do estilo de vida burguês da sociedade belga, diante das pobrezas e injustiças sociais espalhadas no mundo. Eu me interessava pelo pensamento de Julius Nyerere (de quem está em andamento o processo de beatificação, ndr), primeiro Presidente da Tanzânia. O seu conceito de Ujamaa (em suaíli ‘ser família’) foi a base das políticas de desenvolvimento econômico-sociais que, após a obtenção da independência da Grã Bretanha, tinham levado a Tanzânia à construção de uma pacífica coexistência entre tribos e grupos étnicos. O seu pensamento se baseava na tradição africana e no exemplo das primeiras comunidades cristãs narradas nos Atos dos Apóstolos. Pedi para entrar para os Padres Brancos, não tanto por um discernimento vocacional, mas porque trabalhavam na Tanzânia. Combinamos o período de um ano para um conhecimento. Chegando na casa deles, junto à Universidade de Lovaina (Bélgica), sem que eles soubessem comecei a fazer parte de um grupo maoísta de extrema esquerda. Organizávamos iniciativas em favor dos países do terceiro mundo e pela independência de Angola e Moçambique. Durante uma manifestação, a polícia encontrou o meu nome em panfletos e vieram me interrogar. Pensei que para mim seria melhor mudar completamente de estrada. Além de tudo, eu estava desiludido com os meus amigos, porque só eu estava pagando o preço das nossas ações. Ao invés, o diretor espiritual me convidou a ficar e a conhecer um grupo de estudantes que se reunia mensalmente na casa dos Padres. Eu os tinha entrevisto, me pareciam com a cabeça entre as nuvens, falavam de Jesus e de Evangelho. Mas aceitei. Na primeira vez que participei de um encontro deles, escutei em silêncio. Contavam como procuravam praticar o Evangelho. No final me perguntaram o que eu achava. «O Evangelho existe há dois mil anos e o mundo ainda está cheio de injustiças, explorações e opressão». «Se você quer mudar o mundo, comece por você mesmo », me respondeu um deles. Não soube senão rebater. «A partir de onde?», perguntei. Ele me colocou nas mãos a Palavra de Vida daquele mês: «Não julgueis e não sereis julgados». No dia seguinte, por mais que eu temtasse, me vi julgando sempre os outros. Isso não servia para mim. Voltei a encontrá-los, para dizer que era impossível não julgar. Eles me exortaram a não me desencorajar e a tentar de novo após cada fracasso. Voltando para casa, rezei a Jesus Eucaristia: «Se Tu queres que eu viva assim, me ajuda, porque sozinho não posso fazer nada». Passado o ano acadêmico, eu tinha certeza de que os Padres me pediriam para ir embora. Ao invés, me disseram que tinham notado uma mudança em mim e que, se eu quisesse, poderia iniciar a formação. Através do contato frequente com aqueles jovens, os gen, que viviam a comunhão dos bens entre eles, e com a ajuda do responsável dos Focolares na Bélgica, encontrei a minha estrada e me tornei missionário. Viver pelos outros me dava uma grande alegria e é assim que descobri o grande ideal da unidade de Chiara Lubich e do Movimento. Antes de partir para a África, em 1982, fui ordenado sacerdote. O desafio maior foi o de buscar um diálogo profundo com a população do lugar, praticando a arte de “fazer-se um”. Estudei a língua deles e a cultura local, para me apropriar dos costumes das pessoas. Experimento que, à luz do Evangelho, tudo o que é belo, bom e verdadeiro é elevado a um nível mais alto, o resto, aos poucos, desaparece.  

Diálogo ecumênico: um passo a mais

Diálogo ecumênico: um passo a mais

basilica buildingDe Onitsha (Nigéria) escrevem que no ingresso da Basílica da Santíssima Trindade, no dia 23 de janeiro, mais de cem pessoas reuniram-se para rezarem juntas, entre elas evangélicos, pentecostais, católicos, membros de várias igrejas autônomas, acompanhadas por sacerdotes e dois bispos. O Movimento dos Focolares havia constituído um comitê com membros de cinco grupos representativos das várias igrejas na Nigéria: CCN (Igrejas autônomas), OAIC (Igrejas e organizações nascidas na África), PFN (Igrejas pentecostais), CSN (Igreja católica) e ECWA/TEKAN (Igrejas evangélicas do oeste da África e Gana). Alguns trabalharam para convidar os grupos musicais, outros cuidaram do libreto da programação, outros ainda decoraram o ingresso. A homilia foi feita por um pastor anglicano que “como um clamor de trombeta para acordar do sono todos os cristãos da Nigéria” convidou a “viver como verdadeiros seguidores de Cristo e a trabalhar pela unidade na diversidade”. «Rezamos como um só coração e uma só alma – testemunha uma jovem – senti o calor do Espírito entre nós». E um jovem: «Ver pessoas de diferentes igrejas rezarem juntas pela unidade e pela paz me deu a certeza de que a unidade se realizará, porque foi Jesus mesmo que pediu ao Pai para que ‘todos sejam um’». Ottma1Em Ottmaring (Alemanha), sede da Mariápolis ecumênica dos Focolares, por ocasião da Semana de Oração reuniram-se sete pastores luteranos suecos, quatro pastores anglicanos e um pastor reformado inglês, e sete sacerdotes católicos. Foi aprofundado o tema sobre “O Ressuscitado e os discípulos de Emaus”, introduzido pelo bispo luterano Âke, de Skara (Suécia), que evidenciou como Jesus, ainda hoje, é atraído pelas feridas e a escuridão da humanidade, para levar a ela a sua luz. Envolvido por esta realidade, todo o grupo dirigiu-se ao campo de concentração nazista de Dachau, localizado nas proximidades, lugar emblemático do mistério de Jesus abandonado. Foi interessante também a visita a Augsburg, a alguns locais significativos para a Igreja Luterana, concluída com uma parada na igreja católica de São Moritz, onde encontra-se uma figura de Cristo Salvador que ilumina a escuridão do mundo. Numa atmosfera de intensa partilha, as celebrações das diversas liturgias, realizadas durante a semana, adquiriram uma sacralidade muito especial. Na conclusão os propósitos eram unânimes: «Quero retornar ao mundo onde Jesus abandonado espera por mim». «A Igreja deve estar lá onde estão as feridas das pessoas». «A primeira coisa que farei, ao voltar para casa, será ir visitar o pastor luterano mais próximo». Em Matera (Itália), falamos com Cintia, que, desde que conheceu a espiritualidade da unidade, promove um percurso ecumênico em sua paróquia, em colaboração com uma pastora luterana: «São noites muito bonitas e cheias de alegria – ela conta – nas quais o maior relevo é dado ao muito que nos une, e não ao que nos divide. Para animar as celebrações da “Semanas de Oração”, que celebramos juntos desde 1997, surgiu um coral ecumênico, que acompanha as várias atividades culturais e humanitárias que fazemos juntos. Este ano, em colaboração com associações e movimentos da cidade, foi feita uma caminhada pela paz e a unidade da qual participaram cerca de 300 membros de várias igrejas e pessoas de outras religiões. Foi uma ocasião para atuar o ecumenismo da vida e exprimir o profundo anseio de fraternidade que supera as distinções». A paróquia de Santa Maria, em Pesaro (Itália), tem uma relação de amizade ecumênica com a catedral ortodoxa de Resita (Romênia), graças aos párocos e vários leigos que vivem a espiritualidade da unidade. «Este ano – conta uma jovem ortodoxa romena – quisemos dar um passo a mais. Os jovens sentiam a exigência de comprometer-se com a formação das crianças e assim começamos, em Pesaro, um curso para animadores católicos e ortodoxos juntos, onde experimentamos a unidade na diversidade». Também em Cochabamba, na Bolívia, a Semana foi uma ocasião para que os vários Movimentos, entre estes os Focolares, tomassem iniciativas ecumênicas. Num momento de oração estavam presentes membros das Igrejas Anglicana, metodista e católica, também com o bispo emérito, que recordou os 500 anos da Reforma e convidou todos à misericórdia e a um empenho renovado no trabalho pela unidade. Leia também: Ecumenismo: Semana da Unidade Semana da Unidade em Havana    

Chile: o fogo não devorou a solidariedade

Chile: o fogo não devorou a solidariedade

cile2Faz um mês que o centro-sul do Chile é uma presa de enormes incêndios florestais que levaram consigo cerca de meio milhão de hectares. Onze os mortos, cerca de 1.100 os desabrigados. Aproximadamente mil casas incendiadas, a maior parte em Santa Olga, 500 km ao sul de Santiago, um lugarejo de 5 mil habitantes completamente destruído. Os prejuízos chegam a várias centenas de milhões de euros. Os ingredientes da catástrofe perfeita são vários: uma onda de calor com temperaturas históricas, o clima seco, a intensa seca e os ventos que alimentaram centenas de incêndios deflagrados na cordilheira dorsal do Chile. É a cadeia montanhosa entre o Pacífico e os Andes, que torna inacessível a geografia deste país, longo 6 mil quilômetros, mas largo em média apenas 200-300 quilômetros. Uns quarenta aviões cisterna e helicópteros e mais de 4.500 bombeiros não foram suficientes para controlar tantas frentes. Também estão em ação dois gigantes do ar equipados contra o fogo: um Boeing 747 (Supertanker) capaz de derramar cerca de 70.000 litros de líquido de diversos tipos e um Ilyushin-76 colocado à disposição pelo governo russo, capaz de lançar 30 toneladas de água e de aterrissar em pistas mais curtas. Equipes anti-incêndio foram enviadas pela Argentina, Colômbia, Brasil, Peru, Espanha, Portugal, França e Venezuela. Causa impressão a sequência de catástrofes naturais de 2010 até hoje, começando pelo terremoto de 8,8 graus Richter seguido por tsunami que provocou 535 mortes e bilhões de prejuízos. Seguiram-se pelo menos três grandes erupções vulcânicas. Em 2015, um novo terremoto: 8,4 graus Richter… Em 2014 e neste ano os incêndios afligem os arredores de Valparaíso, cidade portuária a 115 km da capital: várias as vítimas, prejuízos de 4 bilhões. Parece incrível, mas em 2015 se inunda o Atacama, o deserto mais árido do mundo situado no Norte. A lama arrastou aldeias inteiras, estradas, pontes e 28 pessoas. E agora, de novo, o fogo atiçado pela seca… Haverá tempo para investigar as causas, em algumas localidades não se exclui o ato criminoso. Mas agora é tempo de intervir. As chamas não devoraram a solidariedade que se pôs em ação de vários modos: por toda a parte se coletam gêneros de primeira necessidade, a organização “Hogar de Cristo” lançou uma coleta de cerca de 1,8 milhões de dólares para reconstruir as casas destruídas, alguns ricos se encarregam dos custos do Supertanker. “São nossos irmãos, devemos nos ajudar”, explica uma dona de casa que coordenou uma coleta entre vizinhos. Em Santa Olga ficaram em pé somente algumas casas, mas sobre os escombros fumegantes aparece a bandeira chilena. Um símbolo que aqui nunca falta, embora em meio à destruição. Indica que se volta a construir para procurar arrancar desta natureza um lugar onde viver, trabalhar, realizar sonhos. Farão isso tenazmente, com a paciência secular de quem constrói a sua história com suor e lágrimas circundados por uma natureza que não presenteia nada. Alberto Barlocci   Últimas notícias das comunidades do Focolare nas regiões atingidas pelos incêndios. Marilyn e Juan nos escreveram: “Já se passaram 19 dias desde que, em todo o Chile – com a ajuda de colaboradores de alguns países – luta-se contra os incêndios, nas regiões do centro-sul do Chile, onde se encontram numerosas comunidades dos Focolares”. No momento, depois de uma luta que parece superar as forças humanas, permanecem ainda mais de 80 incêndios que, pelo vento forte, reacendem várias vezes outros que foram já extinguidos. 13Alguns povoados, onde moram muitas famílias que participam do Movimento, foram evacuados por causa do grande risco.  Durante a noite os habitantes se unem aos bombeiros, aos brigadistas de incêndio, aos membros de organizações de voluntariado e vigiam para evitar a propagação das chamas. Inúmeras as experiências de solidariedade, especialmente dos habitantes, como Sílvia e Manuel, voluntários do Movimento que moram em Chiguayante, uma região completamente circundada pelo fogo. Viram-se obrigados a sair de casa pela gravidade da situação. Junto aos filhos e vizinhos, arriscando a vida, fizeram uma faixa de isolamento, cortando a vegetação para impedir que o fogo se alastre. Mesmo se, até o momento, pode-se controlar a situação, existe sempre o perigo de que o vento mude de direção. Victoria e Jorge e três filhos moram em Tomé, área de risco, com os amigos dos filhos e outros jovens fizeram uma campanha e recolheram bens necessários para quem perdeu tudo e foram aos povoados mais isolados, onde é mais difícil chegar ajuda. Um taxista percorreu 70 km com eles, gratuitamente, e assim, puderam distribuir tudo o que arrecadaram. Padre Alex, sacerdote ortodoxo da Igreja Russa, amigo do Movimento, mora em Hualqui, um pequeno vilarejo, e ia celebrar a Santa Missa em Chiguayante, onde mora a sua comunidade. O fogo alastrou-se violentamente pelo seu vilarejo e as chamas bloquearam a estrada; ele voltou, a pé, para estar ao lado das pessoas que estavam terrorizadas. E existem muitas experiências de solidariedade também dos membros das comunidades do Focolare que estão distantes dos incêndios. Eles se organizaram em grupos servindo-se do WhatsApp e, depois de dois dias, alguns carros cheios de bens de primeira necessidade já haviam partido em direção aos necessitados. Constatamos uma forte capacidade do povo de reagir diante das dificuldades, capacidade de resiliência, uma imediata e comovente resposta. Causa uma bela impressão ver as expressões radiantes na face daqueles que se empenham a ajudar: eles constatam que, realmente, ‘existe mais alegria em dar que receber.’ Antes de toda ação, renovamos o pacto de unidade entre nós para levar aquele amor do qual, todos necessitam. Toda noite, às 22h, nos unimos em oração para pedir o milagre da chuva e muitas pessoas se unem a nós.”  

Argélia: uma fidelidade de amor

Argélia: uma fidelidade de amor

Christian de Charge.jpg1Recentemente eu retomei uma carta do padre Christian de Chergé do qual, no ano passado, completaram-se 20 anos da sua morte. Christian era prior da comunidade dos trapistas do mosteiro Nossa Senhora do Atlas, em Tibhirine, a 90 km de Argel. Em 1996, ele e outros seis monges foram raptados e, depois, assassinados. No dia 1° de agosto, dom Pierre Claverie, bispo de Oran, foi assassinado. Vivíamos no ápice do “decênio negro”, como se usava denominar a guerra civil que explodira na década de 90. Os monges eram de origem francesa e, como todos os “estrangeiros”, eram diretamente presos de mira pelos “Irmãos da montanha”, como eram chamados aqueles que entraram na clandestinidade e empunharam armas depois da anulação das eleições de 1992. A Frente Islâmica de Salvação, partido político que foi dissolvido e declarado ilegal, estava prestes a vencer aquela eleição. Com o pensamento, frequentemente eu vejo os rostos sorridentes daqueles monges, durante os momentos que vivemos juntos. Todos participavam da vocação particular da Igreja daquele país, ao qual nos sentíamos enviados para testemunhar o Evangelho estando a serviço daquele povo. Uma Igreja simples, pobre; mas, o seu testemunho brilha no coração de muitos amigos, na maioria, muçulmanos. Sim, porque na Argélia 99,99% da população segue o Islã. A Igreja é “Igreja para um povo, uma Igreja do encontro”, segundo a expressão do arcebispo de Argel, dom Paul Desfarges. Retornado à carta, parece-me reencontrar Christian, ou um dos outros monges, no nosso focolare em Tlemcen, onde eram habituados a passar a noite, para depois prosseguir a viagem a Fèz, no Marrocos, onde estavam fundando um mosteiro. Momentos de colóquios intensos, de alegria ao reencontrar-nos, de sentirmos irmãos e sentir-nos compreendidos no recíproco empenho pelo povo ao nosso redor. Mesmo tendo vocações diferentes o coração pulsava em uníssono. TNX-13263-martiriNós nos encorajávamos a seguir adiante, mesmo na atmosfera de perigo na qual se vivia. Naquela época espalhara-se a notícia da eventual partida momentânea dos membros do Focolare de Tlemcen, o que, de fato, não aconteceu. E Christian nos escreveu:Todos nós pensávamos que vocês permaneceriam o maior tempo possível entre nós, os testemunhas de uma convivência ofertada, de uma partilha de vida sem fronteiras, de uma abertura familiar que permite ao coração vibrar em uníssono, além das barreiras da pertença religiosa. Vocês assumiram como própria a mensagem do Evangelho e esculpiram profundamente esta mensagem entre nós. E nós nos alegramos com vocês deste algo a mais de humanidade que o Carisma de vocês dava à nossa Igreja. Era belo encontrar-nos na ‘lareira’ de vocês. Muitos monges puderam usufruir da acolhida de vocês quando passavam durante a viagem a Fèz. Em todos permaneceu o gosto de… saborear ainda mais (…). Nesse tempo todos nós temos necessidade de poder contar com este ‘fogo’ mantido aceso na sala comum. Fará um pouco mais de frio no Natal, se vocês não estiverem mais aqui (…). As vidas de vocês estão nas mãos de Deus… e as nossas razões para permanecermos identificam-se com aquelas que nos permitiram viver aqui. Para vocês, bem como para nós, a situação não muda nada. Mais uma vez, OBRIGADO a cada um de vocês e à nossa comunhão fraterna de hoje e de sempre. Christian” Falei antes de coragem de permanecer, mas, para quem, como nós, vivia no âmago daquela experiência dura, eu direi coragem de ser fiéis a um chamado e de partilhá-lo com uma porção de humanidade da qual éramos, naquela altura, parte integrante. Uma fidelidade de amor. Os corações daqueles que conheceram os monges, dom Claverie e as outras religiosas e religiosos assassinados naqueles anos na Argélia, continuam a falar-nos de Evangelho e de amizade profunda com um povo que se tornara o povo deles. Giorgio Antoniazzi

Visita de Luce (Luz) Ardente ao Vietnã

Visita de Luce (Luz) Ardente ao Vietnã

img57Foram dias de ‘intensa luz’, vividos com os três monges amigos vindos da Tailândia: Phramaha Thongrattana Thavorn, Ajarn Suchart Vitipanyaporn, Bhikkhu Jayabhinunto e o Sr. Khamphorn, que os acompanhava”. Com estas palavras, Marcella e Luigi, nossos amigos cristãos, descreveram a segunda semana de dezembro passado, vivida junto aos monges budistas, em Ho Chi Minh City, Vietnã. Os nossos amigos evidenciam “a atmosfera que respiramos naqueles dias: de grande abertura e de horizontes novos.” E acrescentam: “Vivemos um sonho, se assim podemos dizer”. Breves fatos históricos: O monge Phramaha Thongrattana Thavorn conheceu a espiritualidade da unidade em 1995. Naquele ano ele encontrava-se em Roma para acompanhar um seu discípulo, Somjit, que fazia a experiência da vida monástica por um breve período antes de se casar, segundo a tradição dos jovens budistas. Phramaha Thongrattana, que significa ‘ouro fino’, naquela ocasião, conheceu Chiara Lubich e este foi um fato marcante para ele. E, também, para ela, que ficou impressionada com a personalidade dele, tanto que, a pedido do monge, o deu um nome novo: Luce (Luz) Ardente. Desde então, este monge se esforça para viver e anunciar, com ardor e entusiasmo, o ideal da fraternidade universal, o ideal de ‘mamãe Chiara’ (como, ainda hoje, assim a chama). No funeral de Chiara Lubich, em 2008, Luce Ardente declarou o próprio desejo de dizer aos budistas “o quanto mamãe Chiara fez de bem à minha vida monástica. Eu percebo que ela continua a dar-me um impulso interior e uma força para levar – a todos e entre todos – o ideal da fraternidade. Ela não pertence mais somente a vocês, cristãos; mas, agora, ela e o seu ideal são heranças para a humanidade. Mas, voltemos a Ho Chi Min, dezembro de 2016. Eles nos disseram: “O primeiro fato surpreendente foi o relacionamento de amizade que se criou entre Luce Ardente e o Reverendíssimo Thich Thien Tam, monge responsável do templo Pho Minh, representante tanto do budismo  Theravada quanto Mahayana, no Vietnã. Trata-se de uma personalidade que representa o budismo do Vietnã em todas as manifestações internacionais. Como sinal da simpatia e confiança que se estabeleceu entre eles, o Rev. Thich Thien Tam solicitou às autoridades competentes que os três monges se hospedassem no templo e não em um hotel, como prevê o protocolo.” img53Foram realizadas várias reuniões de caráter inter-religioso (e não só), como a visita a duas comunidades cristãs e, depois, todos almoçaram juntos. Com eles, os monges também participaram da festa de Natal, fato insólito para os cristãos naquele país, mas, que foi recebido com grande alegria. Visitaram também a sede de dois projetos sociais, para crianças pobres, promovidos pelos cristãos e que se fundamentam na espiritualidade da unidade. E ainda, um encontro inter-religioso, no Centro Pastoral Diocesano de Ho Chi Minh City, com representantes de cinco religiões. Neste contexto Luce Ardente falou sobre a sua amizade com João Paulo II e com Chiara Lubich. Explicou também o que ela chamava de “a arte de amar”: um amor que se dirige a todos, que toma a iniciativa de amar, que sabe tornar-se ‘próximo’ ao outro, que chega até mesmo a amar e a rezar pelos inimigos… “Os olhos de alguns dos líderes ali presentes ficaram rasos d’água – nos dizem Marcella e Luigi – e, na verdade, também os nossos”. Duas horas de diálogo verdadeiro, que se concluiu com a visita ao arcebispo emérito, cardeal J. Baptiste Phan Minh Man, que sempre quis o escritório para o diálogo inter-religioso no Centro Pastoral Diocesano. O último dia foi dedicado à visita a alguns templos, guiados pelo padre Bao Loc, sacerdote responsável pelo diálogo inter-religioso da diocese de Ho Chi Minh City. “Agora, novos horizontes se abrem diante de nós, inesperados. Agora toca a nós levar adiante tudo o que vivemos naqueles dias. O legado de Chiara – o de ser sempre família – é uma realidade que toca o coração de todos, quando é realmente vivido.” Gustavo Clariá

Tailândia: três dias com os pequeninos de Mae Sot

Tailândia: três dias com os pequeninos de Mae Sot

mae 1Há muitos anos, um amigo me disse: “Onde existem pobres, existe também muito dinheiro”. Eu era jovem e não acreditei muito: hoje, depois de morar mais de 26 anos na Ásia, eu compreendi, infelizmente, a verdade daquelas palavras. Também em Mae Sot é assim. Diante de qualquer bom senso de desenvolvimento sustentável ou de um mínimo respeito pelo homem e pela natureza, aqui existem facilitações, criam-se grandes projetos para atrair indústrias que, em outros lugares, não são mais produtivas ou que foram fechadas porque são ilegais e perigosas para a saúde da população. E tudo isso porque, em Mae Sot, existe “mão de obra” a baixo custo, muito baixo e, até mesmo, a custo zero; e, por outro lado, existem pessoas riquíssimas e dispostas a aproveitar desta situação. Os pobres, atravessando a fronteira entre Mianmar e a Tailândia, fogem da fome e dos problemas de um país que ainda tem dificuldades para estabelecer a igualdade social, para proteger a classe pobre ou de religiões diferentes. Na fronteira continua-se a impedir a entrada no país, continua-se a atirar e, quem mais sofre são os pequeninos. É crescente o número de crianças órfãs, portares de deficiências, abandonadas ou que ficam sozinhas em casa, porque os pais vão trabalhar nas lavouras. É muito triste ver crianças que sofrem! E, em Mae Sot, existem muitas. E nós estamos fazendo alguma coisa para elas por meio de um nosso projeto. Todas as vezes que visitamos aquela região, temos os nossos “lugares preferidos”: orfanatos, casas isoladas e distantes da cidade, a nossa pequena escola “Gota a gota” (Goccia dopo Goccia), com 60 alunos. Em todos esses lugares encontramos muitas crianças com um olhar triste que permanece impresso na alma, para sempre. Mesmo se, há muitos anos, já ajudamos o povo Karen, este é o sexto ano que atuamos neste projeto que em três países – Tailândia, Laos e Vietnam – beneficia 250 pessoas. São microprojetos, direcionados concretamente a famílias que não têm o mínimo necessário para sobreviver. E qual é a necessidade deles? Alimentos, roupas, certamente; mas, especialmente, amor. E isto significa interessar-se deles, um sorriso, atenção; enfim, alguém que lhes pergunte: “Como vai?”. Em outras palavras, necessitam de pessoas que saibam “com-dividir” os sofrimentos deles, a vida de imigrantes: gente que vale bem pouco aos olhos dos ricos e que são explorados. É isso que procuramos fazer: ajudar, estando ao lado deles, aliviar, dar esperança e calor humano. Por meio de contatos locais a nossa ajuda chega a eles mensalmente. E, a cada três meses, visitamos as localidades abrangidas pelo projeto, para visitar as pessoas e demonstrar que não as abandonamos. Muitas vezes eles nos dizem: “Vocês vieram de tão longe somente para ficar conosco e isto nos dá a força e a razão para continuar a viver”. Aqueles pequenos olhos tristes, aqueles rostos que não sorriem falam mais de mil palavras! Eles nos lembram das palavras de Chiara Lubich, que inspirou o nosso projeto: “Senhor, dá-me todos os que estão sós…” E nós temos a consciência de que são nossos todos aqueles “sós”, porque é o semblante de Jesus que, na cruz, continua a gritar e a pedir todo o amor que podemos doar. Este é o fundamento do nosso projeto e, eu diria, da nossa alegria interior. Luigi Butori Para quem desejar colaborar com o projeto: Banca Cantonale dei Grigioni, 7002 Coira IBAN-Nr: CH19 0077 4010 2957 6490 0 Goccia dopo Goccia Residenza Ragazzi 196a CH 7742 Poschiavo, Suíça Endereços de e-mail: gica.ceccarelli@bluewin.ch gocciadopogoccia.ms@gmail.com Esta associação é reconhecida pela administração do cantão de Grisões, na Suíça.