Movimento dos Focolares

Fevereiro de 2003

Jan 31, 2003

«Quem dera que hoje ouvísseis sua voz.» (Sl 95[94],7)

O salmo que traz esta Palavra de Vida nos lembra que nós somos o povo de Deus e que ele quer nos conduzir, do mesmo modo como um pastor conduz o seu rebanho, para introduzir-nos na terra prometida. Ele, que pensou em nós desde toda a eternidade, sabe como devemos caminhar para viver em plenitude, para atingirmos o nosso verdadeiro ser. No seu amor, ele nos sugere o que devemos fazer e o que não devemos fazer, e nos indica o caminho a ser percorrido.
Deus nos fala como a amigos porque quer introduzir-nos na comunhão consigo. Se alguém ouve a sua voz – diz o salmo na sua conclusão – entrará no repouso de Deus, ou seja, na terra prometida, na alegria do Paraíso.
Também Jesus se compara a um pastor que conduz cada um de nós à plenitude da vida. Ele fala e os seus discípulos, que o conhecem, escutam a sua voz e o seguem. A eles Jesus promete a vida eterna.
Deus faz ouvir a sua voz a cada pessoa. Quem nos lembra isso é o Concílio Vaticano II: “Na intimidade da consciência, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar, a fazer o bem e a evitar o mal, no momento oportuno a voz desta lei lhe soa nos ouvidos do coração: faça isto, evite aquilo. De fato, o homem tem uma lei escrita por Deus em seu coração (…)”.
E quando Deus fala ao nosso coração, o que é que devemos fazer? Devemos simplesmente dar ouvidos à sua Palavra, bem sabendo que, na linguagem bíblica, escutar significa aderir inteiramente, obedecer, adequar-se àquilo que é dito. É como deixar-se tomar pela mão e ser conduzido por Deus. Podemos confiar nele, como uma criança que se abandona à mãe e se deixa carregar nos seus braços. O cristão é uma pessoa guiada pelo Espírito Santo.

«Quem dera que hoje ouvísseis sua voz.»

Logo depois dessas palavras, o salmo continua: “Não endureçais vossos corações”. Também Jesus falou muitas vezes da dureza do coração. É possível opor resistência a Deus, é possível fechar-se a ele e recusar-se a ouvir a sua voz. O coração duro não se deixa modelar.
Às vezes nem sequer se trata de má vontade. O fato é que é difícil distinguir “aquela voz” no meio de tantas outras vozes que ressoam dentro de nós. Muitas vezes o coração está poluído por um excesso de ruídos ensurdecedores: são as inclinações desordenadas que conduzem ao pecado, a mentalidade deste mundo que se opõe ao projeto de Deus, as modas, os slogans publicitários… Bem sabemos o quanto é fácil confundir as próprias opiniões, os próprios desejos com a voz do Espírito em nós e, portanto, como é fácil cair no arbítrio e na subjetividade.
Não devo esquecer jamais que a Realidade está dentro de mim. Devo fazer calar tudo em mim para descobrir a voz de Deus. E é preciso extrair esta voz, do mesmo modo como se tira um diamante do lodo: limpá-la, colocá-la em luz e deixar-se conduzir por ela. Então poderei servir de guia também para outros, porque essa voz sutil de Deus, que incentiva e ilumina, essa seiva que sobe do fundo da alma é sabedoria, é amor; e o amor deve ser doado.

«Quem dera que hoje ouvísseis sua voz.»

Como podemos afinar nossa sensibilidade sobrenatural e nossa intuição evangélica para sermos capazes de colher as sugestões daquela voz?
Antes de mais nada temos que nos reevangelizar constantemente, freqüentando a Palavra de Deus, lendo, meditando, vivendo o Evangelho, de modo a adquirir sempre mais uma mentalidade evangélica. Aprenderemos a reconhecer a voz de Deus dentro de nós na medida em que aprendermos a conhecê-la nos lábios de Jesus: ele é a Palavra de Deus que se tornou homem. É uma coisa que podemos pedir na oração.
Depois, devemos deixar o Ressuscitado viver em nós, renegando a nós mesmos, declarando guerra ao egoísmo, ao “homem velho”, que está sempre à espreita. Isso exige uma grande prontidão em dizer “não” a tudo aquilo que é contra a vontade de Deus e “sim” a todo o seu querer; “não” a nós mesmos no momento da tentação, rompendo com as suas insinuações, e “sim” às tarefas que Deus nos confiou, “sim” ao amor para com todos os próximos, “sim” às provações e às dificuldades que encontrarmos.
Enfim, podemos colher com mais facilidade a voz de Deus se tivermos o Ressuscitado em nosso meio, ou seja, se amarmos até o ponto de o amor se tornar mútuo, criando em todo lugar verdadeiros oásis de comunhão, de fraternidade. Jesus no nosso meio é como que o alto-falante que amplifica a voz de Deus dentro de cada um de nós, permitindo-nos ouvi-la mais distintamente. Também o apóstolo Paulo ensina que o amor cristão vivido na comunidade se enriquece cada vez mais em conhecimento e em todo tipo de discernimento, ajudando-nos a distinguir sempre a melhor opção.
Então a nossa vida estará como que entre duas chamas, duas labaredas: Deus em nós e Deus entre nós. Nesta fornalha divina nós nos formamos e adestramos na arte de ouvir e seguir Jesus.
É bela uma vida guiada o mais possível pelo Espírito Santo. Ela tem sabor, tem vigor, é instigante, é autêntica e luminosa.

Chiara Lubich

 

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

Novo curso no CEG: encarnar a sinodalidade nas realidades em que vivemos

Novo curso no CEG: encarnar a sinodalidade nas realidades em que vivemos

No dia 03 de novembro de 2025, se iniciará a quarta edição do curso de formação para a sinodalidade organizado pelo Centro Evangelii Gaudium (CEG) do Instituto Universitário Sophia, intitulado “Práticas para uma Igreja sinodal”. Maria do Sameiro Freitas, secretária geral do CEG, moderadora do Curso de Formação para a Sinodalidade, responde nossas perguntas.