Movimento dos Focolares

Esporte pela paz

Out 7, 2004

Em Viena (Áustria), realizou-se o congresso de “Sportmeet”: estudiosos e atletas em diálogo por um esporte que eduque à paz, no Ano Europeu da Educação através do Esporte

Por uma cultura do esporte orientada à fraternidade universal O que podem ter em comum uma professora de esqui e um cronista esportivo? Um médico esportivo e um assistente social? Um instrutor e um professor de pedagogia? O denominador comum entre eles é o projeto Sportmeet, uma recente experiência internacional do Movimento dos Focolares, que surgiu no mundo do esporte: contribuir, cada um no seu campo, para criar uma cultura do esporte orientada à construção da fraternidade universal. Em Viena para “Educar-se e educar por meio do esporte” Por esse motivo reuniram-se em Viena, em meados de setembro para um congresso internacional (130 participantes de 17 países, 6 não-europeus) sobre o tema Educar-se e educar por meio do esporte. A União Européia decretou 2004 como Ano Europeu da Educação através do esporte, considerando-o – conforme se lê nos documentos da UE – “componente essencial da nossa sociedade”, capaz de transmitir “todas as regras fundamentais da vida social” e portador de valores educativos fundamentais, como “tolerância, espírito de equipe, lealdade”. Quando o esporte pode infundir tensão moral Mas diante das contradições do esporte de hoje, é possível dar-lhe tamanho crédito? “Assim como outras atividades humanas, o esporte é poliforme e ambivalente – admitiu na exposição de abertura Paolo Crepaz, médico esportivo e coordenador do projeto Sportmeet – é liberação de energias psicofísicas latentes, mas também se submete aos ídolos do prestígio e do lucro; é dom de si, mas também uma possibilidade de egoísmo e de afirmação; é um espaço de encontro, mas também de confronto”. A educação do corpo implica em proporcionar à corporeidade – expressão emblemática do esporte – as condições de mostrar e de dar acesso ao espírito. Mas quando o esporte tem condições de dar acesso ao espírito? “Quando é capaz de conferir, a quem o pratica, domínio de si, – explicou Crepaz – dos seus atos, meta esta que deve sempre ser atingida, e quando é capaz de atribuir à ação do atleta uma tensão moral”. Chiara Lubich: o esporte é capaz de revelar dimensões essenciais do homem Este foi o conceito frisado por Chiara Lubich na sua mensagem saudando os participantes: “O esporte pode revelar a dimensão essencial do homem, seja como ser finito, diante das dificuldades e derrotas, seja como ser chamado ao infinito, capaz de superar os próprios limites”. Mas quem sabe educar assim? “Como acontece na primavera, para que um jardim floresça – concluiu Chiara Lubich -, é necessário aquele calor que nasce do amor para fazer germinar as verdades que existem no homem. Numa atmosfera de amor recíproco, até experimentar as palavras de Jesus: ‘Onde dois ou mais estiverem reunidos no meu nome, ali estarei eu no meio deles’. Desejo que vocês possam fazer a experiência de ter Ele mesmo, Jesus, como mestre de vocês, inclusive no esporte”. Uma inversão de tendência que já está acontecendo no esporte. A lição dos mais jovens Os próprios participantes foram a confirmação de que, quem acredita nos valores do humanos, mesmo sem ter referenciais religiosos, pode partilhar e experimentar como pode ser educativo um sincero e profundo comportamento de confiança recíproca entre quem educa e quem é educado por meio do esporte. Nesse sentido,, numerosas reflexões e experiências concretas testemunharam uma inversão de tendência já viva e difundida no esporte, principalmente entre os mais jovens. Não tanto palavras, mas novos projetos esportivos em ação O congresso proporcionou principalmente o conhecimento de numerosos projetos esportivos com dimensões sociais que já estão sendo desenvolvidos, ao redor ou graças à Sportmeet. Um time de futebol formado por meninos de uma região delicada da periferia de Bogotà foi “adotado” à distância, graças à ajuda de um clube profissional do sul da Itália; o projeto de promoção esportiva SportFontem, iniciado na escola da Mariápolis da República dos Camarões, onde o Movimento dos Focolares está presente há tempo; Deporchicos, uma “mini Olimpíada” com reflexos esportivos e sociais em Buenos Aires; o planejamento da promoção esportiva como instrumento de resgate social na região de São Paulo, especialmente no bairro Jardim Margarida, em Vargem Grande Paulista; o projeto escolar Cafè con Leche, já em andamento numa região de periferia de Santo Domingo (República Dominicana), que se desenvolverá com a construção de um campo esportivo. Mas Sportmeet deu espaço, durante o congresso, também a outros projetos esportivo-sociais de valor, como o InterCampus, promovido pelo Inter de Milão, ou Vivas, Viver os valores do esporte, que surgiu por iniciativa de um professor de educação física de Piacenza (Itália), ou também O Grande Desafio, de Verona, sempre na Itália, um evento esportivo que evidencia a riqueza dos portadores de deficiências. Sports4Peace, na Áustria envolveu 20 mil jovens Entre os vários projetos, o mais interessante foi Sports4Peace, realizado justamente na Áustria, durante o último ano letivo 2003 – 2004. Participaram da iniciativa 20 mil jovens de várias escolas de segundo grau da Áustria, e que puderam experimentar um esporte que não movimenta apenas… bolas, mas um esporte que se torna caminho para uma sociedade solidária e orientada para a paz. Guiados por regras simples (jogar com seriedade, jogar honestamente, não desistir nunca, estar atento aos outros, jogar para jogar, fazer a diferença) impressas nas faces de um dado, expressões de uma única regra, a “regra de ouro”, presente em todas as religiões: “Faça aos outros o que gostaria que fosse feito a você”, os jovens envolvidos praticaram esportes, organizaram torneios, eventos esportivos e musicais, recolhendo assinaturas para a paz olímpica. Cada evento ou gesto esportivo vivido após jogar o dado, dava direito a “círculos olímpicos”. Cada passo para a paz, por meio de pequenas ou grandes ações de comunhão ou de perdão, levava à conquista dos “círculos de ouro”. Objetivo final: obter os 51 mil anéis olímpicos e anéis de ouro e envolver simbolicamente a superfície da terra com uma rede de paz. A iniciativa contou com o patrocínio e o apoio das maiores organizações esportivas e escolares da Áustria e de vários campeões do esporte, entre eles Ralf Schumacher, Hermann Mayer, Michael Walchhofer e outros, que acharam a idéia do dado muito original e eficaz. O projeto Sports4Peace revelou-se contagiante: depois do congresso de Sportmeet se difundirá em outros países. Cultura – Esporte – Paz: o interesse de professores universitários da Europa e do Brasil Os vários projetos esportivos apresentados por Sportmeet suscitaram o interesse particularmente de oito professores universitários, de várias Universidades (Viena, Innnsbruck, Teramo, Milão, Buenos Aires) e de várias disciplinas no campo do esporte, presentes no congresso justamente para aprofundar os laços possíveis entre esporte e paz.

___

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

Buscar a paz: um caminho nas mãos de cada um

Buscar a paz: um caminho nas mãos de cada um

Eliminar qualquer desejo de dominar. Em um mundo constantemente dilacerado por conflitos, seguindo o apelo do Papa Leão XIV para construir uma paz “desarmada e desarmante”, partilhamos uma reflexão muito apropriada de Chiara Lubich, extraída de uma Palavra de Vida de 1981.

Em direção a uma pedagogia da paz

Em direção a uma pedagogia da paz

Como nos tornarmos agentes de paz na realidade em que vivemos todos os dias? Anibelka Gómez, da República Dominicana, nos conta, por meio de sua experiência, como é possível formar redes humanas capazes de semear beleza para o bem de comunidades inteiras por meio da educação.