Movimento dos Focolares

Entrar no jogo

Abr 9, 2008

Na encruzilhada: é o momento de enfrentar o mercado de trabalho. Segurança e sucesso ou colocar em risco o compromisso social?

O formulário para um pedido de cargo de professor que tenho nas mãos me diz que a vida de estudante já terminou. O item onde devo indicar o estado escolhido para trabalhar me inquieta. É melhor ficar na minha cidade, do sul da Itália, ou ir para outro lugar? Estou diante de uma escolha de vida. Muitos colegas meus escolhem o norte, para ter maiores possibilidades de trabalho e para se afastarem daquela realidade que muitas vezes vem à tona na crônica negra: ilegalidade, corrupção, criminalidade. Mas, muitas coisas me ligam à minha cidade! Não apenas a família, afetos, amigos, interesses, mas também a esperança de poder fazer alguma coisa, caminhando contracorrente, apesar dos meus limites. Volta à minha mente a exortação de Chiara aos jovens: “morrer pela própria gente”. Junto com um pouco de inconsciência, a idéia de ficar, arriscando encontrar menores chances de trabalho e “escolas difíceis”, cresce dentro de mim. Falo sobre o assunto em casa, com minha noiva, com os colegas. Anoitece e no dia seguinte devo enviar o formulário. A escolha está feita: eu fico. Na periferia e em zonas carentes existe mais possibilidade de trabalho, já que são lugares não muito almejados. Penso: “O que eu posso fazer nesses bairros, territórios de luta da camorra, onde se atira e se mata? Posso amar! Que Deus me ajude”. E assim indico algumas escolas de “fronteira” e outras de “elite”. Deus me mostrará onde deseja que eu esteja. Depois de alguns meses sou contratado com um cargo anual. Inacreditável, entro no mundo da escola pela porta principal, com o melhor contrato! No dia em que me apresento na escola as aulas são suspensas por causa de atos de vandalismo que ocorreram na noite anterior. Entendo logo que Deus me pegou pela palavra: chegou a hora da prova. O contexto é especial e o mal-estar social se faz sentir. Os dias passam entre momentos sofridos, quando parece que nada funciona e outros nos quais os olhos dos meninos se iluminam, me procuram, porque querem crescer e preparar-se para um futuro melhor. Agarro-me a esta esperança e o meu sofrimento encontra um sentido. Não sei se resistirei, porque às vezes é realmente duro enfrentar as gozações, obter respeito, falar de matemática, num contexto como esse. Mas sei que, momento por momento, posso procurar fazer com que Deus entre nas salas de aula, levá-lo nas repreensões, nas notas, nas conversas, nas disputas, nas explicações, nos silêncios, nas anotações na caderneta. Se Ele quis que eu estivesse aqui existe um porquê. (P.D. – Itália)  

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