« Há quinze anos moramos em um condomínio. Quatro entradas, cento e vinte apartamentos. Assim que nos casamos, tínhamos a intenção de estabelecer relações de boa vizinhança e, se possível, também transmitir com alegria o nosso estilo de vida, fundamentado na vivência do Evangelho. Mas, todos os dias nós vamos ao trabalho e não conseguíamos nem mesmo ver os nossos vizinhos. Depois que nasceram os nossos filhos conhecemos algumas famílias que também levavam as crianças ao parque e ao jardim do condomínio. Tivemos a idéia de convidá-las para um jantar e, depois, houve outras ocasiões: festas e passeios fora da cidade. A atmosfera de “condomínio” começava a adquirir um novo aspecto.
Às vezes as relações se firmam logo, quando, superada a natural a privacidade, procura-se não somente doar, mas, encontra-se a coragem para pedir. Um dia, Marco devia trocar os fios do nosso apartamento, mas, entende que sozinho não conseguiria fazê-lo. Com uma atitude humilde pede ajuda ao vizinho que da porta da frente à nossa que, o ajudou com uma gentileza inesperada.
Certa vez, durante o verão, voltamos para casa à meia-noite. As crianças dormiam profundamente nos nossos braços. Diante do elevador já estão dois casais à espera e não demonstravam a menor intenção de deixar-nos subir antes deles, não obstante a “carga” que carregávamos. Com eles aconteceram discussões acerca da inoportunidade (na opinião deles) de que as crianças (nossos filhos) brincassem no pátio do condomínio. Entram no elevador. Enquanto esperávamos, soa o alarme: o elevador ficou bloqueado. A entrada do prédio estava deserta: com o calor que fazia todos estavam fora da cidade. O que fazer? Chamar os bombeiros ou a assistência técnica e, depois, colocar as crianças na cama e ficar tranquilos? Na verdade, eles não nos trataram bem. Mas, dentro do elevador a temperatura deve estar ficando fervente… Marco vai correndo até a cabine do motor e, com muito custo, consegue mover o elevador até o andar correto e libertar os “prisioneiros”.
Com os nossos vizinhos, fomos jantar fora e os pais deles, também nossos vizinhos, telefonaram para avisar que havia um grande vazamento de água no apartamento deles. Corremos de volta a casa. Abrira-se a tampa da máquina de lavar roupas e corria água descontroladamente. Resultado: dois centímetros de água em todo o apartamento, sem contar a que corria escada abaixo até à entrada do prédio. A situação parecia trágica pensando nos possíveis danos causados aos vizinhos do andar de baixo: recentemente eles haviam revestido o piso com tacos. Colocamo-nos à disposição para que as crianças dormissem na nossa casa. Os homens começaram a desviar o curso d’água para a sacada, enquanto que, as mulheres munidas de baldes e panos, enxugavam escadas e corredores, evitando assim, felizmente, o que se temia aos vizinhos.
Era já noite e, enquanto colocávamos em ordem a nossa sala, ouvimos gritos terríveis, no andar de baixo. No primeiro momento pensamos em não nos envolver. Mas, depois, Marco vai até lá. A porta do apartamento está aberta e ele entra com apreensão. Dois outros vizinhos mantinham energicamente, no chão, um jovem de 18 anos e o pai dele caminhava oscilante, com o olhar perdido. A mãe chorava desesperadamente dizendo que o filho queria jogar-se da sacada.
Outro vizinho mantinha a face coberta com as mãos: sofrera uma agressão do jovem que continuava a agitar-se, babando e com os olhos esbugalhados, repetindo ofensas. Ajudamos no que podíamos, consolando os pais e esperando a ambulância que transportou ao hospital aquele jovem no estado de overdose de maconha. Isso também pode acontecer em um condomínio». (Anna Maria e Marco, Itália)
Tratto da Una buona notizia. Gente che crede gente che muove – Città Nuova Editrice, 2012
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