Movimento dos Focolares

Com o foco na Ucrânia

Fev 12, 2015

Do ápice do protesto, em fevereiro de 2014, aos cinco mil mortos em um ano: a leitura da tragédia ucraniana e as perspectivas de fraternidade na voz do padre Mychayl, de Kiev.

20150212-aPadre Mychayl é um sacerdote grego-católico que vive a espiritualidade dos Focolares. Nas páginas de Cidade Nova ele ajudou-nos a acompanhar as vicissitudes de seu amado e devastado país. Um ano depois do início do conflito pedimos que fizesse uma leitura de tudo o que aconteceu. «Da revolta na Praça Maidan até o conflito no sudeste já se passou quase um ano, e até agora foram cinco mil mortos e mais de um milhão de refugiados. A guerra no Donbass já dura meses. O povo está morrendo, a infraestrutura entrou em colapso, centenas de milhares de pessoas estão fugindo. No patchwork dos territórios controlados por ucranianos e por separatistas, no caos dos grupos, comandantes em guerra entre si, exércitos mal armados e pior ainda treinados, poderia existir o efeito colateral de uma guerra de todos contra todos». Por isso, segundo o padre Mychayl, hoje, mais do que nunca, a Ucrânia precisa de educação à paz, onde todos são protagonistas: adultos e jovens, educadores e crianças, pais e filhos. «Uma pedagogia da paz simples mas envolvente, baseada na coerência entre teoria e prática, valores e experiências. A educação para afirmar a cultura da paz, a única que pode respeitar e responder às questões mais verdadeiras de todos, no sofrido caminho rumo à fraternidade universal na Ucrânia». Perguntado sobre os passos necessários para a Ucrânia, ele afirma: «Permito-me responder com o que disse Chiara Lubich em Londres, em 2004: “(…) Se deveria propor a todos os que atuam na política que formulassem quase um pacto de fraternidade pelo próprio país, que coloque o seu bem acima de qualquer interesse parcial, seja esse individual, de grupo, de classe ou partido. Porque a fraternidade dá oportunidades surpreendentes, ela consente manter juntas e valorizar exigências que, de outra forma, correm o risco de descambar em conflitos insanáveis. Harmoniza, por exemplo, as experiências das autonomias locais com o senso da história comum, consolida a consciência da importância dos organismos internacionais e de todos aqueles processos que tendem a superar as barreiras e realizam importantes etapas rumo à unidade da família humana”». Mas a crise ucraniana desencadeou, depois das guerras nos Balcãs, a maior onda de refugiados: mais de 900.000 apenas os refugiados internos. «Na cidade assediada de Donetsk não se pode mais viver uma vida normal. Os idosos – que testemunham pela segunda vez os horrores da guerra – morrem sem cuidados médicos ou tem que deixar suas casas. Muitos não recebem a pensão desde o verão. Em áreas controladas pelos separatistas encontra-se tudo, nas lojas e farmácias, mas o dinheiro não existe. Bancos e correios fecharam». Como reconstruir casas, ruas e aquelas pontes que não são somente ligações estruturais mas representam a cura de feridas invisíveis? «Não é algo fácil. Dar ajuda psicológica às populações atingidas é menos simples do que reconstruir ruas ou enviar ajudas humanitárias. Já há alguns anos os professores do Instituto Universitário Sophia, em cooperação com o Instituto Justiça e Paz Ucrânia, fazem cursos para formar os jovens, a fim de que deem a própria contribuição, como cidadãos, para a reconstrução do bem comum da Ucrânia». «Depois da onda de protestos e da guerra civil, o país precisa destas “Escolas de participação” que formam ao empenho civil e político, enraizados no contexto local; lugares onde se pode experimentar uma ação política fundamentada em valores compartilhados e nutridos pelo ideal da fraternidade universal. A Ucrânia, graças às manifestações da Praça Maidan, tornou-se uma verdadeira nação, um povo que quer construir a sua vida sobre os valores cristãos. Agora se trata de transformar os valores vividos durante os protestos na praça em atitudes concretas do cotidiano, assumir as expectativas e necessidades mais profundas do país para não cair definitivamente na apatia». A escolas de participação fornecem modelos interpretativos e propostas operativas voltadas à difusão da cultura da paz. «Um dos principais desafios da Ucrânia é a situação dos imigrantes internos, a integração deles em outras regiões da Ucrânia, e as consequências das hostilidades. A formação de conhecimentos e competências flexíveis, para promover o diálogo intercultural e inter-religioso, os direitos humanos, a mediação, a prevenção e a resolução dos conflitos, a educação à não violência, a tolerância, a aceitação, o respeito mútuo e a reconciliação, são os objetivos que queremos colocar no centro da educação do futuro».

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