Movimento dos Focolares

Igino Giordani: as raízes da Europa

Nov 23, 2014

Na perspectiva da visita do Papa Francisco ao Parlamento europeu, publicamos um artigo de Igino Giordani, escrito em 1972, que põe em relevo o influxo espiritual do cristianismo sobre o processo de unificação do continente europeu.

IginoGiordani-01«Christopher Dawson, em The Making of Europe, escreve: “A influência do cristianismo na formação da unidade europeia é um impressionante exem­plo do modo com o qual o curso da história é modificado e determinado pela in­tervenção de novos influxos espirituais. Assim, no velho mundo, vemos que a artifi­cial civilização material do Império roma­no precisava de alguma inspiração religiosa, de uma espécie mais profunda daquela do culto oficial…”. Essa inspiração veio; e foi o cristianismo.

[…] Poder-se-ia dizer que as divisões reli­giosas, sancionadas pela norma: cuius regio eius religio, fossem concebidas sobretudo para consentir as divisões políticas, os isolamentos nacionais e, como corolário, as guerras. Na unidade religiosa os conflitos eram considerados fratricídios e havia o esforço para eliminá-los. Depois, na divisão da cristandade, os conflitos tornaram-se glórias nacionais. E todavia, nunca tendo desaparecido a con­sciência cristã e europeia, aquelas guerras na Europa, para muitos pareciam guerras intestinas. Porque a consciência da uniformização europeia nunca desapareceu.

Não basta uma burocracia comum

O russo Soloviov escreveu que a Igreja, como tinha unificado a Europa antes com os Franchi, depois com os Sassoni, hoje a teria reunificado com a justiça so­cial, ignorando as divisões de classe e casta e raça. Isto é, eliminando as maiores causas de conflito.

Justiça social significa aquela comu­nhão de bens espirituais e materiais, que a concepção cristã, pela qual os homens são todos filhos do mesmo Pai, iguais entre eles, propõe e suscita em vista da paz, no bem-estar e na liberdade. Pensar em obter esta ordem racio­nal apenas com a luta de classe equivale a repetir o erro do militarismo germânico, eslavo, etc, que pretendeu unifi­car a Europa apenas com as armas.

O cristianismo significa uma unificação na liberdade e na paz, com a eliminação das guerras e de todos os motivos de atrito.

A contribuição da religião, neste sentido, não é dirigida tanto à estruturação dos institutos quanto à formação dos espíritos.

Da religião surgem hoje dois impulsos unificadores: 1) o crescente sentido do Corpo místico; 2) o renovado ecume­nismo, pelo qual a unidade da Igreja pro­voca a unidade dos povos.

Dois impulsos, que, enquanto retificam correntes e eliminam paixões, de onde vem a vivissecção da Europa, suscitam energias espirituais capazes de dar uma alma a esta união política; de infundir uma inspiração sobrenatural a esta ope­ração humana; de tornar popular a instância da unidade. Se esta fosse reser­vada apenas a fatores econômicos e políticos e militares, iria à falência.

Para fazer a Europa não basta um exército comum ou uma burocracia comum. Não por nada os homens políticos tendem a inserir ideologias; isto é, tendem a dar ao corpo uma alma. A Europa já tem uma alma: o cristianismo, sua essência e sua gênesis».

Igino Giordani

(Città Nuova n. 5 de 10.3.1972 pp.23-23)

___

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Subscrever o boletim informativo

Pensamento do dia

Artigos relacionados

Em direção a uma pedagogia da paz

Em direção a uma pedagogia da paz

Como nos tornarmos agentes de paz na realidade em que vivemos todos os dias? Anibelka Gómez, da República Dominicana, nos conta, por meio de sua experiência, como é possível formar redes humanas capazes de semear beleza para o bem de comunidades inteiras por meio da educação.

10 anos depois da Laudato Si’, o “Projeto Amazónia”

10 anos depois da Laudato Si’, o “Projeto Amazónia”

O dia 24 de maio marca os 10 anos da publicação da Encíclica “Laudato Si” do Papa Francisco. Um momento de celebração, de verificação do que foi feito e de a retomar e dar a conhecer a quem ainda desconhece o seu conteúdo. Conscientes de que “não haverá uma nova relação com a natureza sem um ser humano novo. Não ha ecologia sem una adequada antropologia” (LS, 118) apresentamos o “Projeto Amazónia”, contado por dois jovens brasileiros durante o Genfest 2024 realizado em Aparecida, Brasil.

Bruxelas: 75 anos da Declaração Schuman

Bruxelas: 75 anos da Declaração Schuman

Para acompanhar a Europa na realização de sua vocação – após 75 anos da Declaração Schuman – na sede do Parlamento Europeu em Bruxelas, em um painel de especialistas, expoentes de vários Movimentos cristãos e jovens ativistas deram voz à visão da unidade europeia como instrumento de paz. Foi um encontro promovido por Juntos pela Europa e parlamentares europeus.