Movimento dos Focolares

Espiritualidade da unidade: amor recíproco

Out 16, 2011

Reflexão sobre mais um ponto da espiritualidade da unidade: o amor recíproco. A descoberta do “mandamento novo” de Jesus, não como algo opcional, mas como o modo de ser e de apresentar-se ao mundo.

O Evangelho, que Chiara Lubich e suas primeiras companheiras liam nos refúgios antiaéreos, era uma descoberta contínua, no fundo era um livro que antes elas não conheciam, ninguém jamais havia falado naqueles termos. «Jesus age sempre como Deus. Pelo pouco que damos nos preenche de dons. Estamos sós, e nos vemos cercados por milhares de mães, pais, irmãos, irmãs, e carregados de todos os bens que se podem imaginar, para depois distribuí-los a quem não tem nada». A experiência fazia consolidar a convicção de que não existe nenhuma problemática humana que não encontre uma resposta, explícita ou implícita, naquele pequeno livro que traz palavras do céu. Os aderentes do movimento que estava nascendo adentravam e se nutriam delas, era uma reevangelização, experimentava-se que o que Jesus dizia e prometia se realizava, pontualmente. Chiara escreveu: «A guerra continuava, os bombardeios prosseguiam. Os refúgios não eram seguros suficientemente e podíamos nos encontrar logo diante de Deus. Tudo isso fazia com que no nosso coração surgisse um desejo, o de colocar em prática, naqueles momentos que poderiam ser os últimos da nossa vida, aquele que fosse o maior desejo de Jesus. Então nos lembramos do mandamento que Ele chama seu e novo: “este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-13)». A descoberta do “mandamento novo” as inflamou a tal ponto que o amor recíproco tornou-se como a sua “veste”, o próprio modo de ser. Era aquele amor que atraía pessoas de toda idade e classe social. Amar-se reciprocamente não era uma opção, mas uma forma de viver e de se apresentar ao mundo. Dizíamos que Jesus era como um imigrante que traz da própria terra os seus usos e costumes. Ao nos dar o “seu” mandamento, trouxe para a terra a lei do céu, que é o amor entre os Três, na Santíssima Trindade. Olhamos umas às outras e decidimos: “Eu quero estar pronta a morrer por você, e eu por você”. Todas, umas pelas outras. «Mas se devíamos estar prontas a dar a vida era lógico que, enquanto isso, precisava responder às muitas exigências que o amor fraterno solicitava, era preciso partilhar as alegrias, os sofrimentos, os poucos bens, as próprias experiências espirituais. Esforçamo-nos em viver assim, para que o amor recíproco reinasse entre nós, antes de qualquer outra coisa». «Um dia, no primeiro focolare, tiramos do armário as coisas que tínhamos, poucas e pobres, e as amontoamos no meio do quarto, para depois dar a cada uma o que lhe servia, e o restante aos pobres. Dispostas a colocar em comum o salário e todos os pequenos e grandes bens que tínhamos ou poderíamos vir a ter. Inclusive os bens espirituais. Até mesmo o desejo da santidade tinha sido posposto na única escolha, Deus, que excluía qualquer outro objetivo, mas incluía, obviamente, a santidade que ele havia previsto para nós». «E quando, pelas imperfeições que todas possuíamos, surgiram as óbvias dificuldades, decidimos não ver-nos com o olhar humano – que descobre a palha no olho do outro, esquecido da própria trave – mas com o olhar que tudo perdoa e esquece. E sentimos que o perdão recíproco era um dever, para imitar Deus misericordioso, tanto que entre nós propusemos uma espécie de voto de misericórdia, isto é, cada manhã, ao levantar-nos, nos víamos como pessoas “novas”, que nunca haviam caído naqueles defeitos».

___

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

Buscar a paz: um caminho nas mãos de cada um

Buscar a paz: um caminho nas mãos de cada um

Eliminar qualquer desejo de dominar. Em um mundo constantemente dilacerado por conflitos, seguindo o apelo do Papa Leão XIV para construir uma paz “desarmada e desarmante”, partilhamos uma reflexão muito apropriada de Chiara Lubich, extraída de uma Palavra de Vida de 1981.

Em direção a uma pedagogia da paz

Em direção a uma pedagogia da paz

Como nos tornarmos agentes de paz na realidade em que vivemos todos os dias? Anibelka Gómez, da República Dominicana, nos conta, por meio de sua experiência, como é possível formar redes humanas capazes de semear beleza para o bem de comunidades inteiras por meio da educação.

10 anos depois da Laudato Si’, o “Projeto Amazónia”

10 anos depois da Laudato Si’, o “Projeto Amazónia”

O dia 24 de maio marca os 10 anos da publicação da Encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco. Um momento de celebração, de verificação do que foi feito e de a retomar e dar a conhecer a quem ainda desconhece o seu conteúdo. Conscientes de que “não haverá uma nova relação com a natureza sem um ser humano novo. Não ha ecologia sem una adequada antropologia” (LS, 118) apresentamos o “Projeto Amazónia”, contado por dois jovens brasileiros durante o Genfest 2024 realizado em Aparecida, Brasil.